Brexit: Comunidade portuguesa com “todas as razões para estar calma” diz PM

Da Redação
Com agencias

PM_AntonioCostaPSO primeiro-ministro, António Costa, garantiu em Bruxelas que a comunidade portuguesa no Reino Unido tem “todas as razões para estar calma” face à vitória da saída do país da União Europeia (UE) no referendo da semana passada.

“A comunidade portuguesa no Reino Unido deve ter todas as razões para estar calma porque nada se alterou e nada de significativo se irá alterar porque, nas negociações que terão lugar, a nossa prioridade será salvaguardar os direitos e proteger a comunidade portuguesa residente no Reino Unido”, disse o chefe do executivo, em conferência de imprensa.

Após a cimeira de líderes europeus que se centrou no denominado ‘Brexit’, António Costa recordou haver outros países da UE com “comunidades significativas” no Reino Unido e que também irão defender os seus nacionais.

O governante notou também que na reunião informal dos 27 desta quarta-feira sobre as futuras relações com os britânicos ficou assente que o “mercado interno é indissociável do respeito pelas quatro liberdades”.

“Por isso, quando ouvimos alguns defensores do ‘Brexit’ dizerem que se pretendiam manter no mercado interno apesar de fora da UE, hoje o Conselho já recordou que não é possível participar no mercado interno” sem, por exemplo, respeitar “a liberdade de circulação, a liberdade de residência”.

Questionado sobre as relações bilaterais entre portugueses e britânicos, Costa respondeu que se “deve dar tempo ao tempo”, recordando os “bons níveis de relações comerciais com o Reino Unido, que é um grande mercado emissor designadamente de turistas” e garantiu que as ligações vão continuar.

“Por outro lado, abrem-se novas perspetivas e acho que Portugal deve ser dinâmico e estar atento às oportunidades” nomeadamente no caso de empresas do Reino Unido que querem “continuar na UE sem mudar de fuso horário”, disse.

Sobre o resultado da cimeira dos líderes europeus, que teve a participação do primeiro-ministro britânico, David Cameron, apenas na terça-feira, Costa enumerou “dois bons motivos” para haver satisfação: “pela forma amigável e construtiva como os 27 assumem as (futuras) negociações” com o Reino Unido e o “reconhecimento claro” que os britânicos serão “parceiros fundamentais” da UE.

“Acho que há uma segunda boa notícia, que é o facto de os 27 em vez de terem entrado no estado de negação, que tantas vezes acontece e dizer que tudo está bem, assumirem que é necessário refletir sobre os sinais que os cidadãos têm dado de descontentamento sobre o funcionamento da UE”, acrescentou.

Costa indicou que reflexão sem o Reino Unido continuará em setembro, numa reunião informal dos 27, em Bratislava. O primeiro-ministro manifestou também compreensão por o “Reino Unido querer esperar por um novo Governo com legitimidade para iniciar as negociações” de definição de relações entre as duas partes.

“Não me escandaliza particularmente que assim seja, acho aliás normal que assim aconteça. Se não tivéssemos o verão pelo meio, um período habitual de férias, se calhar os calendários podiam ser mais apertados”, disse.

Livre circulação
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, alertou hoje que se o Reino Unido quiser permanecer no mercado único após a saída do bloco europeu, tem que aceitar as quatro liberdades de circulação, incluindo a de pessoas.

“Aceitar o mercado único significa aceitar as quatro liberdades de movimento, não haverá mercado único ‘à la carte'”, disse Tusk, em conferência de imprensa no final da cimeira dos 27 líderes da UE, sem a presença do primeiro-ministro britânico, David Cameron.

Já o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse que UE necessita de reformas, mas sublinhou não estar prevista qualquer alteração aos tratados. “Reconhecemos que a UE precisa de se reformar, mas não se trata de acrescentar novas reformas, mas sim de acelerar as que já estão em curso”, disse Juncker, referindo-se à Agenda Estratégica já adotada.

Ataques racistas
Enquanto isso, aumentam número de casos racistas e xenófobos no Reino Unido nos últimos dias. Cidadãos estrangeiros, incluindo portugueses, foram vítimas de ataques racistas, tendo as autoridades registrado mais 57% de queixas de crimes de ódio.

Os incidentes aconteceram em Londres, País de Gales ou Norfolk, disseram à agência Lusa vários membros da comunidade portuguesa, que acrescentaram que nem todos são divulgados por receio de reprovação ou represálias.

Em Londres, Fátima Lourenço ainda está abalada com o que aconteceu na passada sexta-feira, quando um grupo de jovens com idades entre os 18 e os 20 anos lhe cuspiu na cara e agrediu na rua com uma bandeira inglesa.

O seu relato, que começou por fazer nas redes sociais, atraiu críticas de compatriotas, mas Fátima Lourenço, que faz trabalho doméstico e vive no Reino Unido há 13 anos, explica que só o fez para partilhar a experiência e para deixar o alerta para outros.

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