O caso d’O FADO DA SECRETA, por cujos andamentos se acabou por envolver o ministro Miguel Relvas, está transformado numa fantástica barafunda. E, de quanto pôde já ver-se, tudo o que tem vindo a lume até agora constitui indícios de uma dupla realidade: por um lado, algo sem real importância; por outro, algo que a poderia, aparentemente, vir a ter. É uma espécie de conjunto vazio, mas com ingredientes suscetíveis de poder dar em universo.
Este caso, para lá do que possa vir a ser dado como provado pelas entidades competentes, tem, no mínimo, duas partes: Miguel Relvas e a realidade hoje a ser debatida. Uma realidade que poderia estar a ser debatida em torno de outro nosso concidadão e num outro qualquer Governo. Vejamos, pois, um pouco do que posso aqui dizer sobre estas duas realidades.
Miguel Relvas, como é bem sabido, teve sempre anticorpos ao nível do seu próprio partido. Anticorpos que são conhecidos, sobre os quais me referi amiúde, e de que também escrevi a propósito do ambiente que rodeou a própria tomada de posse deste Governo. De resto, esta realidade estendeu-se, por igual, a comentadores, políticos e jornalistas. Conhece-se o modo insidioso como se tem vindo a alimentar a ideia de que é Relvas que manda no Governo e não Pedro Passos Coelho. E também a historieta de que se terá discutido, há um bom tempo atrás, quem possuiria maior fator de atração junto dos portugueses, se Relvas, se Passos Coelho.
A esta evidente realidade – haverá quem a não conheça? – juntou-se a notícia vinda a público sobre a sua pertença à Maçonaria, que começou a desenvolver-se ao tempo do início das mudanças na estação pública de televisão. A partir daí, o caso Relvas foi-se somando, quase fazendo lembrar uma série – como na Matemática –, com novos episódios a cada dia, muitas vezes contados por fontes longe de se nos mostrarem razoavelmente credíveis.
E convém notar – não pode passar ao lado de quem quer decidir-se neste caso – que o tema da Maçonaria, a propósito d’O FADO DA SECRETA, passou a ser quase como uma Al Qaeda nacional para a nossa grande comunicação social. E o caso até se nos torna hoje gracioso, porque as notícias que nos chegaram pelo final desta semana sobre os últimos escândalos que varrem o Centro do Catolicismo, de facto, deixam esta nossa Loja Mozart a anos-luz do que agora se soube sobre o Vaticano. Chega a tornar-se ridículo.
Para lá de Miguel Relvas, porém, existe a realidade hoje a ser debatida. Ora, essa realidade, como se pode perceber, assenta sempre, em última análise, n’O FADO DA SECRETA. Mas basta conhecer um ínfimo deste fadinho – e então nos dias de hoje…–, para logo se perceber que tudo o que se tem vindo a contar tem uma designação bastante apropriada: nada. É uma historieta sem real valor, o que não quer dizer – eu duvido – que não pudesse vir a assumir contornos mais perigosos. Ainda assim, e como refiro antes – e há a evidência sequencial dos acontecimentos conhecidos –, tudo daria sempre em nada, mesmo que uma qualquer arquitetura mais afinada pudesse ser levada mais longe.
O que agora está a decorrer é o natural processo gaussiano, porventura muito espraiado, que se vai mantendo por via da grande comunicação social e enquanto outras realidades não se imponham às agendas. Em concreto, e de realmente útil, o que existe hoje é praticamente nada. Mas será, isso sim, revelador de algum impensável amadorismo.
Por fim, de novo o ministro. Não o conhecendo pessoalmente, tenho para mim que Miguel Relvas terá um temperamento que designo aqui por sanguíneo, vivendo sob alguma tensão própria em situações desagradáveis ou que considere injustas, sejam-no ou não. Bom, na política, isso tem riscos, porque há coisas, até sem mal, e muito menos ditas com verdade, que depois, uma vez ditas, se tornam irreversíveis e podem ser usadas contra quem tem estas caraterísticas. Simplesmente, também aqui o que tem vindo a lume me parece estranho, porque se o tema em causa é o referido por Fernanda Câncio na sua intervenção na TVI 24, não consigo compreender que arma poderia ser essa! Faz-me lembrar o Irão e o seu (suposto) armamento nuclear: para que lhe serviria?! O que tudo isto é, isso sim, é uma fantástica barafunda! Mas que serve para ir passando o tempo noticioso, uma vez que as conversas destes dias só incidem sobre o polvo de cujos contornos se sabe hoje já muitíssimo bem. Ninguém liga a esta historieta d’O FADO DA SECRETA.
Por Hélio Bernardo Lopes