Projeto São Paulo: Seus Povos e Sua Música começa com homenagem a Comunidade Árabe.
Por Eulália MorenoPara Mundo Lusíada
Eulália Moreno
>> No palco, a curadora Anna Maria Kieffer, o repentista Elieser Teixeira e o grupo árabe Sami Bordokan.
Após três anos de reformas, a Biblioteca Municipal Mario de Andrade foi devolvida à cidade de São Paulo no dia do seu 457º aniversário.
A coleção geral está novamente disponível para consultas – o que inclui parte das 51 mil edições raras e especiais. Com um acervo que reúne cerca de 3,3 milhões de itens, entre livros, jornais, mapas, obras de arte e outros documentos, a biblioteca paulistana é a segunda mais importante do país, depois da Nacional, com sede no Rio de Janeiro.
Foram R$ 16,3 milhões investidos na melhoria das instalações numa parceria entre a Prefeitura de São Paulo e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
A então Biblioteca Municipal de São Paulo abriu-se ao público em 1926, com obras doadas pela Câmara da cidade. Foi a partir de 1935, com a criação do Departamento de Cultura e Recreação, tendo à frente o poeta, pesquisador e crítico Mário de Andrade, que a instituição passou a ganhar mais peso e projeção.
A Ministra da Cultura Ana de Holanda esteve presente, assim como a escritora Ligia Fagundes Telles, dentre outras personalidades políticas e culturais. Um protesto contra o aumento do passe de transporte público que reuniu algumas centenas de pessoas que se manifestavam contra o prefeito Gilberto Kassab foi neutralizado com a intervenção das forças policiais que ali se encontravam.
“Seus Povos e Suas Músicas”
No passado dia 29 de Janeiro teve início o projeto que contou com a presença dos palestrantes Soraya Samaili, Diretora Cultural do Instituto de Cultura Árabe e Oswaldo Truzzi, professor associado da Universidade Federal de São Carlos e autor do livro “Patrícios: Sírios e Libaneses em São Paulo”.
Os descobridores portugueses chegaram ao Brasil fortemente arabizados devido a presença durante mais de 800 anos dos árabes na Península Ibérica, e assim a cultura árabe foi introduzida no país, e vestígios dessa presença ainda se observam na cultura brasileira, principalmente na música tradicional nordestina.
Nos momentos musicais apresentados pelo Grupo Sami Bordokan (Sami Bordokan no alaúde e canto árabe, Cláudio Kairouz no Kanoun e William Bordokan no Derbaki, Bandir e Daff) e Grupo Trivolim, criado pelo cantador e pesquisador Eliezer Teixeira e por Marli Damasceno, promoveu-se o reencontro dessas culturas através da apresentação de peças de música clássica árabe conjuntamente com expressões populares em torno do guerreiro alagoano, tradição que recupera, na música e na dança as guerras entre mouros e cristãos.
Em 16 de Abril será a vez da Comunidade Portuguesa
Inaugurando o recém reformado Auditório da Biblioteca Municipal Mário de Andrade e com a Curadoria da pesquisadora Anna Maria Kieffer, o projeto São Paulo: Seus Povos e Sua Música será apresentado, gratuitamente, entre Janeiro e Maio, sempre aos sábados das 16h00 às 19h00 (com exceção do evento do dia 12 de Fevereiro que acontece entre as 15h00 e as 18h00).
Serão 13 eventos que se constituem na ampliação do trabalho por ela realizado no CD “Cancioneiro da Imigração” apresentando agora não apenas o que as comunidades de imigrantes conservam de mais tradicional, como também um histórico de integração à cidade e a outras comunidades nativas.
O projeto contempla apresentações musicais das comunidades árabe, italiana, russa, japonesa, germânica, húngara, andina, judaica, espanhola, polonesa, portuguesa, coreana e africana, bem como, de palestrantes membros de cada comunidade que falarão sobre a história da imigração dos seus respectivos cidadãos.
Assim no próximo dia 5 de Fevereiro, a Comunidade Italiana será a homenageada. A imigração italiana que não apenas trouxe consigo uma grande quantidade de cantos tradicionais da Sardenha, Nápoles, Abruzzi, Lacio, Toscana e Veneto (dentre outras) como contribuiu para o desenvolvimento da música na cidade de São Paulo com a criação de grupos amadores e profissionais de ópera e a formação de compositores que enriqueceram o painel de compositores paulistanos, principalmente durante o Modernismo. Essa apresentação reúne obras vocais de música erudita, popular e de salão pontuadas por intervenção de música tradicional através de um duo de gaitas-de-fole tocadas por membros da comunidade.
A Comunidade Russa estará presente no dia 12 de Fevereiro com seus Cantos Sacros e Profanos apresentados em datas religiosas nos seis templos da Igreja Ortodoxa Russa. Serão entoadas obras da tradição russo-ortodoxa da Semana Santa e obras de compositores russos do século XIX/XX como Tchaikowski e Rachmaninov, dentre outros.
No dia 19 de Fevereiro será a vez da Comunidade Japonesa cuja presença em São Paulo é ressaltada pelas suas manifestações culturais que atraem grande número de paulistanos. Dentre os grupos musicais que mais se tem dedicado ao estudo da música antiga e contemporânea do Japão, destaca-se a Associação Brasileira de Música Clássica Japonesa que apresentará alguns dos seus solistas interpretando obras clássicas japonesas antiga e obras de compositores japoneses atuais.
Um das mais antigas imigrações oficiais no Brasil, a alemã (num momento em que a Alemanha ainda não existia como Estado), assim como a de austríacos e suíços contribuiu muito na formação musical da cidade durante todo o século XIX e boa parte do século XX. Um pouco dessa história será revivida na apresentação do dia 26 de Fevereiro através de testemunhos e exemplos musicais, incluindo música de câmara, barroca, trechos de óperas e operetas e exemplos de haussmusik, como era chamada a música realizada em reuniões domésticas por instrumentistas e cantores.
Sonatas de Haendel e Schumann para trio de cordas, árias e canções de Mozart e Schubert, canções folclóricas alemãs, harmonizadas por Brahms, canções tradicionais internacionais, harmonizadas para vozes e trio de cordas por Beethoven, trechos de operetas de Lehár e Strauss II fazem parte do repertório dos instrumentistas que estarão presentes.
Depois de uma breve pausa no sábado de Carnaval, o projeto retoma a sua agenda no dia 12 de Março com a Comunidade Húngara.
No dia 16 de Abril será a vez da Comunidade Portuguesa com um programa de palestras a cargo da Historiadora Sonia Maria de Freitas e de Antonio Claret, da Casa de Portugal São Paulo, e participação musical da soprano Luiza Sawaya com Achille Picchi ao piano, Ricardo Araújo na Guitarra Portuguesa, Renato Araújo no violão, Saulo Rodrigues no baixo e Agostinho Machado, na sanfona. Prevista igualmente a apresentação da Tocata do Grupo Folclórico da Casa de Portugal.
Quando da apresentação do projeto no dia 25 de Janeiro, a ausência do Fado foi logo sentida justamente nesta semana em que o Fado foi oficialmente apresentado como candidato a Patrimônio Histórico Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Segundo declarou ao Mundo Lusíada, a curadora Anna Maria Kieffer “todo o apoio lhe tem sido prestado por representantes da Comunidade Portuguesa e que ela só tem a agradecer por todo o carinho”, e nos próximos dias prometeu manifestar-se sobre a possibilidade da inclusão do Fado, a expressão maior da alma lusitana, nesse evento tão significativo para a Comunidade.