Mundo Lusíada
Com Lusa
A indústria portuguesa de calçado elegeu os EUA como mercado prioritário para diversificação das exportações e afirma-se empenhada em fazer um trabalho promocional “bem feito” naquele que é “o maior” e “mais exigente” importador de sapatos do mundo.
“OS EUA vão ser, sem dúvida, a nossa aposta, onde vamos fazer um trabalho muito intenso. É o mercado dos mercados, onde as marcas se podem posicionar de uma forma única, e o mais exigente de todos, onde temos que ter mais cuidado ou poderá ser muito prejudicial”, afirmou o presidente da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), Luís Onofre, em declarações aos jornalistas durante a maior feira de calçado do mundo — a MICAM — que decorre essa semana em Milão.
Salientando os dois mil milhões de pares de sapatos importados anualmente pelos EUA, o que faz do país “o maior importador de calçado do mundo”, o recentemente eleito presidente da APICCAPS (em funções há cerca de quatro meses) destacou ainda o desafio de exigência que coloca às empresas portuguesas do setor. “É um mercado onde as marcas se posicionam de uma forma única e onde algo tem que ser feito, mas bem feito, porque é um mercado muito exigente, o mais exigente do mundo”, assegurou.
Questionado pela agência Lusa sobre o porquê desta aposta nos EUA apenas surgir numa altura em que o setor português do calçado já exporta mais de 95% da sua produção para mais de centena e meia de países, nos cinco continentes, Luís Onofre admitiu que “já houve oportunidades” de o fazer antes, mas defendeu que há que “fazer um bom ‘marketing’ primeiro, dar a conhecer aos americanos o que se faz de bom em Portugal e só a partir daí avançar”.
Atualmente, o mercado norte-americano ocupa o sexto lugar do ‘ranking’ dos principais países de destino das exportações portuguesas de calçado – depois de França, Alemanha, Holanda, Espanha e Reino Unido – tendo representado cerca de 4% das vendas do sector para o exterior no ano passado, no valor de 80 milhões de euros.
Durante uma visita a algumas das 96 empresas portuguesas de calçado que participam na MICAM, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, destacou esta indústria como “um dos setores da economia industrial portuguesa que mais se modernizou e internacionalizou” e que disputa com os principais países produtores a liderança no segmento mais alto.
“Estamos a falar de um setor que exporta mais de 95% da sua produção, que está presente em 152 países diferentes em todos os continentes, que contribui para a economia portuguesa e para o emprego de uma forma muito significativa e no qual temos uma balança comercial altamente favorável”, salientou.
Considerando que ” planificação que o setor tem seguido é muito inteligentemente desenhada”, nomeadamente no que respeita à aposta feita “em grandes mercados internacionais” e “nos segmentos mais sofisticados”, Santos Silva recordou que o calçado português “disputa com outras indústrias – como a indústria italiana e poucas mais – a liderança no segmento de valor mais alto”.
“Por cada 100 euros que importamos em Portugal no setor do calçado exportamos 250. O coeficiente de cobertura das importações pelas importações é duas vezes e meia, o que é muito importante”, considerou, destacando que os dados disponíveis relativamente ao primeiro semestre deste ano “mostram que o crescimento [do setor] é sustentado, porque as exportações continuam a crescer [6,3%], a balança comercial é altamente positiva e a dinâmica de criação e de valor e de emprego é muito importante”.
Milão
As noventa e seis empresas portuguesas de calçado que levam o de melhor se faz no setor em Portugal, volta a destacar-se como a segunda maior delegação estrangeira na feira internacional MICAM. As empresas portuguesas presentes são responsáveis por 8.300 empregos e 550 milhões de euros de exportações.
Segundo destaca a APICCAPS, esta nova aposta do setor em Itália acontece num ano em que as exportações portuguesas de calçado “caminham para novo máximo histórico”, a manter-se o ritmo de crescimento de 6,3% registado até junho.
“Portugal exportou, no primeiro semestre de 2017, 43 milhões de pares de calçado no valor de 960 milhões de euros. A confirmarem-se estes valores até final do ano, este será o oitavo ano de crescimento do calçado português nos mercados externos”, sustenta a associação.
E se “desde 2009 as vendas de calçado português nos mercados internacionais aumentaram 60%, passando de 1.200 milhões para praticamente 1.950 milhões de euros no final do último ano”, na primeira metade de 2017 as exportações do setor voltaram a crescer “em praticamente todos os mercados relevantes”.
Na União Europeia (UE) a subida foi de 5,2%, “fruto dos bons desempenhos em países como França (mais 4% para 202 milhões de euros), Holanda (mais 6% para 136 milhões de euros) e Alemanha (mais 8% para 181 milhões de euros)”, sendo que para Itália as exportações de calçado português somaram 27 milhões de euros, enquanto as importações se ficaram pelos 24 milhões, resultando num saldo comercial positivo de três milhões de euros.
Fora do espaço europeu, o destaque vai para os EUA (mais 7% para 35 milhões de euros), Rússia (mais 32% para 13 milhões de euros), Canadá (crescimento de 30% para 12 milhões de euros), Angola (mais 126% para 11 milhões de euros) e Japão (aumento de 6% para 11 milhões de euros).