Campanha dos Bombeiros Portugueses espera pela ajuda da Diáspora

Da Redação
Com PORT.COM

Foto: Lusa
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Viaturas de combate a incêndios que custam centenas de milhares de euros são apenas um exemplo dos custos extremamente dispendiosos para as associações de bombeiros. Jaime Marta Soares explica o apoio da Liga dos Bombeiros Portugueses a uma campanha que apela à habitual generosidade das comunidades portuguesas.

Jaime Marta Soares é presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) desde janeiro de 2012, depois de ter sido presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares durante quase 40 anos. Foi na vila de distrito de Coimbra que se tornou bombeiro aos 18 anos, atividade que manteve perto de cinco décadas. Atualmente também é presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal.
Em entrevista a PORT.COM na sede da LBP, em Lisboa, não poupou elogios aos bombeiros portugueses. E falou da campanha que conta com apoio dos portugueses no estrangeiro para angariar fundos.
Dependendo do equipamento e da especificidade, viaturas para combate a fogos florestais e urbanos custam entre €75 000 a €150 000. Uma ambulância custa entre €30 000 a €50 000, dependendo dos equipamentos que contenha, um carro de desencarceramento nunca custa abaixo de €100 000 e uma autoescada pode ir de €700 000 a um milhão de euros.

Num verão tão quente como foi o de 2015, como é que esta redução foi possível?
Foi possível porque o DECIF [Dispositivo de Combate a Incêndios Florestais, que vai de 15 de maio a 30 de setembro] está devidamente organizado e porque os bombeiros portugueses são grandes profissionais, diria dos melhores da Europa e do mundo no combate a fogos florestais, assim como noutras áreas. O ano de 2015 é um bom exemplo disso. Foi um verão com uma meteorologia com temperaturas altíssimas, altamente complicadas, baixas taxas de humidade e ventos atípicos, as componentes essenciais para a propagação do fogo. Com a nossa floresta sem planeamento, é terrível. Não há prevenção estrutural, portanto tem que ser o combate e a competência dos bombeiros e dos outros agentes no terreno a conseguir debelar situações tão complexas e tão difíceis. Ao fazer a análise do ano passado, para se preparar o projeto para 2016, constatámos que foi um dos piores anos destas últimas décadas. Em 2015 tivemos mais ignições, ou seja, incêndios, do que Espanha e França juntos. Mesmo assim, dentro da média dos últimos dez anos, conseguimos diminuir em 35% a área ardida. É uma coisa extraordinária, que é bem demonstrativa do alto grau de competência e de profissionalismo que os agentes põem nesta causa. Temos que enaltecer, realçar, saudar, agradecer, como já o fiz publicamente, aos bombeiros portugueses, que são a grande força de toda esta estrutura, deste DECIF, e de todas as atividades de socorro em Portugal.

O governo anunciou a criação de um programa específico, com base em fundos comunitários, para a requalificação dos quartéis de bombeiros. Quais são as expetativas da Liga dos Bombeiros Portugueses quanto a esta iniciativa?
Olhe, eu sou como o São Tomé, quero “ver para crer”. O senhor secretário de Estado da Administração Interna anunciou 10 milhões de euros para os quartéis de bombeiros. Tudo o que vier, agradecemos, mas 10 milhões de euros, eu diria que são uma gota de água no oceano. Nem 150 milhões euros chegarão. Não é para se fazer tudo num ano, mas tudo o que for menos de 50 ou 60 milhões de euros por ano, durante um período de três ou quatro anos, é insuficiente para que consigamos restaurar, recuperar e fazer os novos quartéis de bombeiros que são precisos em Portugal.

Há ainda um programa para a requalificação do parque de viaturas de combate a incêndios…
Reforçar o nosso parque de viaturas é de extrema importância, porque também está antiquado. Tem vindo a melhorar substancialmente nos últimos anos, mas ainda há viaturas com 20 e 30 anos no combate aos fogos florestais. Sabemos que são viaturas com muitos anos de atividade, mas pouco tempo de operação, poucos quilómetros. Mas também sabemos que uma viatura de bombeiros que tenha 15 000 kms, o desgaste corresponde a mais de 200 000 ou 300 000 kms numa outra qualquer viatura, que ande na estrada normalmente, porque são sujeitas a grandes esforços e em estradas e caminhos muito difíceis. Gostaria de realçar que também há necessidade de verbas para os equipamentos de proteção individual, não só para os fogos florestais como também para os fogos urbanos. Espero que o Portugal 2020 consagre verbas para esse tipo de equipamentos.

