Da Redação
Com Lusa
O dirigente socialista português António Vitorino afirmou hoje à agência Lusa que o Brasil tem “uma visão muito instrumental da CPLP”, que vai além da organização lusófona e que não a tem como prioridade na política externa.
“O Brasil tem alguma visão muito instrumental da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], porque tem uma agenda global que vai para além da CPLP e que não a tem como prioridade”, afirmou o também antigo comissário europeu para os Assuntos Internos e antigo ministro da Defesa português.
O dirigente socialista e ainda advogado falava à Lusa após ter dado uma aula na nova School of Bussiness and Economics, ligada à Universidade Nova de Lisboa, sobre o “Potencial Econômico da Língua Portuguesa na Lusofonia”, iniciativa que começou quarta-feira e que foi idealizada pelo acadêmico Bernardo Teotónio Pereira.
Para Vitorino, é “importante” que os restantes Estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) “também façam compreender ao Brasil” que “não há nenhuma incompatibilidade entre essa agenda global e a afirmação da CPLP”.
“Mais, que (também o façam compreender que), em muitas circunstâncias, o apoio da CPLP a algumas das pretensões legítimas do Brasil, como a de fazer do Português língua oficial das Nações Unidas, ou até poder vir a ter, no quadro da reforma da ONU, um lugar no Conselho de Segurança, são objetivos que podem ser partilhados pelo conjunto dos países da CPLP e que reforçam a própria posição brasileira”, disse.
Sobre o potencial da comunidade lusófona – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste -, Vitorino destacou as dimensões “ainda por explorar”, que passam pela afirmação da cidadania, pela promoção do setor econômico e pela aposta na parte política.
“A CPLP tem dimensões por explorar, desde logo no plano da cidadania, que é um ponto importante da realidade de entrosamento das sociedades no plano da liberdade de circulação e da capacidade de fixação nos vários países lusófonos”, disse.
No plano econômico, acrescentou, há um potencial por explorar ligado às oportunidades que o mundo global oferece a países que têm em comum a mesma língua e cultura.
“Mas também do ponto de vista político, na medida em que a Lusofonia pode e deve aspirar a ter um protagonismo global e precisa de encontrar a convergência entre os vários países com agendas distintas, designadamente as regionais ou mesmo globais, que não passam primordialmente pela CPLP”, defendeu.
Questionado pela Lusa sobre se os 20 anos de vida da CPLP (criada em 1996) não seriam suficientes para que as três dimensões já estivessem consolidadas, Vitorino admitiu que as “expectativas” de há duas décadas “não foram totalmente assistidas”.
“É importante que exista uma comunidade que tenha um valor acrescentado para os países que a integram e também para o mundo global, mas, obviamente, creio que as expectativas de há 20 anos não foram totalmente assistidas. A responsabilidade de dar um novo impulso, tanto político, como econômico, como na cidadania, à CPLP impende sobre os ombros de todos e, designadamente, sobre Portugal”, respondeu.
“É uma discussão que não faz muito sentido, até porque as grandes línguas globais nunca precisaram de acordos ortográficos para se afirmarem. Não creio que a pujança da Língua Portuguesa esteja na necessidade de um acordo ortográfico. Há questões muito mais importantes na afirmação da Língua Portuguesa no mundo digital, por exemplo, que estão muito fora de um contexto de uma discussão que me parece votada ao malogro sobre um acordo ortográfico”, concluiu.
A terceira edição do mestrado “O Potencial Global do Mundo Lusófono”, totalmente lecionado em Português, termina nesta tarde com uma aula dada pelo ex-vice-primeiro-ministro e presidente demissionário do CDS/PP Paulo Portas, sessão à porta fechada.