Cerimônia de juramento de Guterres é para Portugal “um momento único”

Mundo Lusíada
Com agencias

antonioguterresonuO secretário-geral designado das Nações Unidas nesta segunda-feira prestou seu juramento de posse na sede da ONU. O português António Guterres começa a exercer o cargo oficialmente no dia 1º de janeiro. A cerimônia de juramento aconteceu no saguão da Assembleia Geral, António Guterres fez juramento com a mão esquerda sobre a Carta das Nações Unidas.

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, esteve na ONU acompanhando o evento, ao lado do primeiro-ministro António Costa. Guterres foi escolhido para ser o próximo secretário-geral da ONU em outubro, por aclamação pelos 193 países-membros da organização.

A cerimônia de juramento do secretário-geral é para Portugal “um momento único”. “É irrepetível”, declarou o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, à Rádio ONU, que enalteceu o serviço e o percurso pessoal de Guterres.

Em declarações aos jornalistas, o chefe de Estado fez questão de cumprimentar em primeiro lugar o Governo, tendo ao seu lado o primeiro-ministro, António Costa. “Felicitar todos os portugueses porque trata-se de um dia de unidade nacional, cumprimentar o primeiro-ministro, porque o Governo teve um papel essencial”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, que fez questão de estender essas felicitações aos ausentes ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e embaixador português junto das Nações Unidas, Álvaro Mendonça Moura.

O chefe de Estado estendeu ainda os cumprimentos “ao líder da oposição”, o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, e aos partidos com assento parlamentar.

“Não escondo um toque pessoal, sendo amigo de António Guterres desde os 18/19 anos, andamos em muitas lutas, ele sempre o melhor, sempre a pensar salvar o mundo, nunca pensamos que 46 anos depois ele estaria mesmo em posição de salvar o mundo”, afirmou Marcelo. “Mais nenhum português teria conseguido este êxito que não é um êxito nacional, é um êxito universal”.

Do Brasil, o embaixador Mauro Vieira falou sobre a grande experiência de Guterres em política doméstica e em política internacional, além do “grande conhecimento que tem sobre as Nações Unidas”. Segundo o embaixador brasileiro, é importante que em 2017 a organização progrida nos temas reforma da ONU e crise dos refugiados.

Resolução de conflitos
Em seu discurso, o novo secretário-geral das Nações Unidas declarou-se preparado para se envolver pessoalmente na resolução de conflitos, destacando a necessidade de “fazer mais” nesse sentido, mas acentuou a importância de apostar na prevenção.

“Estou preparado para me envolver pessoalmente na resolução de conflitos onde isso trouxer um valor acrescentado, reconhecendo o papel de liderança dos Estados-membros”, declarou António Guterres, num discurso após ter prestado juramento sobre a Carta das Nações Unidas, perante a assembleia-geral da ONU.

“A prevenção é o que os fundadores das Nações Unidas nos pediram para fazer. É a melhor forma de salvar vidas e de reduzir o sofrimento humano. Onde a prevenção falha, devemos fazer mais para resolver conflitos”, considerou. Na resposta a “crises graves” como as da Síria, Iémen e Sudão do Sul ou a “disputas longas” como o conflito israelo-palestiniano, são necessárias “mediação, arbitragem e diplomacia criativa”.

Na sua intervenção, Guterres falou em inglês, francês e espanhol. E afirmou que as “Nações Unidas nasceram da guerra e hoje, devem estar aqui para a paz”, abordando suas três prioridades: paz e segurança, desenvolvimento sustentável e reforma das Nações Unidas.

António Guterres disse que os conflitos se tornaram mais complexos e interligados do que nunca e produzem “terríveis” violações das leis internacionais e de direitos humanos. O próximo chefe da ONU declarou que as pessoas estão sendo forçadas a fugir de suas casas numa escala jamais vista em décadas e alertou para uma nova ameaça, o terrorismo global. Ele citou ainda mudança climática, crescimento da população, rápida urbanização, insegurança de alimentos e escassez de água.

Progressos
Segundo Guterres, nos últimos 20 anos foram alcançados progressos tecnológicos extraordinários, a economia global cresceu e os indicadores sociais básicos melhoraram. Além disso, a proporção de pessoas que deixaram de viver na pobreza caiu drasticamente. Mas que a globalização e o progresso tecnológico contribuíram para o aumento das desigualdades.

O novo chefe da ONU declarou que muitas pessoas acabaram ficando para trás, incluindo nos países em desenvolvimento, onde empregos desapareceram e novos postos de trabalho estão fora do alcance de muitos. Guterres afirmou que o desemprego entre os jovens “explodiu” e a globalização também ampliou o alcance do crime organizado e do tráfico, com “o medo “está comandando as decisões de muitas pessoas em todo o mundo”.

Falando em francês, o próximo secretário-geral disse que “a prevenção exige lidar com as causas do problema entre os três pilares das Nações Unidas: paz e segurança, desenvolvimento sustentável e direitos humanos”.

Ele afirmou que “a proteção e a autonomia de mulheres e meninas são fundamentais. Igualdade de gênero é a chave para o desenvolvimento”.

Guterres declarou que em crises graves, como na Síria, Iêmen, Sudão do Sul, entre outros e em longas disputas como o conflito entre israelenses e palestinos são necessários mais esforços de mediação, arbitragem e o que chamou de diplomacia criativa.

O português citou ainda que a ONU “não fez o suficiente para prevenir e responder a crimes de violência e exploração sexual cometidos por tropas de paz”. Ele prometeu trabalhar conjuntamente com os países-membros na criação de medidas estruturais, legais e operacionais para tornar realidade a política de tolerância zero da organização.

Guterres encerrou o discurso prometendo respeitar a paridade de gênero até o final de seu mandato, em 2021. Ele disse que “todos nós vivemos em um mundo complexo e que as Nações Unidas não podem fazer tudo sozinhas”. Para o próximo secretário-geral, “a parceria deve ser parte central da nova estratégia”.

Guterres quer que o mundo, que será herdado pelas crianças, seja definido pelos valores consagrados na Carta da ONU: paz, justiça, respeito, direitos humanos, tolerância e solidariedade. Segundo ele, o dever de todos é trabalhar em conjunto para acabar com o medo mútuo e transformá-lo em confiança mútua.

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