Da Redação com Lusa
A Cáritas Portuguesa está preocupada com o aumento dos pedidos de ajuda por parte de estrangeiros, que aparecem em “situações de grande vulnerabilidade”, o que tem contribuído para o aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo.
Em declarações à agência Lusa, quando esta instituição, que trabalha para a promoção e dinamização da ação social da Igreja católica, se prepara para um novo peditório nacional, a presidente da Cáritas Portuguesa deu conta do contínuo aumento do número de pedidos de ajuda, seja na procura de “coisas básicas para a subsistência”, seja nos pedidos de apoio.
Segundo Rita Valadas, a “pressão sobre os atendimentos (…) foi enorme” durante o ano de 2022, tanto da parte de portugueses como de cidadãos estrangeiros, alertando que talvez não haja noção de que “neste momento há estrangeiros a chegar todos os dias às zonas mais recônditas de Portugal”.
“É uma realidade que nos está a preocupar muito, a dos estrangeiros”, admitiu a responsável, apontando que em causa estão pessoas sem qualquer rede de apoio, que tanto podem ser imigrantes, refugiadas, estrangeiras com visto de turismo que depois ficam no país ou até mesmo “pessoas que vêm com máfias sabe Deus como”.
Rita Valadas deu conta de que estas pessoas chegam às Cáritas em “situação de grande vulnerabilidade” e que “uma das marcas” que se começa a fazer notar é o aparecimento de pessoas em situação de sem-abrigo em zonas do país onde não havia registro desse fenômeno.
Deu como exemplo o caso de Beja, onde, afirmou, havia um “registro de 80 pessoas sem-abrigo” e que no final do ano de 2022 contabilizou “trezentas e tal pessoas”.
“É um aumento enorme, mas é uma situação muito concreta e alguns só não estão na rua porque várias organizações se têm mobilizado para encontrar respostas de emergência”, sublinhou, acrescentando que há cada vez mais necessidade deste tipo de respostas, mas alertando que faltam também respostas definitivas, tendo em conta que “a habitação é uma das situações mais críticas em termos de intervenção social”.
Segundo Rita Valadas, há vários alertas por parte de diferentes Cáritas Diocesanas e Cáritas Paroquiais a dar conta do aparecimento de grupos de estrangeiros – um dos quais de 50 pessoas há algumas semanas – para os quais não sabem que resposta dar.
Para a responsável da Cáritas, atualmente, a situação mais crítica tem a ver com cidadãos timorenses, apesar de haver “todas as nacionalidades em Portugal neste momento”.
Preços no país
Cáritas também alerta para o risco de agravamento da situação das famílias se o preço dos bens alimentares não descer e mostra-se preocupada com a possível falta de recursos para impedir novos casos de pobreza.
Rita Valadas faz uma avaliação preocupante da atual situação social do país e revela que o seu maior receio para este ano é que faltem recursos para ajudar todas as pessoas que precisam.
“Aquilo que me preocupa é nós não conseguirmos ajudar as pessoas a não cair numa situação de pobreza, que é o nosso interesse em relação a estas novas situações que nos aparecem”, afirmou.
A responsável salientando que a luta da Cáritas é não só evitar novos casos de pobreza, mas também que consigam fazer a retoma da sua situação pessoal.
“Preocupa-me muito que nós não tenhamos os recursos suficientes para fazer esse papel, preocupa-me a pressão que existe sobre os atendimentos e alguma conflitualidade decorrente da situação de pobreza, que existe”, acrescentou.
A propósito da recente descida do valor da inflação, Rita Valadas alertou que se esse abaixamento não tiver efeito nos bens essenciais, “bem pode descer que não resolve nenhum problema”.
“Esta descida que houve, que foi reportada nesta semana, não tem consequência, por exemplo, ao nível dos bens alimentares. Bem pode descer, se os bens alimentares crescem, a situação fica pior”, constatou.
A presidente da Cáritas alertou também para aquilo que considera ser uma certa desorganização de recursos, dando como exemplo o que aconteceu no início da guerra na Ucrânia, em que houve uma onda de solidariedade feita de “iniciativas pontuais, que não se congrega[ra]m”.
“Não se congregando podemos estar a criar desperdício e não apoiar as situações mais vulneráveis”, destacou, defendendo que “tem de haver alguma maneira” de evitar repetir o que aconteceu nessa altura.
Nesse sentido, disse que a Cáritas tem vindo a fazer “um esforço” para juntar as várias “redes que existem”, de forma a ser possível “fazer a diferença com os poucos recursos que há”, salientando que o país está também “em fase de não ser muito fácil as pessoas ajudarem”.
Rita Valadas referiu ainda que o trabalho da organização é em prol tanto de portugueses como de estrangeiros, “numa aposta contínua na retoma das situações de risco e na inserção das situações que têm potencial para isso”, admitindo que não conseguem resolver todas as situações por causa da falta de meios.