Bispo de Leiria-Fátima compara santuários a postos de carregamento de baterias

Peregrinação anual internacional de outubro 2022 no Santuário de Fátima. PAULO CUNHA/LUSA

Da Redação com Lusa

Neste 13 outubro, o bispo de Leiria-Fátima comparou os santuários aos “estacionamentos dos carros elétricos dos nossos dias, que fornecem a oportunidade de encontrar carregadores do amor de Deus” e permitem “continuar a caminhada da vida”.

Na homilia final da peregrinação de 13 de outubro, em que se celebrou a solenidade da sagração da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, José Ornelas considerou que o santuário de Fátima “não é apenas um memorial do passado e da história de três pastorinhos”.

“Ele só tem sentido se for local do encontro dinâmico de cada peregrino com Cristo, de profissão conjunta da fé”, acrescentou o prelado, para quem, no Santuário de Fátima, Maria ensina “a ser Igreja unida na mesma fé e caminhar juntos, como Igreja sinodal para levar Cristo ao mundo”.

Por outro lado, “habitualmente, os peregrinos não ficam no santuário; voltam para as suas vidas e os seus caminhos”, disse o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

“Não se trata de um simples retorno a casa: os santuários são também lugares de partida desses peregrinos, para que sejam testemunhas e missionários da luz, da força e da esperança que o santuário lança nas suas vidas, para a levarem e partilharem com quem mais precisa”, acrescentou José Ornelas perante milhares de peregrinos presentes no recinto do Santuário de Fátima para a última grande peregrinação do ano.

Esta peregrinação ficou marcada, principalmente na quarta-feira, pela questão dos abusos de menores no seio da Igreja Católica, com José Ornelas a considerar, em conferência de imprensa, que são acontecimentos dramáticos que “não têm desculpa”, acrescentando que qualquer “número é sempre demasiado” e uma derrota.

“Mas estamos num ponto, também nós, de viragem”, garantiu, assinalando que a constituição da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa “significa um esforço grande” que a instituição está a fazer, porque não se conforma com aquilo que sabe que, “infelizmente, existiu também na Igreja”.

Sobre os casos que o visam particularmente, declarou-se “tranquilo”, frisando não ter havido “nenhuma manobra de encobrimento” e não ter sido contactado pelo Ministério Público.

À noite, na homilia da celebração da palavra, o bispo evocou Sophia de Mello Breyner para explicar aos peregrinos de Fátima qual deve ser a atitude da igreja nos tempos de hoje e que se resume a encarar os problemas de frente.

“Vemos, ouvimos e lemos… não podemos ignorar”, citou, na homilia da celebração da palavra desta noite no Santuário de Fátima, acrescentando que “esta tem de ser também a atitude da Igreja, que invoca Maria como sua Mãe”.

“Como Igreja, temos de estar na linha da frente do estar atento, do proteger, do estar próximo a todas as fragilidades. Essa é a nossa missão, nascida e modelada pelo amor paterno/materno de Deus presente em Maria, Mãe e modelo do agir humano”, defendeu o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), perante uma assembleia de milhares de peregrinos presentes no santuário da Cova da Iria.

Irmã Lúcia

A vice-postuladora para a Causa de Beatificação e Canonização da irmã Lúcia afirmou que o documento das virtudes da irmã Lúcia, entregue hoje ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, é um “passo importante”.

“É um passo importante no processo da causa da irmã Lúcia”, afirmou à agência Lusa a irmã Ângela de Fátima Coelho, referindo que se tratou da entrega de um volume, com 1.986 páginas, que “contém toda a informação necessária para que os teólogos, os bispos e cardeais que colaboram com o Dicastério para as Causas dos Santos possam apresentar ao Santo Padre”, para que o Papa “possa declarar a heroicidade das virtudes da irmã Lúcia”.

Trata-se de um volume que contém a biografia da irmã Lúcia feita a partir dos documentos recolhidos na fase diocesana do processo (que decorreu na Diocese de Coimbra entre 2008-2017), a ‘Informatio’ que descreve as virtudes vividas pela vidente, “bem como, o elenco dos depoimentos das testemunhas, o seu diário e outros documentos inéditos, considerados relevantes no processo”.

Segundo a vice-postuladora, a irmã Lúcia “passará a ser Venerável após o estudo deste documento, se o Santo Padre o entender”.

O documento com as virtudes da irmã Lúcia foi entregue hoje ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, em Roma, representando “mais um passo” no processo de beatificação da vidente de Fátima, anunciou o santuário.

A vice-postuladora explicou que, “do ponto de vista do trabalho humano, da investigação, do estudo, da reflexão, da leitura dos seus documentos”, é o que pode ser feito para que o Papa “decretar Venerável a irmã Lúcia”.

“Ela até agora é Serva de Deus, depois passa a ser Venerável e sem este passo não se poderia avançar para a beatificação e canonização”, precisou, destacando que, “depois, ficará a faltar o milagre para a beatificação e outro para a canonização”.

Questionada sobre o tempo que pode levar até a vidente de Fátima ser decretada Venerável, Ângela de Fátima Coelho apontou “alguns meses, no mínimo”.

“O Santo Padre vem a Portugal para a JMJ [Jornada Mundial da Juventude]. Por essa ocasião, seria muito interessante, mas, de fato, agora depende um pouco também do trabalho dos teólogos, dos bispos e cardeais que colaboram no Dicastério para as Causas dos Santos”, declarou.

No ato de entrega da ‘Positio’ estiveram presentes o prefeito do Dicastério, cardeal Marcello Semeraro, o postulador-geral, padre Marco Chiesa, a vice-postuladora, irmã Ângela de Fátima Coelho, o relator, monsenhor Maurizio Tagliaferri, e a colaboradora da causa irmã Filipa Pereira.

A fase diocesana do processo de beatificação e canonização da Irmã Lúcia de Jesus (1907-2005), uma das três videntes de Fátima, chegou ao fim em 13 de fevereiro de 2017, altura em que passou para a competência direta da Santa Sé e do Papa.

A irmã Lúcia de Jesus viveu 57 anos de vida carmelita e encontra-se sepultada na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, no Santuário de Fátima, desde 2006.

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