Chef Portugal ensina alta gastronomia para reclusas no Rio de Janeiro

Mundo Lusíada
Com Lusa

O ‘chef’ de cozinha brasileiro que fez o jantar dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil, nas comemorações em 2008, aposta agora no ensino da arte da alta gastronomia para reclusas numa prisão no Rio de Janeiro.

Camilo Portugal, 41 anos, criou o projeto “Temperando – uma vida com mais sabor” e tem o sonho de tornar suas alunas reclusas que vivem regime semiaberto em futuras auxiliares e até mesmo ‘chefs’ de cozinha.

Portugal aposta no talento de mulheres do sistema penitenciário para que o ajudem no seu mais novo empreendimento: criar um restaurante de alta gastronomia no Rio de Janeiro com pratos sofisticados e utilizando como mão de obra qualificada ex-reclusas dos regimes aberto e semiaberto.

“A finalidade é criar o restaurante Temperando sob a minha supervisão. As mulheres irão para o meu restaurante e aprenderão o ofício na cozinha, vão aprender desde o que é o ‘garde manger’ (profissional responsável pelas comidas frias), confeitaria, cozinha quente e também limpeza. No meu restaurante não terá nenhum funcionário de fora, serão todas reclusas”, disse à Lusa.

Enquanto o restaurante está sendo montado, Camilo Portugal resolveu iniciar as aulas básicas no próprio presídio.

Desde janeiro deste ano, as noções básicas de alta gastronomia já estão a ser dadas no Instituto Penal Oscar Stevenson, unidade prisional feminina com capacidade para 300 internas, na zona norte do Rio de Janeiro.

O curso é concorrido mas apenas 10 alunas são escolhidas para participar na turma. “Eu as deixo a par do que acontece no mundo da gastronomia e levo revistas atualizadas”, conta Portugal.

As aulas acontecem uma vez por semana. Já cedo as alunas esperam o professor para aprender dicas de culinária e segredos da alta gastronomia. “Hoje nós vamos fazer mil folhas de peixe com puré de batata doce ao molho de limão siciliano e azeite trufado”, anunciou Portugal.

O cozinheiro se apoia na ajuda da sua assistente e inspiradora do projeto, Renilda Maria de Paula, e tudo é muito econômico: fogareiro portátil de uma boca, uma pequena frigideira, uma panela maior, colher de pau, espátula e os ingredientes já todos cortados em pequenos potes, porque na prisão não é permitido entrar com facas.

“Vocês tem que colocar a criatividade para decorar o prato. A imagem valoriza o prato, isso é gastronomia e é o que vocês vão aprender. Primeiro cria-se o prato, desenha-se no papel e depois executa-se na cozinha”, explica o ‘chef’.

Contente com a reação das suas alunas, Camilo Portugal traça planos para quando a sua cozinha estiver pronta e as reclusas tiverem autorização para fazer o curso fora.

Até lá, a assistente de Portugal garante que cozinhar é o que mais gosta de fazer e anseia por conseguir a progressão do regime para fazer o curso fora.

“O curso é muito importante para mim, vejo a perspetiva de trabalhar. Toda semana fico na expetativa da próxima aula. O nosso sonho é sair direto para cozinha com o Camilo”, diz Renilda de Paula. “Já tenho ideia de criar um prato meu”, diz a aspirante a ‘chef’.

A diretora da unidade prisional, Mirene Moura da Silva, por sua vez também apoia a iniciativa justamente pela dificuldade de reingressar no mercado de trabalho após cumprir a pena.

“O ‘chef’ visa a qualificar as internas para que elas possam retornar para a sociedade com um conhecimento e um ofício. Para quem passou pela prisão é tudo muito difícil ter oportunidade”, afirmou.

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