Mundo Lusíada
Com Lusa
O ex-Presidente norte-americano Bill Clinton defendeu em 29 de maio em Lisboa, que Portugal “fez um trabalho notável” para sair da crise financeira, “ao recuperar até um nível em que o crescimento econômico é possível”.
Na conferência sobre “A atual situação econômica mundial” que proferiu na Universidade Europeia, na qualidade de chanceler honorário das Laureate International Universities, Clinton frisou que esta é a primeira universidade privada criada em Portugal nos últimos 20 anos e que “a melhor estratégia a longo prazo para o país é apostar na educação, melhorar as condições de empregabilidade, investir no país de amanhã”.
“Eu não sou um especialista em Portugal, mas acho que enfrentaram este período difícil e se saíram bastante bem. São agora novamente livres para criar um novo futuro”, sustentou, acrescentando que esse futuro passará, obrigatoriamente, “pela restruturação da dívida”.
Em seguida, o ex-inquilino da Casa Branca comentou que “é bom para o mundo quando há bons exemplos, sítios onde as coisas resultaram, isso cria um horizonte de esperança”.
Quanto ao projeto de integração europeia, o 42º Presidente dos Estados Unidos (1993-2001) sublinhou que sempre acreditou nele, mas que “seria ingênuo achar que seria fácil”.
“A ideia europeia torna-se menos atraente quando parece ser todos os dias sinônimo de privação econômica”, observou.
Sobre as eleições para o Parlamento Europeu, que decorreram entre 22 e 25 de maio nos 28 Estados- membros da União Europeia e nas quais se registrou uma elevada taxa de abstenção, Clinton considerou que os partidos devem analisar estes resultados com atenção.
Ao abster-se e ao votar em separatistas, extremistas e eurocéticos, argumentou, “o público está a dar um sinal de alerta aos políticos de que tem de haver uma responsabilidade partilhada e uma prosperidade partilhada”.
Declarando-se “nada surpreendido” com esta repercussão da crise europeia nas urnas, Clinton explicou porquê: “Quando a ideia europeia nasceu, criou a expectativa de que pudesse haver prosperidade e liberdade em todo o lado, [mas] o sonho europeu envolve um debate sobre a identidade que decorre nas mentes e corações de centenas de milhões de pessoas sobre o que têm em comum e o que as diferencia”.
Como concluíram os cientistas responsáveis pela sequenciação do genoma humano, em 2000, financiado pelo Governo democrata de Clinton, os seres humanos são 99,5% iguais e, portanto, apenas 0,5% diferentes, referiu.
“Temos de concentrar-nos no que temos em comum e naquilo de que temos de abdicar para termos mais”, insistiu, notando que “quando as pessoas trabalham em conjunto, em comunidade, boas coisas acontecem – embora não façam manchetes -, mas onde as pessoas se concentram nas suas diferenças, não avançam”.
“A nossa identidade é importante, mas a nossa humanidade comum é mais importante”, salientou, acrescentando que a mudança de mentalidades “demora tempo”, como se pode ver pela quantidade de anos que os Estados Unidos levaram, por exemplo, para abolir a escravatura.
Como vivemos num mundo interdependente, e “a interdependência pode ser boa ou má, mas não se pode evitar”, resta “a todos os países definirem – e é essa a sua maior tarefa – os termos da sua interdependência”, por forma a maximizar os benefícios e a minimizar os aspetos negativos, vincou.
“Estamos condenados a partilhar o futuro, e é bom que nos dediquemos a definir melhor os termos dessa partilha, porque atualmente o mundo é demasiado desigual e a desigualdade causa instabilidade, que se estende também à política”, concluiu Bill Clinton.