Mundo Lusíada
Com agencias
O ministro português da Defesa defendeu que as indústrias da defesa são uma opção de estratégia “absolutamente fundamental”, reforçando a ideia de que seria “criminoso” que o Brasil e Portugal não aproveitassem o que os une também nesta área.
“Numa altura em que a União Europeia atravessa uma fase estimulante, vamos dizer assim, há uma coisa em que todos concordamos: as indústrias da defesa de duplo uso são uma opção estratégia absolutamente fundamental”, disse Azeredo Lopes, na abertura do I Diálogo entre as Indústrias de Defesa de Portugal e do Brasil, no Porto.
O ministro lembrou que no passado foi aprovada a nova estratégia global da União Europeia que, disse, “pela primeira vez projeta a organização para a esfera da Defesa e da indústria de Defesa”.
E, de seguida, estabeleceu uma ponte entre as resoluções da UE na área da defesa e aquilo que já une Portugal e o Brasil, nomeadamente o acordo assinado em 2010 que se concretizou, através da empresa de aeronáutica brasileira Embraer, que tem filiais em Évora, no desenvolvimento de um modelo de uma aeronave.
“[Conseguiu-se] 1.500 dias depois uma estrutura de engenharia aeronáutica de ponta (…). Os dois países demonstraram que, também através do tecido criativo, conseguiam falar para além das palavras de circunstância. Conseguiam criar riqueza, conseguiram criar um modelo de aeronave que pede meças em relação aqueles que tradicionalmente eram considerados como de ponta ou sofisticados”, disse o ministro da Defesa português.
Perante uma plateia de agentes ligados à área da defesa, mas também de empresários e investigadores portugueses e brasileiros e depois de terem discursado o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, bem como o ministro da Defesa do Brasil, Raul Jungmann, Azeredo Lopes referiu que Portugal é “atrativo por várias razões”, desde logo porque é “o quinto país mais passivo do mundo”, acrescentando as potencialidades como “país europeu”.
“Talvez ignoremos como a circunstância do ‘Brexit’ e outras turbulências transatlânticas que não importa desenvolver podem transformar este espaço num espaço de investimento e de plataforma como há poucos por essa Europa fora”, reforçou em jeito de convite ao Brasil para que não ignore este potencial.
“Partilhamos a cultura, a língua. Somos democracias. Partilhamos a história. Seria criminoso deixarmos isto de lado mais uma vez”, vincou.
Para o governante “o desenvolvimento de uma indústria de defesa assenta numa ideia muito positiva” porque se trata “daquilo que tem duplo uso”, logo que pode juntar o têxtil com a nanotecnologia e trazer consigo um investimento que obriga a ser excelente e competitivo.
“O mercado brasileiro é muito grande mas nenhum país, nem mesmo o Brasil, pode viver em autarcia, pode deixar de olhar para o lado e de estabelecer parcerias, pode recusar a oportunidade de num determinado país poder encontrar fontes de financiamento quer a fundo perdido, quer em condições favoráveis”, defendeu Azeredo Lopes.
O ministro foi então ao encontro do que o seu homólogo tinha referido na intervenção anterior e juntou, em termos de oportunidades, à indústria aeronáutica a área naval. “Estamos a falar da intervenção futura do Banco Europeu de Investimentos, é de planos de atração de investimentos e do robustecimento da indústria de defesa que apostam na dimensão bi ou multinacional”, concluiu.
Acordos
Ambos países assinaram acordo de cooperação na área de defesa. O ministro brasileiro Jungmann destacou que a iniciativa vai tornar viável um maior acesso da indústria brasileira ao mercado europeu, além de garantir ações militares conjuntas e estratégicas, como a manutenção da paz no Atlântico Sul, entre outras ações. O acordo prevê uma maior interação entre a indústria de defesa brasileira e portuguesa.
Ao lado do ministro da Defesa de Portugal, José Alberto Azeredo Lopes, que também assinou o acordo de cooperação, Jungmann salientou que “o Atlântico Sul, palco das travessias que uniram as histórias de nossos países, é um importante espaço geopolítico, que concentra diversos interesses e cobiçadas riquezas naturais, inclusive petróleo”. Segundo o ministro brasileiro a manutenção do Atlântico Sul como zona de paz e cooperação é uma prioridade.
Jungmann ressaltou o potencial de cooperação entre Brasil e Portugal na área de indústria de defesa com a presença de duas unidades da Embrear, na cidade portuguesa de Évora. O ministro defendeu a ampliação dessa parceria também no setor da construção naval. Já o ministro português lembrou o forte laço histórico. O ministro Azeredo Lopes demonstrou satisfação em estar assinando o acordo. “Se já fomos capazes de construir um cluster aeronáutico na cidade de Évora, temos plenas condições de criar um modelo de desenvolvimento conjunto nessa área tão estratégica que é a indústria da defesa”, disse Azeredo Lopes.
Os dois ministros tiveram uma reunião de trabalho no Comando do Pessoal do Exército português, onde discutiram futuras ações conjuntas militares. O acordo de cooperação foi assinado durante a realização do I Diálogo das Indústrias de Defesa Brasil – Portugal, no Porto. O evento reúne setores de governos e empresários brasileiros e portugueses para estabelecer mecanismos que ampliem possibilidades de negócios, além de criar uma agenda comum e permanente de contato.
Portas Abertas
O encontro foi iniciado no dia 09, no Porto, quando o Ministro português da Economia afirmou que Portugal “acredita que o desenvolvimento socioeconômico se faz através de uma política de portas abertas, de atração de investimento estrangeiro, de abertura ao comércio internacional e circulação de pessoas”.
Manuel Caldeira Cabral referiu que o Governo quer tornar a economia mais atrativa ao investimento, através de programas como o crédito fiscal ao investimento ou a remuneração de capital convencional.
“Estamos ainda a desenvolver políticas ao nível da inovação que visam colocar Portugal na frente da nova revolução digital”, acrescentou, indicando que “a indústria da defesa não faz hoje sentido sem inovação”.
O Ministro sublinhou o bom momento que a economia portuguesa está a viver, com destaque para o crescimento da procura interna, das exportações e da confiança dos consumidores.
“Continuamos a ter uma aceleração do crescimento econômico que se verificou desde o início de 2016”, disse, acrescentando que as exportações cresceram quase 12% em dezembro, depois de já terem aumentado 8% em novembro.
“A economia portuguesa criou mais de 100 mil novos empregos em 2016, o que constituiu também um dos maiores movimentos de criação de emprego registrados desde 2000”, afirmou.