Bajular para Enganar

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Assumir posições frontais e sinceras em defesa de um familiar, amigo, colega, ou de uma outra pessoa por quem temos profunda estima, benquerença e apreço, e de igual forma manifestamos, persistentemente: solidariedade, amizade, lealdade e, sempre que necessário, defendemos vigorosa e intransigentemente; que apoiamos e ajudamos, sem reservas, não está ao alcance de uma grande maioria das pessoas.

Diz-nos a experiência de vida, fundada numa já relativa longa existência, e na investigação científica sobre o assunto, que cada vez mais se recorre à impostorice, à bajulação inculta, à hipocrisia oportunista, para se agradar a outra pessoa, a uma instituição e/ou respetivos dirigentes, para se alcançarem determinados objetivos que, por processos legais, legítimos, justos e meritórios e com comportamentos indubitavelmente verdadeiros, não se conseguiriam.

Com alguma frequência, também se assiste a uma inqualificável indiferença em relação a pessoas que nos são queridas, como por exemplo: pais, cônjuges, filhos, netos, amigos verdadeiramente mais íntimos, colegas, entre outros, justamente por aquelas criaturas que, em certas circunstâncias, nos bajularam, quantas vezes, por banalidades tão pacóvias quanto insignificantes.

É necessário defendermos uma posição firme, digna, que no que respeita a nós próprios, quer no que concerne aos nossos familiares, porque em bom rigor, quem não respeita, por exemplo: o meu cônjuge, os meus pais, os meus filhos, os meus amigos autênticos, designadamente, endereçando-lhes uma saudação a propósito de um evento, também não tem a mínima consideração, muito menos amizade ou respeito por mim e, portanto, quando procura entabular conversa, através de um qualquer meio, afinal, poderá não estar a ser uma pessoa sincera para comigo, apenas querendo, eventualmente, exibir-se.

Comportamentos desta natureza observam-se bastante, nas redes sociais. Sabendo-se que hoje em dia, o recurso, por exemplo aos: Blog, Facebook, Twitter, Instagram, entre outros, é já uma prática corrente, dir-se-ia, diária, na verdade, deteta-se, com muita facilidade, aquele tipo de comportamentos, isto é: certas pessoas surgem com as chamadas “curtições/Gostos/Likes”, mas depois esquecem-se de ter uma atitude de: consideração, estima, amizade e  carinho,  precisamente para com algum familiar, muito próximo, ou de pessoa com quem, noutras ocasiões, manifestam, com relativa assiduidade, as comunicações mais banais e fúteis que se possa imaginar.

Muitas pessoas dizem-se “amigas”: seja na dimensão real; seja na intervenção virtual. Visitam as páginas/perfis/contas desses titulares, deixam um ou outro comentário, esperam uma resposta que, por vezes, chega no mesmo dia, ou volvido algum tempo.

Entretanto, ocorre o tal evento, por exemplo, o aniversário de um familiar muito chegado da pessoa de quem nos proclamamos sermos amigo, todavia, não somos capazes de escrever três simples palavras: “Parabéns Senhora (r) Fulana (o)”, para de seguida, noutras postagens banais, já colocarmos lá a nossa passagem com o célebre “Gosto/Like” e, não raras vezes, um comentário.

Afinal que espécie de amigos somos para com a pessoa cujo familiar é aniversariante, num determinado dia, e não temos a gentileza, para não dizer a generosidade de felicitar a pessoa que é pai, mãe, filho, marido, esposa, de quem afirmamos ser amigos? Não caberá este comportamento numa classificação de hipocrisia? Bajulação Cínica? Desvalorização do ente querido do nosso amigo?

É tempo de assumirmos: com verdade, com sinceridade e generosidade as nossas amizades, porque quem utiliza a impostorice para ficar bem visto, na realidade, não sai nada bem destas situações, e quem lhes aceita estes comportamentos deve estar muito atento, porque tais pessoas: falsas, impostoras, oportunistas, numa das esquinas da vida, são as primeiras a abandonarem-nos, se delas precisarmos, e a “trespassarem-nos” com “punhal” da deslealdade nas costas, à falsa-fé, sem quaisquer contemplações.

A verticalidade, a assertividade, a honestidade intelectual, a sinceridade, os princípios e os valores da solidariedade, da lealdade, da humildade, da cumplicidade autêntica e da gratidão, a par do sentimento da amizade incondicional, são muito raros e pagam-se muito caro, por isso e para muitas pessoas, eventualmente, em número crescente, é muito mais fácil, e bonito, recorrerem aos expedientes bajulatórios, sorrisos de “orelha-a-orelha” e “palmadinhas nas costas”. Infelizmente, ainda há quem goste destas mesuras.

Esta classe de individualidades, fazem-se passar por pessoas supereducadas, cultas, agradáveis, mas que bem lá no fundo, se tornam indiferentes perante um ou outro dos nossos familiares mais queridos. Provavelmente, até têm vergonha de lhes dirigir a palavra, um cumprimento, uma saudação, um gesto de cortesia, talvez por estes nossos familiares serem pessoas humildes, simples, possuidoras de uma “Cultura Antropológica”, que não agrada aos intelectuais elitistas.

Assim vai alguma sociedade, assim se comportam muitas pessoas. Estamos no paradigma do “salve-se quem puder; custe o que custar”, porque é necessário ficar-se “bem visto” na comunidade e perante a família, os amigos, os colegas, mesmo que com estes não se seja efetivamente correto, por isso, um longo caminho ético-moral há para percorrer, por todos nós, sem dúvida.

 

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021
Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

 

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

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