Mundo Lusíada
Com agencias
O Presidente brasileiro Michel Temer participa na próxima reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), confiando de que será anunciada a conclusão de um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
“A expectativa é que o anúncio político da conclusão das negociações [entre os dois blocos] seja feito durante a reunião ministerial da OMC, embora algumas questões técnicas permaneçam pendentes”, afirmou Carlos Márcio Cozendey, subsecretário de Assuntos Econômicos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil à Lusa.
A OMC organizará uma reunião ministerial ente 10 e 13 de dezembro em Buenos Aires, que contará com a presença dos Presidentes da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, países fundadores do Mercosul. As negociações do bloco sul-americano com a União Europeia, que começaram há duas décadas atrás, entraram numa fase decisiva em 2016 e se aproximaram de uma conclusão depois de delegados de ambos os lados terem trocado novas propostas na passada quarta-feira, em Bruxelas.
De acordo com Márcio Cozendey, as propostas já estão em análise e continuarão a ser debatidas a nível ministerial em Buenos Aires em novos encontros de representantes dos dois blocos, à margem da reunião da OMC.
O diplomata brasileiro considerou que, se o “anúncio político” sobre o fim das negociações entre o Mercosul e a UE for atingido, o acordo comercial entre a UE e o Mercosul poderá ser assinado “durante o primeiro semestre do próximo ano”.
Márcio Cozendey reconheceu, no entanto, que ainda há dificuldades por resolver, especialmente as relacionadas com a entrada de carne e de biocombustíveis do Mercosul no mercado europeu. A proposta inicial apresentada pela UE não ia ao encontro das exigências do bloco sul-americano e não foi alterada nas propostas “melhoradas” apresentadas esta semana.
No entanto, fontes próximas das negociações disseram à agência de notícias espanhola Efe que os capítulos do acordo sobre a carne e os biocombustíveis poderiam ser objeto de uma discussão entre ministros de ambas as partes a fim de alcançar uma “solução política para o que não pudesse ser acordado” pelas equipes técnicas. As ofertas sobre o acesso aos mercados de carne bovina e etanol figuram entre os “assuntos complicados” que ainda precisam ser solucionados.
Desmatamento
Mas o futuro tratado de livre-comércio aumentará o desmatamento em regiões sensíveis, como a Amazônia, pela expansão da pecuária e de certas plantações, segundo alertou o grupo ambientalista Greenpeace. No dia 06, o grupo divulgou documentos secretos sobre as negociações, informou a EFE.
Os papéis vazados pelo escritório do Greenpeace na Holanda, que incluem 171 páginas, apresentam detalhes sobre algumas das propostas do acordo entre as partes e o impacto ambiental que significará o aumento das importações de carne e de grãos como a soja para a UE. A organização afirma que três ecossistemas naturais serão especialmente ameaçados: as regiões da Amazônia, do Cerrado e do ‘Gran Chaco’, que inclui partes da Argentina, Bolívia, Brasil (Pantanal) e Paraguai.
O desmatamento provocará também um aumento das emissões de CO2, segundo o Greenpeace, que acusa a União Europeia de falta de transparência e de não zelar pelo meio ambiente nas negociações do futuro acordo, que as partes pretendem fechar antes do fim deste ano.
Os vazamentos da ONG indicam que as importações de carne dos países do Mercosul para a UE poderiam aumentar entre 100% e 200%. Isso permitirá que a UE compre mais carne dos países do Mercosul, “em tempos no qual o gado continua sendo o principal impulsor do desmatamento na Amazônia, e tem um tremendo impacto na destruição do Cerrado no Brasil, e do Chaco na Argentina e no Paraguai”, afirmou o grupo.
Portugal e Espanha também
O Greenpeace disse ainda que teme que as importações em massa de carne do Mercosul também terão impacto nos ecossistemas de Portugal e Espanha. Isso porque “a Espanha é numerosa em habitats rurais que convivem em equilíbrio com um tipo de criação de gado tradicional e sustentável, que poderia desaparecer, gerando disfunções no funcionamento dos ecossistemas”, indicou o porta-voz do Greenpeace na Espanha, Miguel Ángel Soto.
Soto assegurou que muitos ecossistemas da Península Ibérica “dependem em grande medida da sobrevivência da criação extensiva de gado” e que a pecuária tem grande importância ecológica, “uma vez que contribui para manter o habitat de espécies ameaçadas como a águia-imperial, o abutre-preto, a cegonha-preta e o lince-ibérico”.
Quanto ao comércio de soja, as importações dos países do Mercosul à UE aumentarão de 1% a 3% com o acordo, segundo especialistas. Além disso, os vazamentos indicam que existe uma proposta da UE para proibir os impostos à exportação, o que levaria a Argentina a eliminar as taxas sobre a exportação de soja e incentivaria os agricultores sul-americanos a plantar mais.
O principal produto que os países do Mercosul exportam à UE é a soja, outro motor de desmatamento, que representa 22% do valor das exportações. O grão é utilizado na UE para a alimentação de gado confinado e está presente no 67% das rações de engorda.