Mundo Lusíada com Lusa
Nesta terça-feira, no parlamento português, a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, anunciou que a companhia aérea vai operar voos do Porto para Nova Iorque e para o Brasil, no inverno.
“Podemos confirmar que vai haver voos do Porto para Nova Iorque e para o Brasil”, adiantou a responsável, em resposta às questões dos deputados da comissão eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 e do processo de recuperação econômica e social.
“Os restantes voos vão ser analisados e decididos numa base casuística. Estou a falar dos voos de longo curso que servem também para alimentar o ‘hub’ de Lisboa”, acrescentou a presidente executiva, depois de ter sido questionada sobre o desinvestimento da TAP no aeroporto do Porto nos últimos anos.
Quanto à abertura das fronteiras aéreas com o Brasil, em 16 de setembro, Christine Ourmières-Widener sublinhou que o país tem quase o mesmo peso que Portugal nas vendas da TAP, demonstrando assim a sua importância. A previsão para o mercado brasileiro é disponibilizar 52 voos semanais em 12 rotas que vão ser operadas.
Questionada sobre a ausência de Porto Santo, na Região Autónoma da Madeira, do plano de rotas para o inverno, a responsável argumentou que a decisão foi tomada com base em estudos de mercado, mas que poderá ser feita uma reavaliação, caso surjam novas informações.
“Até ao momento, a informação que temos não nos permite operar esta rota, este inverno”, apontou.
Já relativamente à Venezuela, que proibiu a TAP de voar para aquele território, Christine Ourmières-Widener admitiu que se trata de uma situação complicada, embora não esteja “nas mãos” da companhia aérea resolvê-la.
“Eles têm uma série de exceções, como o caso do Natal, e nós vamos usá-las ao máximo para ir ao encontro das necessidades das comunidades” portuguesas naquele país, explicou a presidente executiva.
Questionada sobre um acordo de ‘codeshare’ [partilha de venda de bilhetes] com a JetBlue, de David Neeleman, antigo acionista da TAP, que teve início em 2016, a responsável esclareceu que há um acordo que está a ser revisto. “A nossa intenção é sermos mais proativos e aumentar as nossas receitas”, adiantou, em relação ao acordo.
“Quanto a quem fala do desaparecimento da TAP, eu, enquanto especialista, não posso apoiar esse desaparecimento, porque a TAP serve destinos críticos para o país, não só nas ilhas, mas na diáspora espalhada pelo mundo”, defendeu a responsável.
“Isto é uma missão que nós queremos cumprir de forma rentável e sustentável. Este serviço faz parte da nossa natureza. É preciso não esquecer que representamos comunidades que estão ligadas a um país por uma companhia aérea”.
Christine Ourmières-Widener citou também um estudo realizado a pedido da TAP, que indica que a empresa venha a ter um impacto de 10 mil milhões de euros no Produto Interno Bruto (PIB) português até 2030.
Arregaçar mangas
A presidente executiva garantiu que todos os membros da sua equipe já “arregaçaram as mangas para trabalhar” na recuperação da companhia, embora não se consiga estimar quanto tempo será preciso, dada a extensão dos dados.
“Na TAP, todos os membros da minha equipa já arregaçaram as mangas para trabalhar”, afirmou Christine Ourmières-Widener, perante os deputados. Este é o primeiro ato público de Christine Ourmières-Widener, que assumiu o cargo em 25 de junho, substituindo Ramiro Sequeira, que assumiu a presidência executiva interinamente depois da saída de Antonoaldo Neves.
A engenheira aeronáutica francesa de 56 anos tem em mãos a tarefa de executar o plano de reestruturação da companhia aérea, proposto à Comissão Europeia em dezembro do ano passado, mas que ainda não recebeu ‘luz verde’.
Christine Ourmières-Widener admitiu que a procura por viagens aéreas estagnou a tal ponto, devido à pandemia de covid-19, que é difícil compreender a extensão dos danos e quanto tempo demorará a recuperação.
“As repercussões na TAP têm um efeito sistêmico. […] Não me cansarei de repetir que a TAP era o garante de circulação estimada em mais de 3 biliões de euros na economia portuguesa”, acrescentou a responsável, lembrando que, em 2019, a TAP comprou cerca de 1.000 milhões de euros a mais de 1.000 empresas nacionais.
A presidente executiva recordou ainda que, antes da crise da provocada pela pandemia, a companhia aérea “contribuía de forma significativa para o desenvolvimento do setor do turismo”, ajudando também para a redução da balança comercial.
No entanto, devido às restrições à mobilidade adotadas para conter a propagação do coronavírus, a transportadora registrou, em 2020, cerca de menos 12 milhões de passageiros, o que corresponde a uma descida de mais de 70%, comparativamente a 2019.
Futuro
Christine Ourmières-Widener ainda afirmou que a companhia vai apoiar “todos os cenários que permitam um futuro risonho para a Groundforce”, na assembleia de credores da próxima semana.
“A TAP tem apoiado a Groundforce em tempos difíceis, garantindo que os seus trabalhadores recebem o salário no final do mês. […] É um parceiro estratégico porque trata do nosso ‘handling’ no nosso ‘hub’ [Lisboa] e queremos que seja uma empresa forte e eficiente e é por isso que na assembleia de credores vamos estar atentos e apoiar todos os cenários que permitam um futuro risonho para a Groundforce”, disse a responsável, em resposta aos deputados.
A assembleia de credores da Groundforce, que viu a sua insolvência decretada por um tribunal de Lisboa no mês passado, está marcada para o dia 22 de setembro, confirmou à Lusa fonte sindical.
A sentença, a que a Lusa teve acesso, nomeou dois administradores judiciais e deu 30 dias aos credores para apresentarem a sua reclamação de créditos, mas já elenca quem são os maiores credores.
De acordo com o documento, excluindo a TAP, que foi quem pediu a insolvência, a Groundforce devia, em 30 de junho, 13,5 milhões de euros a cinco credores: ANA (12,8 milhões de euros), Prosegur (177 mil euros), Iberlim (140 mil euros), UCS (125 mil euros), Climex (126 mil euros), MEO (52 mil euros) e Eurest (49 mil euros).