Da Redação com Lusa
O presidente da Assembleia da República de Portugal lamentou a morte da investigadora e conceituada especialista da literatura de língua portuguesa Cleonice Berardinelli, na terça-feira, aos 106 anos, considerando que o seu trabalho continuará a iluminar o mundo literário.
“Ao fim de uma longa vida, Cleonice Berardinelli deixou-nos. Era a decana dos estudos sobre literatura portuguesa, realizados no Brasil. Professora, investigadora, acadêmica, o seu trabalho continuará a iluminar-nos”, escreveu hoje Augusto Santos Silva na rede social Twitter.
Especialista em literatura portuguesa do Brasil doutorou-se em 1959 em Letras Clássicas e Vernáculas pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, foi professora durante mais de 50 anos em instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Cleonice Berardinelli foi também professora na Universidade Católica de Petrópolis, no Instituto Rio Branco e foi professora convidada pela Universidade de Lisboa (1987 e 1989), e Universidades da Califórnia (1985).
Entre as principais obras de Cleonice Berardinelli encontram-se “Estudos camonianos, de 1973, que foi ampliada em 2000, “Obras em prosa: Fernando Pessoa”, de 1986, “A passagem das horas de Álvaro Campos”, de 1988, “Poemas de Álvaro Campos”, editada em Lisboa em 1990, “Fernando Pessoa: outra vez te revejo, de 2004”, e Gil Vicente: autos”, de 2012.
Também o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, divulgou uma nota de pesar pela morte de Cleonice Berardinelli, realçando o seu “lugar destacadíssimo” entre os estudiosos brasileiros da literatura portuguesa.
“De todos os lusitanistas, que tanto contribuem para manter viva a cultura portuguesa no mundo, os brasileiros merecem menção especial, dada a nossa história antiga e a nossa língua comum. E de entre os estudiosos brasileiros da literatura portuguesa, Cleonice Berardinelli tinha um lugar destacadíssimo”, lê-se numa nota do chefe de Estado português.
Na mensagem publicada pela Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa refere que “os escritores e acadêmicos portugueses e brasileiros, e os seus alunos dos dois lados do Atlântico, devem muito ao magistério de «Dona Cleo», como era carinhosamente tratada”.
“Manifesto, na sua partida, o meu pesar e a nossa gratidão”, declara o Presidente da República.
“Decana da Academia Brasileira de Letras, era correspondente da Academia das Ciências de Lisboa desde 1975, foi membro do júri do Prêmio Camões e recebeu as insígnias da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem de Sant’Iago da Espada”, lê-se ainda na mensagem publicada pela Presidência da República.
Pessoa
A Acadêmica e escritora Cleonice Berardinelli morreu dia 31, aos 106 anos, no Hospital Samaritano, vítima de insuficiência respiratória. Cleonice foi eleita para a Academia Brasileira de Letras em 2009, sucedendo Antônio Olinto, e era considerada uma das maiores especialistas do mundo em literatura portuguesa, sobretudo na obra de Fernando Pessoa. Ela era a sexta ocupante da cadeira nº 8 e a Acadêmica mais longeva da Instituição. O velório aconteceu neste dia 1 no Petit Trianon, na ABL. A cremação será na quinta-feira, dia 2 de fevereiro, com cerimônia somente para família. Também será realizada uma Sessão da Saudade na Academia em homenagem à autora.
Cleonice Serôa da Motta Berardinelli nasceu no Rio de Janeiro em 28 de agosto de 1916, filha de Emídio Serôa da Motta e Rosina Coutinho Serôa da Motta. Como seu pai era oficial do Exército, morou em inúmeras cidades do Brasil, devido às sucessivas transferências, tendo residido por mais tempo no Rio e em São Paulo.
No Brasil e no Exterior, proferiu diversas conferências e palestras em mesas-redondas. Recebeu, ao longo de sua trajetória, diversas distinções e homenagens, como Cleonice Clara em sua geração, livro de homenagem organizado por professores de Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que contém ensaios de especialistas brasileiros e estrangeiros.