Da Redação
Durante a passagem do ciclone Kenneth por Moçambique, uma ação coordenada entre agências da ONU, o governo moçambicano e bombeiros brasileiros salvou a vida de centenas de pessoas no último domingo em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, no norte do país.
A tempestade tropical, que chegou na quinta-feira passada (25) ao território moçambicano, destruiu até 90% das residências em algumas aldeias.
“Nós tiramos muitas pessoas de áreas vulneráveis que estavam completamente alagadas. A água foi subindo e destruiu muitas áreas residenciais. Se as pessoas estivessem lá, provavelmente não teriam resistido. Mais de cem poderiam ter sido vítimas fatais e foram só vítimas de um alagamento”, contou o capitão Kleber Castro, que comandou a operação de busca e salvamento.
A equipe do Brasil foi enviada para Moçambique há mais de um mês, para atender às vítimas do ciclone Idai. Bombeiros têm apoiado as autoridades e as Nações Unidas em resgates e na reconstrução de localidades destruídas.
O porta-voz do Escritório da Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA) no país, Saviano Abreu, acompanhou a evacuação do final de semana. De acordo com a ONU, o ciclone Kenneth afetou mais de 168 mil pessoas.
Dados iniciais da província de Nampula indicam que outros 42 mil moçambicanos foram deslocados devido às chuvas e cheias. Estima-se que mais de 7 mil mulheres grávidas estejam em risco dar à luz em condições inseguras nas áreas atingidas.
“Nosso principal desafio está ligado às condições climáticas para chegar às comunidades. Eu estive no Bairro Mahate, onde muitas pessoas estavam em áreas em risco de deslizamento. Corremos para lá e ativamos um dispositivo para tirá-las das áreas propensas a inundações. Com as chuvas fortes, a operação está sendo muito complicada e temos que lutar contra o tempo para salvar vidas”, explicou Saviano.
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) também apoiou as operações de busca e resgate no domingo passado. O organismo tem prestado assistência à população moçambicana desde a passagem do Idai, em março.
A agência já distribuiu mais de 4 mil “kits de dignidade” para as mulheres, com itens de higiene pessoal. A instituição da ONU também montou clínicas de atendimento dedicadas à prevenção e ao combate à violência de gênero. O organismo treinou ativistas e parteiras que vão atuar em regiões de maior vulnerabilidade.
“Neste momento, estamos a avaliar os nossos estoques remanescentes de kits de maternidade (com equipamentos para atender a mulheres grávidas e em trabalho de parto) na Beira para depois os enviarmos, através dos parceiros de implementação, para os centros de saúde afetados em Cabo Delgado”, disse o coordenador humanitário do UNFPA, Ingo Piegeler.
“Também estamos a organizar a distribuição de kits de dignidade e kits de saúde sexual e reprodutiva”, explicou o representante da agência.
UNICEF: ciclone deixa mais de 360 mil crianças em risco
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mais de 368 mil crianças em Moçambique estavam em risco e poderiam necessitar de apoio humanitário devido à chegada do Kenneth. A agência alertou que, segundo meteorologistas, pode continuar chovendo durante dias — o que aumenta o risco de inundações e deslizamentos de terra nas áreas afetadas.
“Cabo Delgado não tem histórico de ciclones e estamos profundamente preocupados com o fato de que as comunidades na área não estejam preparadas para a escala da tempestade, colocando crianças e famílias em uma situação muito precária”, disse Michel Le Pechoux, representante adjunto do UNICEF em Moçambique.
“O solo está saturado com a chuva e os rios já estão cheios, então a emergência provavelmente piorará com as enchentes nos próximos dias. Estamos fazendo todo o possível para obter equipes e suprimentos no local para manter as pessoas seguras.”
O UNICEF tem equipes em Cabo Delgado, especializadas em saúde, nutrição, proteção infantil, água e saneamento. Às vésperas da passagem do ciclone Kenneth, os profissionais da agência da ONU separaram suprimentos, incluindo kits de saúde e produtos de purificação de água, para acelerar a resposta de emergência.
Esta é a primeira vez na história registrada que dois ciclones tropicais fortes atingiram Moçambique na mesma temporada. A devastação causada pelo Idai e pelo Kenneth pode elevar o número de crianças que precisam de assistência humanitária para quase 1,4 milhão.
Após o ciclone Idai em março, o UNICEF lançou um apelo de 122 milhões de dólares para apoiar a resposta humanitária em Moçambique, Zimbábue e Malauí nos próximos nove meses.
O organismo internacional está arrecadando doações também no Brasil. As contribuições podem ser feitas online ou pelo telefone 0800-9400404.