Da Redação
Com Lusa
O principal entrave à venda de vinho português no Brasil é a elevada carga fiscal que aumenta muito o preço de venda deste produto ao consumidor, afirmaram produtores, importadores e empresários dos dois países. O custo total para trazer o produto para o Brasil pode ascender aos 80%, entre taxas e transporte.
À margem de uma prova de vinho que decorreu no Rio de Janeiro e se realizou no âmbito do projeto “Há um rio que começa no Douro e termina no Brasil”, promovida pela Associação dos Empresários Turísticos do Douro e Trás-os-Montes (AETUR), o setor queixou-se dos altos impostos cobrados pelo Governo brasileiro.
“O vinho quando chega no Brasil fica muito caro, os impostos são muito altos, cada Estado tem uma tributação diferente. É tanto imposto que faz com que o vinho chegue aqui a um preço muito alto para o consumidor. Esse é o fator que mais prejudica o crescimento do consumo de vinho no Brasil. Os custos são muito altos”, afirmou à agência Lusa Anselmo Carneiro, que trabalha para uma importadora brasileira.
Com proprietários portugueses, esta empresa só opera no Estado do Rio de Janeiro e vende apenas vinhos portugueses, tendo importado, no ano passado, 12 contentores (cada um com 13 mil garrafas).
Anselmo Carneiro falou num crescimento das vendas de vinho mas disse que, ao mesmo tempo, se verifica uma “invasão muito grande de produtores de todo o mundo no mercado brasileiro”. “É uma concorrência bem disputada”, frisou.
Laura Regueiro, produtora de vinho do Douro, também se queixou “da carga de impostos muito grande” que cai sobre os vinhos quando chegam ao Brasil. “Um vinho que, por exemplo, é vendido em Portugal a 20 euros num restaurante aqui pode chegar aos 60 euros. Multiplica-se por três. Para mim, neste momento, o grande entrave à entrada do vinho português é a carga fiscal”, sustentou.
A produtora defendeu que o Governo português devia fazer mais pressão perante o Brasil para ajudar a descer os impostos. “Aqui também estão a sentir alguma crise e os bons vinhos ficam menos acessíveis”, salientou.
A grande concorrência dos vinhos europeus é feita pelos países vizinhos do Brasil, como o Chile e a Argentina, que aqui colocam muito mais facilmente os seus produtos.
A iniciativa “Há um Rio que começa no Douro e termina no Brasil” é realizada em conjunto com o Grupo Baco, proprietário de uma revista especializada em vinhos.
Sérgio Queiroz, um dos representantes do Grupo Baco, defendeu “tarifas mais adequadas” e que o “Governo brasileiro devia ser mais amigo, mais complacente com a questão tarifária”. “Portugal não pode pagar o preço que paga para ter o vinho no Brasil”, salientou.
Marcelo Copello, que integra a direção da revista Baco, jornalista e autor de livros sobre vinhos, disse que não vê “perspetivas de os impostos baixarem a curto prazo”, mas referiu que é, pelo menos, um custo “igual para todos”, quer seja para os vinhos portugueses, italianos, espanhóis ou franceses. “Essa briga é de igual para igual”, salientou.
No entanto, na sua opinião, Portugal tem a vantagem de já ser a origem mais importante europeia. “Resta competir mais forte para ganhar ao Chile e à Argentina. Preço é importante, mas Portugal tem uma coisa que os outros não têm que é a diversidade das castas”, frisou o especialista apaixonado pelo Douro.