Brasileiros manifestam-se em Lisboa contra presença de ministro da Saúde

Cidadãos brasileiros protestam contra uma conferência do ministro da Saúde do Brasil, Marcelo Queiroga (ausente da foto), sobre o tema "As ações do Brasil no enfrentamento da covid-19", em frente à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, em Lisboa, 26 de outubro de 2021. Marcelo Queiroga é um dos visados pela investigação da comissão parlamentar de inquérito que ao longo dos últimos meses avaliou falhas e omissões na ação do Governo brasileiro na gestão da pandemia de covid-19. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
Cidadãos brasileiros protestam contra uma conferência do ministro da Saúde do Brasil, Marcelo Queiroga (ausente da foto), sobre o tema "As ações do Brasil no enfrentamento da covid-19", em frente à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, em Lisboa, 26 de outubro de 2021. Marcelo Queiroga é um dos visados pela investigação da comissão parlamentar de inquérito que ao longo dos últimos meses avaliou falhas e omissões na ação do Governo brasileiro na gestão da pandemia de covid-19. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Da Redação com Lusa

Nesta terça-feira, dezenas de brasileiros juntaram-se em frente ao hospital de Santa Maria, em Lisboa, para protestar contra a presença do ministro da Saúde do Brasil numa conferência sobre a resposta do Brasil à pandemia de covid-19.

“Para nós é estarrecedor o ministro ser condecorado numa faculdade de Medicina importante como esta, dentro do hospital de Santa Maria”, disse à Lusa a dirigente do Coletivo Andorinho Marisie Damin, uma das cerca de 40 pessoas que esta manhã se manifestaram junto à porta de entrada do hospital lisboeta.

“O ministro é um dos responsáveis pelas mais de 600 mil mortes, opôs-se e ainda se opõe hoje ao uso de máscara, que é o princípio básico da proteção [contra a covid-19]”, acrescentou a dirigente brasileira, salientando que “o ‘ministro da morte’ é indiciado por crime de negligência, no mínimo”.

A participação de Marcelo Queiroga numa conferência, a convite do presidente da Faculdade de Medicina de Lisboa, tem sido muito criticada por alguns brasileiros residentes em Portugal, que consideram a presença do governante uma afronta às vítimas mortais da covid-19.

“As nossas preocupações são partilhadas pela maioria dos brasileiros, disso não tenho dúvida; as pessoas estão literalmente a morrer, além de morrer da doença, agora menos, é certo, morrem de fome e isso é resultado das políticas deste governo e da negligência”, disse a responsável.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da covid-19, a decorrer no Senado brasileiro, vota esta tarde o relatório final que pede o indiciamento do Presidente, Jair Bolsonaro, por nove crimes e o aprofundamento das investigações contra outros suspeitos.

Com 1.180 páginas, o documento apresentado na semana passada pelo senador Renan Calheiros recomenda o indiciamento de outras 65 pessoas e de duas empresas suspeitas de cometerem crimes durante a pandemia de covid-19, que já causou mais de 605 mil mortos e 21,7 milhões de infetados no Brasil.

Os pedidos de indiciamento serão encaminhados para o Ministério Público Federal, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF), caso o relatório seja aprovado pela maioria dos membros da CPI.

O relatório da CPI também poderá ser enviado a entidades multilaterais, como o Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia.

A maioria das acusações estão relacionadas com ações negacionistas, suspeitas de corrupção e de omissão em relação ao novo coronavírus e às vacinas, que teria aumentado o número de mortos no Brasil.

Nas declarações à Lusa à porta do hospital de Santa Maria, Marisie Damin deixou também críticas a Portugal e à Faculdade de Medicina por abrir as portas ao ‘ministro da morte’, como é apelidado pelos seus críticos.

“É preocupante o tipo de pessoa que Portugal está a querer mostrar e que acolhe; enquanto brasileiros, é uma afronta, é um desrespeito à população brasileira e aos 600 mortos, porque ele é o representante deste governo”, disse a responsável, concluindo: “Mobilizamo-nos para dizer que não concordamos com esta honra, porque proferir uma aula magna é uma honra, pedimos informações ao diretor da faculdade, mas sem resposta, e sabemos que foi Queiroga a escolher o tema da palestra, mas se um ministro nazi, por exemplo, viesse da Alemanha a Faculdade de Medicina ia abrir as portas e dizer que não tem responsabilidade sobre o que ele vai dizer?”, questionou.

Em comunicado publicado na página oficial da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), na qual se citam esclarecimentos do diretor da instituição, o professor Fausto Pinto, a faculdade justifica o convite ao ministro da Saúde brasileiro, Marcelo Queiroga, como sendo de âmbito acadêmico a “um médico cardiologista, ministro da Saúde dum país amigo”.

“Vem visitar a nossa Faculdade, pelo que foi convidado, como académico, a proferir uma conferência, tendo escolhido o tema que entendeu. A Universidade será sempre um espaço aberto, sem tabus ou preconceitos”, lê-se no comunicado, publicado no ‘site’ da FMUL na sequência de vários contatos da comunicação social a questionar a confirmação da presença do ministro brasileiro.

Marcelo Queiroga é um dos visados pela investigação da comissão parlamentar de inquérito que ao longo dos últimos meses avaliou falhas e omissões na ação do Governo brasileiro na gestão da pandemia de covid-19, havendo a recomendação para que seja indiciado por dois crimes – prevaricação e epidemia com resultado de morte, sendo que neste último a moldura penal varia entre os quatro e os 15 anos de prisão, consoante se prove ou não a intenção de provocar a morte.

A visita do ministro brasileiro a Portugal – mas também ao Reino Unido, onde se desloca para visitas às universidades de Cambridge e Oxford e outras instituições, prevendo-se também a assinatura de protocolos – foi notícia na imprensa brasileira, com o jornal O Globo a questionar a Universidade de Lisboa sobre a manutenção do convite depois de terem sido conhecidas as conclusões da investigação da comissão parlamentar de inquérito (CPI).

O Brasil tem mais de 600 mil mortes associadas à covid-19 e teve cerca de 22 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus desde o início da pandemia.

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