Para além dessas, quais são as necessidades mais recorrentes das corporações de bombeiros portuguesas?
Há que reforçar todo o equipamento de transporte de doentes não-urgentes e também alguma necessidade de modernização de equipamentos de viaturas de desencarceramento. Mas como disse, as principais necessidades são nas viaturas de combate aos incêndios florestais. Num teatro de operações de um incêndio florestal as viaturas têm que estar em muito boas condições, porque a falha de uma viatura pode colocar em causa as vidas dos bombeiros que as utilizam.

Generosidade das comunidades, “dádiva dos céus”
Volta e meia é noticiado um ou outro caso de emigrantes portugueses que oferecem equipamento a uma corporação de bombeiros. Mas esses casos continuam a ser insuficientes?
Pois, como disse há pouco, é como uma agulha num palheiro, mas tudo o que vier é bem-vindo. Todo o sentimento de amor que os emigrantes têm à sua terra e ao seu país, origina casos em que conseguem arranjar equipamentos. Muitas vezes também são bombeiros nesses países para onde partiram, como França, Alemanha e Holanda, países em que as viaturas são abatidas de xis em xis anos, ao contrário de Portugal, em que são abatidas quando já não dão mais. Esses emigrantes tentam que essas viaturas, muitas vezes ainda novas ou quase novas, venham para cá. Essa boa vontade é de agradecer e enaltecer.

Essas ofertas de equipamento usado por corporações no estrangeiro permitem uma melhoria face ao equipamento existente nas corporações portuguesas. A disparidade é assim tão grande?
Em muitos casos é. O que é posto de parte por eles, para nós é uma dádiva dos céus. Por vezes recebemos casacos para fogos urbanos, que são caríssimos, porque ao fim de um tempo eles lá fora deixam de os utilizar, mas são praticamente novos. Como esse há outros casos, com outro tipo de equipamentos e ferramentas.

Como é que essas ofertas se costumam proporcionar? São as corporações que se dirigem aos emigrantes ou vice-versa?
Existem ambos os casos. Até há corpos de bombeiros que vão anualmente a Newark ter com as comunidades portuguesas, onde recebem dinheiro, porque não é tão fácil trazer os equipamentos de lá como daqui da Europa. Dentro desse espírito de ligação familiar e amizade também há grupos de emigrantes que chegam à sua terra e que fazem a sua oferta de equipamento. Existem os dois lados, tanto com as influências das associações humanitárias de bombeiros, que sabem onde estão esses nichos que correspondem, como também eles próprios que aparecem nas suas terras e fazem surpresas agradáveis aos corpos de bombeiros.

Esses casos de generosidade surgem quase sempre de iniciativas individuais. Gostava que os emigrantes se unissem no apoio aos bombeiros portugueses?
Penso que seria muito importante que houvesse associações dos emigrantes nos países onde estão, como tantas que há dedicadas a ranchos folclóricos e outras atividades culturais, que apoiassem os bombeiros das suas terras de origem com equipamentos que são precisos, como ambulâncias e carros de combate a fogos. Sabemos que a vida está difícil em todo o lado, que as pessoas têm que pugnar pelo seu agregado familiar, pela defesa dos seus interesses, mas penso que, unidos e com vontade, pode ser uma área onde possam ajudar a minorar as dificuldades que os bombeiros portugueses têm na compra desses equipamentos.

Acredita que os emigrantes portugueses vão aderir com generosidade à ação de angariação de fundos para os bombeiros portugueses que está a ser promovida pela Revista PORT.COM e a Liga dos Bombeiros Portugueses?
Se as comunidades portuguesas virem este movimento organizado e a seriedade que ele envolve, estou absolutamente convencido que sim, porque os portugueses têm um espírito muito solidário, muito humanista, muito de paixão à sua terra e à sua pátria. Acredito que esta campanha pode ser um projeto que desperte as consciências das pessoas, de forma a que todos deem um pouco de si, porque um pouco de cada um pode ser muito para nós. Espero que permita angariar valores para trazer equipamentos para Portugal ou até verbas destinadas ao tipo de equipamento que esperam ver comprados, de acordo com as necessidades de cada associação humanitária de bombeiros.

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