Da Redação
Segundo uma pesquisa coordenada pelo Instituto de Física (IF) da USP, veículos movidos a diesel, como caminhões e ônibus, são responsáveis por cerca da metade da concentração de compostos tóxicos na atmosfera, tais como benzeno, tolueno e material particulado.
Para os pesquisadores, o valor deste resultado é muito alto, já que ônibus e caminhões representam somente 5% da frota veicular. A região metropolitana de São Paulo tem mais de 7 milhões de veículos.
O trabalho, realizado em condições reais, utilizou a medida da quantidade de etanol na atmosfera para diferenciar as emissões geradas por veículos leves (carros e motos), das produzidas por veículos pesados (caminhões e ônibus).
O estudo foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature. “A estimativa da emissão de poluentes de cada tipo de veículo é feita geralmente baseada em valores medidos em laboratório e multiplicado pelo número de veículos nas ruas”, diz o professor Paulo Artaxo, do IF, um dos autores do estudo.
O problema dessa metodologia, segundo ele, é que não leva em conta necessariamente condições reais de condução e manutenção dos veículos, aspectos “chave” para emissão de poluentes. O estudo publicado agora foi realizado em condições reais.
Outros estudos ao redor do mundo têm focado no papel do uso de biocombustíveis como etanol, na redução de emissão de poluentes. “O grande diferencial desta análise foi o foco não no efeito do etanol em si, mas no seu uso como um traçador de poluentes, permitindo separar pela primeira vez fontes veiculares distintas”, explica o pesquisador Joel Ferreira de Brito, líder do estudo.
Embora os veículos pesados representem apenas 5% da frota em circulação, o estudo demonstra que eles emitem cerca de 30% do monóxido de carbono (CO), entre 40% e 45% do benzeno e do tolueno, e 50% do “black carbon”. Esses resultados foram obtidos durante três meses de medida no centro de São Paulo, na primavera, um período relativamente chuvoso e de pouca poluição.
“Pelos resultados obtidos, certamente uma redução de uso de veículos na cidade de São Paulo, aliada à expansão das linhas de metrô, por exemplo, é o primeiro e mais eficaz modo de minimizar a poluição na cidade. Um ótimo custo-benefício pode também ser obtido diminuindo as emissões de poluentes pelos ônibus”, ressalta o pesquisador. O professor Artaxo aponta que na Europa são utilizados filtros que eliminam 95% das emissões dos veículos a diesel, inclusive os ônibus. “É muito importante que estas novas tecnologias, que são baratas e podem ser adotadas a curto prazo, sejam efetivamente implementadas em São Paulo e nas grandes cidades brasileiras”, diz.