Da Redação Com Lusa
O presidente executivo do consórcio EllaLink, que está a construir o cabo de telecomunicações submarino entre a América do Sul e a Europa, disse, em entrevista à Lusa, que esta ligação “é uma oportunidade única” para a Península Ibérica.
O cabo submarino, denominado também de EllaLink, começou a ser construído em janeiro de 2018 e vai iniciar atividade comercial em maio deste ano.
“É um cabo de telecomunicações submarino, uma peça de plástico, cobre e fibra ótica, com seis mil quilômetros de comprimento, que liga a Europa, pelo porto de Sines [Portugal], e a América do Sul, através do porto de Fortaleza [Brasil]”, afirmou o presidente executivo da EllaLink, Philippe Dumont.
Trata-se de “uma grande infraestrutura de 150 milhões de euros” que levou cerca de quase dois anos e meio a ser construída, referiu, apontando que “99% da comunicação internacional” é feita por cabos submarinos.
“Penso que é uma oportunidade única para as empresas portuguesas e espanholas, em geral, por causa da história entre a Península Ibérica e a América do Sul”, afirmou o responsável da EllaLink, apontando que existem muitas empresas com filiais no Brasil e vice-versa.
“Este cabo é realmente um elemento único para fomentar os negócios entre a Península Ibérica e a América do Sul: se quer um grande negócio precisa de uma infraestrutura digital forte e robusta e é isso que a EllaLink oferece”, salientou Philippe Dumont.
A ancoragem do cabo submarino em Sines acontece numa altura em que Portugal tem como aposta estratégica a transição digital, o que, para o presidente executivo da EllaLink, “é o casamento perfeito”.
“Recebemos um apoio significativo das autoridades portuguesas desde o ínicio”, sublinhou o gestor.
“Também temos um plano muito ambicioso para desenvolver o parque de Sines, a que chamamos de Sines Tech”, prosseguiu, salientando o facto de este porto ter um conjunto de atributos da localização.
“Temos muito apoio das autoridades portuguesas para desenvolver um `data center` [centro de dados]” em Sines, “é uma localização fantástica, tem imenso terreno, tem área industrial e muita energia”, incluindo unidades de painéis solares que irão surgir, e “não está longe de Lisboa e Madrid”.
As empresas “OTT (`Over-The-Top`) Google, Facebook, entre outras, estão a desenvolver os seus `data centers` na parte Norte da Europa e em breve irão desenvolver no Sul” do continente e “acredito que Sines é o melhor ativo que Portugal tem”, considerou Philippe Dumont.
Questionado sobre a construção de um `data center` em Sines, Philippe Dumont foi perentório: “Espero que mais do que um `data center`, mas não vai acontecer da noite para o dia. Poderá levar cinco a 10 anos, mas há espaço. [Sines] tem tudo o que é preciso para se construir um parque de `data centers` na parte Sul da Europa”.
Destacou ainda o facto de todo o tráfego vindo de África, da costa Oeste, vir a passar por aquela zona, com todos os cabos submarinos que surgirão nos próximos anos.
Existe um “crescimento significativo do tráfego de África, em particular”, continente que “é provavelmente um dos mais interessantes mercados” a dar resposta “nos próximos 10 anos”, salientou Philippe Dumont.
Sobre a razão da escolha de Sines, o presidente executivo da EllaLink destacou a sua localização.
“É provavelmente o porto de entrada no Atlântico mais a sudoeste da Europa. Se olhar para a geografia, Sines é um porto importante” e é “o ponto mais curto da costa em direção à América do Sul”, continuou o responsável.
“É também o ponto mais curto para chegar ao leste e sudeste dos Estados Unidos” e “nós queremos estar mais perto possível do outro ponto que queremos alcançar porque significa que a infraestrutura irá custar menos”, apontou.
Para a escolha de Sines contou também o facto de ser a localização mais segura.
“Queremos garantir que o cabo não seja cortado devido à atividade humana”, explicou.
Hoje, é anunciada a chegada do cabo submarino EllaLink em Sines, depois de há algumas semanas ter sido feito o `desembarque` em Fortaleza, Brasil.
“O cabo é feito de dois desembarques, há duas partes, mas não estamos ainda conectados, essa conexão será feita no meio do Atlântico”, que depois de conectado terá ainda muito trabalho à volta da rede”.
Já o lançamento comercial, “está programado para ser por volta do início de maio”, acrescentou.
Assim, comemora-se hoje “a ancoragem do cabo em Sines porque é um marco importante na construção da obra”, salientou Philippe Dumont.
Depois de Sines, proceder-se-á a ligação da Madeira ao cabo, seguida de Cabo Verde.
O investimento de 150 milhões é financiado em cerca de metade por “clientes âncora” e a outra parte pelo fundo de investimento pan-europeu Marguerite II.
Relativamente ao retorno deste investimento, o presidente executivo espera que tal aconteça em “mais ou menos cinco anos” depois do lançamento comercial do serviço, ou seja, “algures em 2026”.
Com este cabo submarino “não vamos abrir um canal de comunicação que não exista já”, disse, apontando que atualmente se uma pessoa pretender contactar alguém no Brasil, essa ligação provavelmente passará por Paris ou Londres primeiro, depois atravessará o Atlântico Norte até chegar algures na costa Leste e, só depois, chegará a São Paulo.
“É assim que a rede está estruturada” e “esse é um caminho muito longo. Isso é apenas história, é um facto da vida porque muita atividade dos conteúdos foi criada nos Estados Unidos, a rede é muito centrada nos Estados Unidos”, prosseguiu.
“O que este cabo faz é apenas reequilibrar o fluxo. Ou seja, agora você poderá colocar um núcleo diretamente entre a Europa e a América do Sul sem passar pelos Estados Unidos”, o que significa que “o tempo para a informação ir e voltar vai ser reduzido para metade”.
Com o cabo submarino EllaLink, quem estiver em indústrias como por exemplo a banca ou o `gaming` (jogos `online`) “irá ver benefícios significativos”, sendo que o primeiro é a “redução da latência” e o segundo “são os custos”.
Em suma, “irá custar menos e será mais rápido”, como também irá evitar “algumas dependências dos Estados Unidos”, rematou.
O projeto EllaLink consiste num cabo submarino com quatro pares de fibras no seu tronco, conectando Fortaleza e Sines e também a `data centers` em Madrid e Lisboa através de uma rede terrestre. Cada par de fibra pode transportar 18 terabits, resultando numa capacidade global do sistema de cerca de 80 terabits.