Caso Mensalão: Advogado diz que réu foi a Lisboa comer “pastéis de Belém”

Segundo o Ministério Público, Rogério Tolentino e Marcos Valério foram a Portugal para reunir com o presidente da Portugal Telecom e acionista do Banco do Espírito Santo.
Da Redação
Com Portugal Digital

Rogério Tolentino, advogado e colaborador de Marcos Valério, um dos principais envolvidos no processo do mensalão, foi a Lisboa fazer turismo “remunerado”, comer “pastéis de Belém” e não negociar alegada doação da Portugal Telecom, no valor de 8 milhões de euros, para pagamento de dívidas de campanha eleitoral do Partido dos Trabalhadores.

A afirmação, de 8 de agosto, no julgamento que decorre no Supremo Tribunal Federal, em Brasília, foi o advogado do réu, Paulo Sérgio Abreu e Silva. “Ele foi fazer turismo remunerado (…) ele não foi negociar absolutamente nada”, afirmou.

O advogado de defesa afirmou que Tolentino foi a Lisboa com Marcos Valério na qualidade de advogado, para o caso de ser necessária alguma assessoria jurídica à SMP&B [empresa de Marcos Valério], mas que não teria participado sequer da reunião com tais dirigentes [da Portugal Telecom], pois não teria surgido questão jurídica a ser solucionada por ele.

A acusação apresentada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no segundo dia do julgamento, diz o contrário.
Segundo o Ministério Público, Rogério Tolentino e Marcos Valério foram a Portugal para reunir com o presidente da Portugal Telecom e acionista do Banco do Espírito Santo, Miguel Horta e Costa.

Cerca de duas semanas antes, no dia 11 de janeiro, o presidente do Banco Espírito Santo, Ricardo Espírito Santo, acompanhado de Marcos Valério, visitou o ex-ministro José Dirceu no gabinete deste, no Palácio do Planalto, em Brasília.

A audiência realizou-se duas semanas antes da viagem a Portugal de Marcos Valério, acompanhado do então tesoureiro do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Emerson Palmieri, para um encontro com Miguel Horta e Costa.

Segundo a acusação do Ministério Público, a Portugal Telecom estava interessada, na época, na aquisição da operadora de telefonia móvel no estado de Minas Gerais, Telemig, e José Dirceu, então ministro chefe da Casa Civil do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estaria a intermediar a negociação. A acusação sustenta que José Dirceu – a quem atribui a liderança da “quadrilha” do mensalão -, teria negociado com Miguel Horta e Costa uma doação, destinada ao Partido dos Trabalhadores.

Além da participação na operação da alegada doação da Portugal Telecom, Rogério Tolentino também é acusado de participação em “falsos” empréstimos feitos pelo banco BMG, de Minas Gerais, a empresas de publicidade de Marcos Valério, mas que, na realidade, se destinavam à compra de apoio de parlamentares ao governo Lula, no seu primeiro mandato.

Rogério Tolentino, advogado por mais de duas décadas das empresas de Marcos Valério, é acusado de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. Ele “esteve lado a lado com Marcos Valério em praticamente todos os episódios da trama criminosa descrita na denúncia”, de acordo com a acusação apresentada pelo Ministério Público.

O maior escândalo conhecido de corrupção nos governos de Lula da Silva (2003-2010), o “mensalão’, começou a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro em 2 de agosto. O processo do mensalão envolve 38 réus e deverá prosseguir, pelo menos, até final de agosto.

O esquema envolvia o pagamento mensal de 30 mil reais (cerca de 12 mil euros) a deputados da base aliada do governo, então comandado por Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), em troca de apoio político. Na altura, as acusações recaíram sobre José Dirceu, homem de extrema confiança de Lula da Silva, que ocupava então o Ministério da Casa Civil.

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