É bem verdade que cada povo tem aquilo que merece. E se acaso alguns tivessem ainda dúvidas duma tal realidade, o que certos jornalistas têm vindo a operar na nossa grande comunicação social, em torno do direito de manifestação, de protesto e de indignação de muitos portugueses, é bem elucidativo da realidade por mim antes apontada: cada povo tem aquilo que merece.
Muitos talvez nem saibam, mas há já muitas décadas, creio que numa entrevista por si concedida, Salazar, referindo-se ao tempo da I República, disse estas palavras: a I República era tão má, que eu cheguei a ter maus pensamentos. E se a isto juntarmos o suicídio destes dias, de um reformado grego já de idade avançada, no interior da Acrópole, em Atenas, nós percebemos esta realidade evidente, de que tantos psicólogos nos falam diariamente nas nossas televisões: todos temos um limite à tolerância dos maus tratos e ao surgimento da revolta genuína.
Quero com isto dizer o seguinte: os portugueses, na sua grande generalidade, fruto do que se vê e ouve, vivem revoltados com a miséria para que foram atirados por este Governo, para mais sem saída à vista, e tudo isto muito potenciado por se perceber que há quem receba cento e setenta e cinco mil euros por mês de reforma, com outros que às suas juntam algumas dezenas de milhares de euros por mês em novos empregos, mas sempre empunhando, canalhamente, a bandeira da democracia.
Não pode imaginar-se como fruto do acaso que as críticas ao estado do País e da Europa venham já mesmo de Alberto João Jardim. Hoje, em boa verdade, só os chupistas da situação conseguem manter-se calados. A generalidade da população, vivendo na miséria, com ou sem trabalho, com famílias desfeitas, e tudo por via de decisões sobre a soberania nacional nunca avalizadas em eleições livres para tal constituídas, têm todas as razões para se exaltar e revoltar. Lá estão as tais palavras de Salazar, há já muitas décadas…
E porque razão não haverão os portugueses, e tantos outros de se revoltar, seem plena Hungria são oficialmente adotados textos escolares de escritores nazis? E como compreender, e até ficar silencioso, com as estátuas erguidas a um criminoso internacional como o foi Miklós Horthy, responsável pelo genocídio de quase meio milhão de judeus em campos de concentração nazis?
Ao mesmo tempo, e como há dias referia Manuel António Pina no seu texto, O OVO E A SERPENTE, também em Israel imigrantes negros vêm sendo vítimas de ataques de todo o tipo, com o atual Primeiro-Ministro a classificá-los como praga ou cancro. E vê o leitor algum protesto contra tudo isto, à semelhança da reação contra o pedido de asilo político de Julian Assange, ou face ao que tem vindo a ser fomentado, a partir de fora, na Síria? Claro que não!
Por isso escrevi, há já uns dois meses, o meu texto, O NAZISMO PODERÁ ESTAR DE VOLTA, na sequência do fim do comunismo e do desvirtuamento e falhanço da democracia e da União Europeia. O próprio George Soros, num destes dias, pôde até chamar a atenção para esta realidade, cada dia mais evidente: a Alemanha corre o risco de que os povos europeus passem a odiá-la. E tudo isto está a ter lugar com Barack Obama na liderança americana, porque se vier a suceder-lhe Mitt Romney, bom, ali mesmo, nos Estados Unidos, poderá começar a desenvolver-se o regresso do nazismo, com o cortejo de trevas que se pode facilmente imaginar.
Na já famigerada Alemanha, parece que também as secretas acabaram por destruir uma vastíssima informação sobre grupos neo-nazis, agora a serem investigados por muito fortes ligações a diversos homicídios xenófobos. Acaso? Claro que não! E não, porque o nazismo nunca foi coisa de um homem só e louco, antes a manifestação muito íntima de um povo.
Mas o patético atinge o seu supremo, ao ouvir-se agora das secretas inglesas este espasmo de incompetência e desnorte políticos: a Primavera Ábabe poderá vir a favorecer a retoma de estruturas da Al-Qaeda, podendo mesmo aumentar o risco de exposição da Inglaterra ao terrorismo de origem islâmica. É caso para recordar Jô Soares: eu quér’ápláudirr!!
Por tudo isto, e perante a evidência do crescimento do desemprego, da pobreza e da miséria em Portugal, mesmo à nossa dimensão, o expectável é que os protestos contra os responsáveis por esta situação continuem. Estranho seria que assim não fosse. Mas aí está já o batalhão dos jornalistas de serviço, que nunca se lembraram de pôr estes protestos em causa no tempo de José Sócrates, mas que se mostram agora tão menininhos na defesa do respeito pelos líderes deste atual Tytanic. Olhemos para a onda neo-nazi que está a varrer o Mundo, e logo encontraremos indicadores de semelhança com o que está agora a nascerem Portugal. Como tanta vez escrevi, as coisas parece que mudaram, mas não mudaram…
Por Hélio Bernardo Lopes
De Portugal