Celebrar o dia do Pai. Um Tributo à Sociedade

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Existem acontecimentos na vida de uma pessoa que constituem o que de mais elevado, nobre e responsável se pode vivenciar, por várias décadas, ou por poucos momentos, dias, semanas, meses e anos, sendo certo que a partir de um dado instante, se assume um compromisso para a vida, pelo menos enquanto durar o vínculo que une, na circunstância, Pai e filhos.

Todos os anos, no dia dezanove de março, celebra-se o “Dia do Pai”. Claro que qualquer pessoa argumenta, e com razão, que Dia do Pai, deveriam ser todos os segundos, minutos e horas de cada dia, semana, mês e ano, no entanto, penso que se pretende, com a fixação de um dia no ano, prestar uma homenagem a todos os Pais, Homens, principalmente àqueles que, por motivos diversos, não têm conseguido usufruir da presença, do acompanhamento, compreensão e amor de e para com os filhos. A importância do Pai presente é vital.

Celebrar o Dia do Pai que, tradicional e catolicamente, se associou ao dia de S. José, é, efetivamente, um tributo que a sociedade presta a quem tem o privilégio, mas, igualmente, a responsabilidade de ser Pai, independentemente de ser pela via natural/biológica artificial ou adotiva.

Atualmente, primeiro quarto do século XXI, a condição de Pai, perante uma família constituída em moldes tradicionais: uma mulher e um homem, estruturada e comungando de regras, valores, sentimentos e boas-práticas, não será muito fácil, se este progenitor assumir posições de prepotência, intolerância e insensibilidade para com os seus filhos, os quais, naturalmente, carecem, cada vez mais, de Pais presentes, unidos, carinhosos, amigos, companheiros, defensores, protetores e cúmplices.

Desempenhar as funções de Pai, numa sociedade complexa, consumista e plena de solicitações, através de agressivos incentivos à aquisição de bens e produtos, para com todas as pessoas em geral e, particularmente, em relação às crianças, adolescentes e jovens, é muito difícil e, não raro, impossível de cumprir integralmente, sob pena de vir a abrir precedentes nocivos, a uma correta educação dos filhos

Naturalmente que uma família sólida, portadora de normas de conduta exigentes e rigorosas, a educação e formação dos filhos é da responsabilidade conjunta da Mãe e do Pai, sem dúvida alguma, porém, há situações que são mais apropriadas para o Pai esclarecer e, se necessário, resolver perante os filhos e, outras que são mais adequadas para a mãe elucidar  e solucionar, junto das suas filhas, todavia, o essencial, o que deve ser interiorizado pelos filhos, independentemente do género, é sempre transmitido, complementar e simultaneamente, pelos dois progenitores.

Antes de se entrar numa análise positiva ao papel do Pai, ainda que sob um prisma subjetivo, importa ressaltar que, na sociedade contemporânea, existem situações muito diferenciadas e, também, incompatíveis entre elas, porque: tanto se pode detetar comportamentos hostis de filhos para com o Pai; como atitudes de rejeição de Pais masculinos para com os próprios filhos biológicos; e, ainda conflitos entre a Mãe e o Pai, cujas consequências mais graves recaem, muitas vezes, nos próprios filhos.

De facto, no primeiro caso, há filhos que, por motivos diversos, desde os mais mesquinhos e egoístas, aos mais autenticamente legítimos e legais, levam a que um ou outro filho, qualquer que seja o género, se afaste e, em algumas circunstâncias, maltrate o próprio Pai, inclusive, com recurso à violência física até à morte, de um ou dos dois procriadores.

Na segunda hipótese, rejeição do Pai para com os filhos, aqui poderá haver, também, algumas situações que, inadvertidamente, levam tais Pais a cometerem faltas graves, desde logo: quando verificam que os filhos não lhes têm respeito, e não haver razão plausível para este comportamento; bem como quando os filhos não têm a paternidade definida e há suspeitas de que o Pai biológico pode não ser, efetivamente, e de direito, o que coabita com a mãe desse filho, não querendo este Pai assumir, com amor e compreensão, a autoria  biológica, de um filho que lhe suscita dúvidas, quanto à autenticidade da respetiva filiação.

Finalmente, uma outra situação, cada vez mais frequente, que resulta de conflitos entre Pai e Mãe e a posterior separação litigiosa. Este desfecho, que tem vindo a aumentar e que, por vezes, conduz à consumação de atos vigorosos de força, como o homicídio, normalmente, precedido de violência doméstica, por longos períodos de tempo, produz um efeito extremamente pernicioso sobre os filhos, os quais, quando ainda crianças, são retirados, judicialmente, aos Pais e entregues a familiares idosos, normalmente os avós, ou a instituições de acolhimento.

 

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico e Letras e Artes de Portugal

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