Câmara do Porto volta a acusar TAP: “visão colonialista” sobre o Norte

Da Redação
Com Lusa

Nesta sexta-feira, a Câmara do Porto disse que o comunicado da TAP prova a “visão colonialista” e “exclusivamente turística” que a companhia aérea tem sobre o Norte, acusando a companhia de estar a comportar-se como “um agente privado da economia”.

A reação surge depois de na quarta-feira a Comissão Executiva da empresa ter decidido suspender o plano inicial de retomada de rotas a partir de junho.

“O comunicado anteontem [quarta-feira] emitido pela companhia em nada sossegou os operadores econômicos e a Câmara do Porto, também porque a companhia indicia ter sobre a cidade e a região servida pelo Aeroporto Francisco Sá Carneiro uma visão colonial e quase exclusivamente turística, quando afirma que irá reunir-se somente com as entidades de turismo regionais”, defende a autarquia em comunicado.

O município salienta que, independentemente da importância que o setor do turismo tem para a cidade do Porto e para a região Norte, há setores empresariais que dependem das boas e frequentes ligações aéreas a cidades estratégicas do ponto de vista do desenvolvimento econômico e da atração de investimento.

Para a Câmara do Porto, destinos como Londres, Paris, Amsterdã, Genebra ou Milão são absolutamente estratégicos, não apenas para garantir a mobilidade dos portugueses que trabalham e residem no Norte do país, mas também como garantia de que setores como os do calçado ou do têxtil continuam a ver asseguradas ligações “eficazes, rápidas e independentes das vontades do mercado”.

“A visão meramente turística da TAP na relação com o aeroporto do Porto é por isso a prova de que a companhia apenas tinha aumentado a sua operação no Francisco Sá Carneiro nos últimos anos por razões meramente oportunistas e não por vontade estratégica ou por querer assumir um papel de verdadeira companhia aérea de bandeira, capaz de assegurar ligações estratégicas para o equilíbrio econômico nacional e a mobilidade de todos os portugueses, nomeadamente, da Diáspora”, assinala o município.

A autarquia liderada pelo independente Rui Moreira considera que é a falsa, a ideia de que, após a pandemia, os voos a partir do Aeroporto do Porto deixarão de ter procura, e salienta que a justificação da TAP não é sustentada, como demonstra a retoma “quase imediata das restantes companhias áreas estrangeiras”, nem consistente com “a existência de um hinterland que representa mais de 5 milhões de cidadãos do Norte e Centro do país e boa parte da Galiza”.

Admitindo, contudo, que a TAP está interessada em corresponder à procura, a autarquia considera que a companhia aérea de bandeira nacional “está, de fato, a comportar-se como um agente privado da economia”.

“Sendo isto legítimo, já não é aceitável que invoque interesse público e procure, assim, a subsidiação por parte do Estado português para uma operação que tem de ser sustentável e que diz ser rentável a partir de Lisboa. Qualquer tentativa de subverter este argumento só pode ser de facto apelidada de provinciana”, afirma.

Para o município, o “desprezo da TAP” pelo aeroporto do Porto “não é aceitável”, pelo que considera, havendo vontade de continuar ou voltar a ser companhia de bandeira, apoiada pelo Estado, à TAP “exige-se que retome a operação, pelo menos, na mesma medida e proporção que operava anteriormente e que o faça comunicando de forma clara, distinguindo “voos” de “rotas” em cada um dos aeroportos”.

Para além disso, a companhia aérea de deixar de “sistematicamente” contabilizar a “ponte aérea” para Lisboa como sendo ligações ou frequências que interessem ao Porto e ao Norte, “quando tal apenas serve para encaminhar passageiros para um aeroporto que já não é capaz de processá-los”.

Na nota, a câmara dirigida por Moreira, lembra que em julho de 2019, a TAP operava a partir do Porto 297 voos semanais, 183 dos quais para a Europa, 12 intercontinentais e 102 entre o Porto e Lisboa. Estes voos correspondiam a 13 rotas para aeroportos europeus (incluindo Funchal e Ponta Delgada), três para Brasil e Estados Unidos e ainda a ponte aérea para a capital.

Com a redução proposta, a TAP deixaria de ter a capacidade de transportar cerca de 25 mil passageiros por semana para a Europa, para passar a transportar cerca de mil.

“Ou seja, a TAP, uma companhia aérea de bandeira e que voa com as cores nacionais e em que o Estado português é o principal acionista com 50% do capital, passaria a operar no Porto, apenas 4% para a Europa, relativamente a 2019. Para fora da Europa, a operação passaria a ser zero”, concretiza o município que salienta que pese embora a companhia tenha anunciado que ia rever o plano de retoma, ainda não se conhecem as alterações que pretende introduzir.

Na crítica inicial do presidente da Câmara do Porto em relação ao plano de voo da TAP, Moreira citou a operação ruinosa para o Brasil, com voos estendidos para os próximos meses.

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