Da redação
Com Lusa
A história militar portuguesa ocupa mais de dez quilômetros de documentos num arquivo que ganhou tecnologia inovadora de incêndios num novo espaço e, ao qual cada vez mais brasileiros recorrem em busca de uma prova para requerer cidadania portuguesa.
Pesquisadores de mestrado e doutoramento que chegam a trabalhar diariamente no Arquivo Histórico Militar, em Lisboa, durante meses, juntam-se os curiosos em busca de informação sobre familiares que foram militares e, “numa vaga recente”, cidadãos brasileiros que procuram ascendência até ao grau de avô, a suficiente para requererem nacionalidade portuguesa.
“Temos tido muita gente que conseguiu a nacionalidade porque aqui nos arquivos foram passadas certidões segundo as quais um seu familiar era militar português. É expressivo, houve um aumento significativo desde há dois anos”, contou à Lusa o subdiretor do arquivo, major José Cunha Roberto.
O contato com o arquivo é feito frequentemente por correio eletrônico por cidadãos brasileiros, residentes no Brasil, e a resposta é tão rápida quanto forem os dados fornecidos sobre o familiar militar, apontou.
Os processos individuais dos militares falecidos até 1969 ocupam mais de quatro mil caixas e constituem um dos acervos mais consultados no arquivo, que ganhou eficiência com as novas instalações, onde toda a documentação está concentrada, dispensando as antigas viagens para ir buscar documentos a um depósito a vários quilômetros.
O Arquivo Histórico Militar, criado em 1911, mudou-se no final de 2018 de Santa Apolónia para o vizinho Largo do Outeirinho da Amendoeira, equipando as antigas instalações de fardamento do Exército com um sistema de detecção e combate a incêndios que recorre a gás árgon em vez de água, permitindo destruir os documentos.
Em Portugal, só mais a Torre do Tombo, em Lisboa, tem este sistema.
“Temos um sistema de detenção de incêndio que está ligado ao de extinção. Portanto, automaticamente, conforme detecta incêndio o sistema faz a extinção. Tem um intervalo de quatro minutos, se houver um falso alarme”, explicou o major Cunha Roberto.
Por outro lado, o sistema está criado de forma a climatizar o próprio ambiente de depósito, com uma temperatura média de 18 graus e 50% de umidade relativa, filtrando partículas poluentes do exterior.
É um “salto qualitativo sem igual na preservação da documentação”, sublinhou o subdiretor do arquivo, onde o documento mais antigo remonta a 1508.
Apesar de ter um “acervo significativo” do século XX – incluindo as mais de 2.280 caixas sobre o Corpo Expedicionário Português e a participação portuguesa na I Guerra Mundial, bem como documentação sobre o Movimento das Forças Armadas (MFA) e o 25 de Abril, o arquivo é “forte em documentação do século XVIII e XIX”, referiu Cunha Roberto.
O subdiretor do arquivo sublinhou ainda a muita procura que tem o fundo especial de fotografia, que inclui parte acervo de Joshua Benoliel, sobretudo as imagens do embarque das tropas em Alcântara para o norte da Europa, ou Veloso de Castro, que documentou as “campanhas de pacificação” em África até 1914, bem como a “vida quotidiana” das populações.
O acervo de Arnaldo Garcez, que acompanhou o Corpo Expedicionário Português, desde a formação dos militares em Tancos às trincheiras na Flandres, está totalmente digitalizado, um projeto levado a cabo em 2008 e 2009, considerado prioritário, já que a consulta de negativos em vidro poderia facilmente deteriorá-los.
Todas as imagens do fotógrafo convidado pelo ministro da Guerra para seguir ‘embedded’ com as tropas portuguesas pelo ministro da Guerra, Norton de Matos, estão disponíveis ‘online’.
O arquivo disponibiliza mais de um milhão e 300 mil imagens nas suas aplicações na internet, resultado de processos morosos que muitas vezes só são possíveis graças a parcerias com entidades.
Um sítio mundial de genealogia na internet e um banco financiaram um projeto que durou quase nove anos e que resultou na digitalização de todos os cinco mil e 200 “livros mestres”.
Estes livros têm o nome, filiação, profissão e características físicas dos militares portugueses, bem como os quartéis por onde passaram e as campanhas militares que integraram, uma “informação riquíssima” que pode ser consultada à distância.
O Arquivo Histórico Militar é um paraíso para a investigação histórica com muito por explorar: “Há muita documentação, muita dela ainda não muito divulgada, apesar de alguma estar disponível na internet”, sublinhou o subdiretor.