Por Jean Carlos Vieira Santos
No último mês de outubro de 2024, fui ao Restaurante e Casa de Fados Bota Alta, na cidade de Évora, Patrimônio da Humanidade, no Alentejo, em Portugal. Esse ambiente típico, com um acervo decorativo inestimável, está localizado no coração do circuito fortificado e é frequentado por portugueses e estrangeiros; por isso, representa um espaço primordial onde o fado e a gastronomia alentejana se fazem presentes na experiência das pessoas, turistas ou não, de diferentes lugares do mundo.
Ao longo desse percurso viajante, entre as muralhas de Évora, mobilizei minhas palavras com a voz da fadista Inês Villa-Lobos, a qual se fez no silêncio, nas palavras cantadas, nos sentimentos e na emoção do público presente. No caso dessa geografia e da minha percepção, não há como desassociar a casa Bota Alta da musicalidade e viola de fados de Inês, como inspiração e arte de um mesmo movimento.
Entre vários momentos marcantes dessa noite no outono alentejano, registro a interpretação da fadista com “Saudades do Brasil em Portugal”, tema de Vinicius de Moraes. Foi um encontro inesperado com a poesia conhecida por nós em um destino repleto de saudades que nos carrega por outros cantos. A ocupação do espaço pela marcante voz de Inês Villa-Lobos e a poesia brasileira incidiram positivamente na viagem, na música e em nossos sonhos.
Presente em uma noite fria de reencontro com o fado, a viola e a guitarra, pude perceber as potencialidades dessa música que atravessa grandes mares em pleno processo de mundialização. Em meio a um contexto de observação da experiência vivida, me torno incapaz de pensar em Évora apenas pelos seus monumentos, casas pintadas de branco, cafés ou todas as ruas que terminam na Praça do Giraldo.
De fato, esse tempo efêmero proporcionou a contemplação, o conhecimento, a envolvência e a certeza da descoberta de um lugar incomparável, capaz de proporcionar prazeres inigualáveis e experiências que terminam apenas quando deixamos essa estação chamada vida. Também tive a impressão de que a viagem interior é intangível, mas devemos continuar com a celebração das vozes e casas de fados.
Antes de acrescentar o ponto-final neste texto, destaco outro ápice da visita: o agasalho da lareira e a recepção da Senhora Esperança, também cantadeira e proprietária da casa, que nos acolheu com extrema gentileza e atenção. Foi uma noite memorável, saborosa e emocionante entre as muralhas de Évora. Recomendo o lugar e voltarei com certeza!
Por Jean Carlos Vieira Santos
Professor e Pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG/TECCER-PPGEO). Pós-doutorado em Turismo pela Universidade do Algarve (UALg/Portugal) e Doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (IGUFU/MG).