Da Redação
Com Lusa
O eurodeputado social-democrata Paulo Rangel sugeriu que o caso criado em torno da contratação do ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso pelo banco Goldman Sachs Internacional (GSI) prejudica a candidatura de António Guterres à ONU.
“Há um aspeto que me preocupa”, disse Paulo Rangel, referindo-se à “coincidência de datas” com a promoção da candidatura, pela Comissão Europeia, da búlgara Kristalina Georgieva a secretária-geral da ONU, cargo a que o ex-primeiro ministro português António Guterres também concorre.
Paulo Rangel disse ainda que o apoio público manifestado pelo chefe de gabinete do atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker a uma eventual candidatura de Georgieva coincide com a tentativa de “enfraquecer uma candidatura portuguesa [à ONU], que é neste momento a mais forte”.
A Comissão Europeia “tomou a iniciativa de encorajar uma candidatura da senhora Georgieva e na mesma semana existe a tentativa de procurar apoucar a imagem de um português que teve, até agora, o cargo internacional mais relevante nas vésperas de outro português ter outro.
“A ideia é destruir um pouco a posição portuguesa”, disse, negando, no entanto a hipótese de um complô.
“Podemos não concordar com os regulamentos e mudá-los, mas não aplicar regras retroativas. Há aqui uma total discriminação, um tratamento diferenciado que é inaceitável”, salientou, comentando a decisão de Juncker face a Barroso, que considera ser “discriminação negativa”.
“Já vimos episódios destes com Mário Monti, com Romano Prodi, com Nellie Kroes e com tantos outros e que após um período de nojo foram para atividades privadas e, nalguns casos, na mesma empresa em que está Durão Barroso e não houve nenhuma destas reações”, lembrou.
Entretanto, o Governo da Bulgária afirmou hoje que a candidatura da diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, ao cargo de secretário-geral da ONU se mantém, afastando rumores sobre a sua substituição iminente pela comissária europeia Kristalina Georgieva.
“Desejo sucesso a Bokova [na próxima votação informal do Conselho de Segurança] em 26 de setembro”, declarou no início de uma reunião governamental o primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borissov, que também prometeu à diretora-geral da Unesco “apoio total do Governo e da diplomacia” búlgaras.
Jean-Claude Juncker, anunciou que vai examinar o contrato do seu antecessor com o GSI e deu já instruções ao seu gabinete para tratar Durão Barroso como qualquer outro lobista com ligações a Bruxelas. Qualquer comissário europeu ou funcionário da UE que mantiver contatos com Durão Barroso será obrigado a inscrever esses contatos no registo de transparência e a manter notas sobre os mesmos.
Esta decisão de Juncker responde à provedora de justiça europeia, Emily O’Reilly, que na semana passada pediu esclarecimentos sobre a posição da Comissão Europeia face à nomeação de Durão Barroso para administrador não-executivo no GSI, sendo ainda consultor da empresa para o ‘Brexit’.
Para Nuno Melo do CDS, “fatos são fatos: não houve intenção de apoucar mas sim de precaver uma situação de eventuais conflitos de interesses que pudesse ser mais tarde invocados como relevantes para o normal jogo político”.
O eurodeputado centrista vê a questão de um modo muito claro: “Não tem que ver com o relacionamento entre a Comissão Europeia e um antigo presidente da Comissão Europeia, antes sim, da Comissão Europeia com alguém que atualmente desempenha funções no Goldman Sachs”.
“Considero justificada, no contexto, a declaração do presidente Juncker, tendo em conta que se trata de Bruxelas, onde o ‘lobbying ‘ é uma atividade altamente regulamentada, que abrange todos os aspetos da vida, dos quais a economia e as finanças não são exceção”