Da Redação com Lusa
Neste 02 outubro, centenas de bombeiros sapadores fardados ocuparam as escadarias da Assembleia da República, em Lisboa, enquanto a polícia formava um cordão à entrada do parlamento. Foram chamados reforços da Unidade Especial de Polícia da PSP.
Ao fundo da escadaria, os manifestantes incendiaram vários pneus e queimaram um fato de trabalho dos bombeiros.
Às 13:20, um caixão branco foi levado em braços para a porta do parlamento enquanto os manifestantes gritavam a palavra vergonha, responsabilizando os decisores políticos pela situação da classe.
À frente das centenas de sapadores fardados, um grupo de manifestantes envergava camisetas negras com a inscrição “Sapadores em Luta”.
Uma cruz de Cristo e tarjas com frases como “bombeiros sapadores em luta. Esqueceram-se de nós!… outra vez…” ou “sabes quem vai salvar o teu filho” estavam colocadas à frente do protesto.
Alguns manifestantes desafiaram os deputados, o primeiro-ministro e o Presidente da República a fazerem uma ‘selfie’ no cenário da manifestação, junto aos sapadores.
Durante o protesto, os manifestantes cumpriram um minuto de silêncio, em homenagem aos bombeiros que morreram nos incêndios do mês passado no centro e norte do país.
O rebentamento de vários petardos marcou o início da manifestação, um protesto ruidoso que começou ao meio-dia com latas de fumo e ao som de heavy metal e rock n’roll.
Cerca de 20 minutos depois, alguns bombeiros, fardados, forçaram a subida da escadaria da Assembleia da República.
Apesar da ordem policial para descerem, os bombeiros continuaram a formar e a libertar fumos de foguetes, acabando por se sentar nos degraus.
Às 12:30 cantaram o hino nacional, depois de terem gritado uma única palavra de ordem: “Sapadores”.
Em declarações à Lusa, o presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores, Ricardo Cunha, afirmou que não estava prevista esta forma de protesto.
Acrescentou, no entanto, que a organização esperava mais de mil bombeiros na ação de protesto: “Só de fora [de Lisboa] vêm 600”.
Os sapadores lutam por uma regulamentação do horário de trabalho, pela reforma aos 50 anos e por um regime de avaliação específico, entre outras condições de trabalho.
Negociação
A ministra da Administração Interna mostrou-se hoje confiante de que as negociações que estão a decorrer com os bombeiros vão chegar “a um bom termo”, mas recordou que os sapadores “dependem das autarquias” e “não do Estado”.
“Os bombeiros sapadores que estão a manifestar-se em frente à Assembleia da República são bombeiros cujo patrão não é Estado, são bombeiros que dependem das autarquias”, disse aos jornalistas Margarida Blasco, numa declaração sem direito a perguntas no Palácio de São Bento.
A ministra salientou que as revindicações dos bombeiros sapadores duram “há 22 anos” e “estão a tentar e vão conseguir ter um estatuto do bombeiro”.
Margarida Blasco avançou que neste momento estão a decorrer negociações, tendo a última reunião acontecido na última sexta-feira.
Segundo a ministra, as negociações “estão a decorrer a um bom ritmo”. “Estão a decorrer várias negociações no sentido de chegarmos a um bom termo, a um bom porto, relativamente ao estatuto dos bombeiros”, disse.
A ministra disse ainda que é à mesa negocial que se fazem “estas conversações” e se “fazem os acordos”, recordando que este Governo já negociou e chegou a acordo com as forças de segurança, guardas prisionais, Forças Armadas, enfermeiros e oficiais de justiça.
Margarida Blasco deixou ainda “uma palavra de apreço” aos elementos da PSP “pela maneira como mantiveram a paz pública em frente a um órgão de soberania”.
A manifestação de hoje foi promovida pelo Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS) e envolveu a participação de centenas de bombeiros sapadores de todo o país que reclamam \”um aumento salarial para compensar a subida da inflação, idêntico ao que foi dado em 2023 pelo anterior Governo aos polícias, e um subsídio de risco semelhante ao que foi dado às forças de segurança.
Ao longo do protesto, os manifestantes derrubaram as barreiras colocadas pela PSP.
Vários deputados associaram-se à luta dos bombeiros sapadores, tendo saído do interior da Assembleia da República e descido a escadaria.
Foi o caso de Mariana Leitão, da Iniciativa Liberal, Alfredo Maia, do PCP, a líder do PAN, Inês Sousa Real, e Fabian Figueiredo, do Bloco de Esquerda, e André Ventura, do Chega.
Dentro do parlamento, também os deputados André Rijo, do PS, Rui Tavares, do Livre, e Hugo Soares, do PSD, prestaram declarações aos jornalistas sobre o assunto.
Já a PSP rejeitou hoje que tenha havido falhas no planeamento do dispositivo de segurança para a concentração dos bombeiros sapadores na Assembleia da República, embora admitindo imprevistos que obrigaram ao desvio de meios.
Segundo explicou Manuel Gonçalves, a PSP faz, antes de cada manifestação, “uma avaliação prévia”, com base no histórico das manifestações organizadas pelo mesmo grupo de pessoas, sendo que os bombeiros sapadores já tinham estado no mesmo local “há várias semanas e sempre de forma pacífica, ordeira”.
“Nós partimos também do princípio, em função do histórico, que esta também seria, mas preparados para intervir em caso de necessidade”, frisou.
No entanto, Manuel Gonçalves salientou que, do contingente inicial que tinha sido mobilizado na Assembleia da República, alguns meios tiveram de ser desviados para desfiles dos bombeiros sapadores que não estavam previstos, que incluiu designadamente o reforço de segurança junto à sede do PS no Largo do Rato.