Da Redação
Com EBC
O presidente Jair Bolsonaro afirmou na quarta-feira estar preocupado com possíveis “armadilhas” no acordo comercial do Mercosul com a União Europeia, que possam prejudicar um futuro acordo com os Estados Unidos. A declaração foi dada a jornalistas após o presidente se reunir, no Palácio do Planalto, com o secretário de comércio norte-americano, Wilbur Ross, que cumpre agenda oficial no Brasil.
“Todo mundo está preocupado com algumas armadilhas, todo mundo preocupado com isso aí, que você talvez possa, no acordo [União Europeia] com Mercosul, ter algum problema ao assinar um acordo com EUA. Isso vai em cima até numa questão de inteligência, todo mundo tem que se preocupar com isso daí, tem que saber se porventura há armadilhas ou se não há. A gente parte do princípio não há”, afirmou.
Em evento realizado dia 30, na Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo, Wilbur Ross argumentou que há diferenças entre as exigências para comércio com a União Europeia e com os Estados Unidos.
Nesse caso, parâmetros e padrões relacionados a diversos setores econômicos, bem como indicadores e regulação sanitária, por exemplo, poderiam travar um eventual acordo com o Brasil, já que o país pode ter aderido aos padrões europeus no acordo fechado recentemente entre o Mercosul e a União Europeia. Ele deixou claro que há interesse dos EUA em estabelecer livre comércio com o Brasil, mas pediu cuidado para que o país “não caia em armadilhas” que dificultem um acordo futuro com os americanos.
“Nós temos diferenças com a Comissão Europeia em alimentos, químicos, automóveis, farmacêuticos, em todo tipo de setor. A gente também tem problemas com a visão deles em indicadores geográficos de alimentos e em um monte de regulações sanitárias e fitossanitárias. Então, o que quero advertir é que, por favor, tenham cuidado para não caírem em armadilhas [regulatórias] que sejam inconsistentes com o acordo de livre comércio conosco”, disse, sem dar detalhes.
Bolsonaro classificou a reunião com Ross em Brasília como “excelente” e avaliou que as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos estão aquém do potencial. “Acho que nosso comércio, dois países que tem juntos mais de 500 milhões de habitantes, é muito fraco”, afirmou. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2018, as exportações de produtos brasileiros aos país norte-americano representou cerca de 12% do total, somando US$ 28,7 bilhões.
Entre os principais produtos exportados estão aviões, óleos brutos de petróleo e produtos semimanufaturados de ferro e aço. O Brasil importa principalmente combustível refinado, como gasolina e óleo diesel.
Negociação EUA já começou
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o processo de negociação de um acordo comercial entre Brasil e Estados Unidos já começou. Guedes também recebeu o Secretário Wilbur Ross, e disse que ficou claro que as negociações estão oficialmente abertas.
“Ficou amarrado que o que era só um pensamento agora é o seguinte: já estamos começando oficialmente as negociações com os Estados Unidos. Quando terminamos [a reunião], o Marcos [Troyjo, Secretário de Comércio Exterior e Relações Internacionais do Ministério da Economia] perguntou se oficialmente já estávamos em negociações. Ele [disse]: ‘Certamente. Nós queremos isso’”.
Guedes disse que outros países começaram a ver a disposição do Brasil em abrir gradativamente seu mercado e manifestaram o desejo de iniciar uma série de conversas. “Quando o Brasil anunciou que quer aumentar o seu grau de integração, o Brasil entrou em campo. Então, vieram os americanos conversando”.
O ministro disse que o acordo passará por acertos de parte a parte para atender interesses de ambos os países. “Nós queremos mandar autopeças e eles têm que mandar trigo. Então eles falam ‘deixa meu trigo entrar’ e nós falamos ‘deixa minha autopeça entrar’. Mas a escala é muito maior”, explicou o ministro, de forma simplificada, sobre como os entendimentos comerciais entre os dois países se darão.
O governo evita falar em prazos para concluir a negociação, mas fala em fechar um acordo “ambicioso” com a maior economia do mundo. Segundo Troyjo, o Brasil precisa aproveitar a atual “conjuntura favorável” para avançar na negociação com os EUA. Essa conjuntura, segundo ele, é composta, dentre outros fatores, pelo alinhamento político convergente entre os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro; dos Estados Unidos, Donald Trump; e da Argentina, Mauricio Macri.
A disposição de Macri é importante, assim como dos outros presidentes do Mercosul, porque todos os acordos comerciais que envolverem alterações em tarifas precisam passar pelo bloco. Isso ocorre porque o Brasil já participa de uma união aduaneira, que é o Mercosul.
Acordos que não envolvam tarifas, como aqueles sobre propriedade intelectual, telecomunicações e convergência regulatória, podem ser conduzidos entre os dois países sem a participação do Mercosul. “Na nossa conversa com o secretário Ross, combinamos de nos engajar em ambas possibilidades”, afirmou Troyjo.