Autarca pede “Portugal menos centralista” e presidente encerra posse em homenagem ao Porto

Presidente da Marcelo Rebelo de Sousa (E), acompanhado pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira (D), acena à população à varanda da Câmara Municipal do Porto, durante a visita oficial à cidade no âmbito das cerimônias da sua tomada de posse. FERNANDO VELUDO/LUSA
Presidente da Marcelo Rebelo de Sousa (E), acompanhado pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira (D), acena à população à varanda da Câmara Municipal do Porto, durante a visita oficial à cidade no âmbito das cerimônias da sua tomada de posse. FERNANDO VELUDO/LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, pediu nesta sexta-feira ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa que “lute contra a desigualdade e a injustiça” e defenda uma mudança de mentalidades para “um Portugal menos centralista”.

“Com a sua voz e a sua autoridade, peço-lhe que lute contra a desigualdade e injustiça. Erga também a sua voz em defesa de um Portugal menos centralista, um Portugal que deixe enfim respirar os que querem ousar, arriscar, fazer mais e melhor. Estamos a falar de muito mais do que um centralismo de interesses. Estamos a falar de mentalidades e da sua necessária mudança”, afirmou o autarca na recepção formal ao novo PR, no Porto.

Rui Moreira alertou ainda que Portugal “está mais assimétrico e, desgraçadamente, mais desigual”, porque o país “são todos os portugueses, mas são ainda muito diferentes as condições em que vivem e aquilo a que podem aceder”.

“Portugal é muito mais do que o Palácio de Belém e outras sedes de órgãos de soberania” disse Rui Moreira, e ainda que os “portugueses são do Interior, do Litoral e das Ilhas”.

Valorizar Portugal
O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “é tempo de falar menos” do que deprecia Portugal e “falar mais” do que o que o país tem de melhor. “Dos nossos defeitos falamos nós e falam outros por nós, em demasia”, disse, “Portugal precisa de quem recorde a coragem e a tenacidade dos portugueses”.

Apontando o Porto como uma cidade que “nunca cedeu ao desalento, ao pessimismo, ao derrotismo”, o chefe de Estado afirmou ser “essencial” para todos “este sublinhado de virtudes, assumidos sem complexos e com desassombro”.

“O que nos divide e diminui conhecemos todos, das ideias aos fatos, ao comprazimento com as previsões erradas ou que vão errar, com os caminhos outrora sem saída ou que a não terão no futuro, como o júbilo perante as agruras ou os insucessos dos adversários”, referiu, sublinhando: “é tempo de falar menos do que nos deprecia e falar mais do que nos valoriza”.

Marcelo apelou ainda aos portuenses para que “jamais troquem a liberdade, o seu rigor no trabalho, os seus gestos de luta e de coragem por qualquer promessa de sebastianismo político ou econômico”. “O futuro é obra de todos, não é dádiva de ninguém”, disse.

O chefe de Estado pediu ainda para que “nunca se rendam à ideia errada de que quase nove séculos de história ou de poder são obra do acaso, que é uma fatalidade que Portugal esteja votado a ser pobre, dependente, injusto, sem lugar para a vontade dos portugueses”.

No seu discurso, citando os escritores Sophia de Mello Breyner e Miguel Torga, Marcelo referiu características atribuídas às “gentes” do Porto, como “amor à liberdade, exemplo de trabalho e gosto de luta e de combate”.

Segundo ele, Porto é “de algum modo o berço da liberdade e da democracia”, afirmando que terminar as cerimônias de posse na cidade é “uma homenagem ao Porto”.

“Aqui vir e aqui estar hoje a terminar as cerimônias de posse iniciadas em Lisboa é, a dois títulos, simbólico. É simbólico como homenagem ao Porto, ao seu passado, ao seu presente e ao seu futuro. É simbólico como sublinhado de virtudes nacionais num tempo atreito a desânimos, desilusões e desavenças”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, nos Paços do Concelho.

Para o Chefe de Estado, a história da cidade “enche o Porto de glória”, mas “o presente continua a fazê-lo como terra de gente de caráter, de liberdade, de convivência aquém e além-fronteiras”.

“O Porto é terra geradora de elites em todos os domínios”, designadamente no mundo da economia como na Universidade, na cultura como nas artes e no desporto, disse, apontando os nomes de Manoel de Oliveira, Agustina Bessa-Luis, Souro Moura, Pedro Abrunhosa, Siza Vieira, Vasco Graça Moura e Daniel Serrão como exemplos desse “patrimônio imperecível”.

A espera
Dezenas de pessoas aguardavam a chegada de Marcelo ao Porto. A concentração na avenida dos Aliados, em frente à Câmara do Porto, é para ver o novo presidente que termina na cidade as cerimônias de três dias de tomada de posse. As cerimônias encerram no Porto com visitas à Câmara, ao bairro do Cerco e a uma exposição sobre o vereador da Cultura Paulo Cunha e Silva, que morreu em novembro.

Mais tarde, o Presidente improvisou um rap no palco do Largo dos Afetos no bairro do Cerco. “Ouvi e gostei deste hip hop do Norte, Portugal será mais forte (…). Aqui no bairro do Cerco e onde está a sua gente, estará sempre o presidente”, rimou Marcelo Rebelo de Sousa quando subiu ao palco onde tinha acabado de atuar o grupo OUPA, projeto de residentes integrado no programa Cultura em Expansão, da câmara do Porto.

E neste sábado, o novo Presidente vai abrir as portas do Palácio de Belém em Lisboa para os interessados em conhecer o edifício, de acordo com um comunicado da Presidência.

Depois de tomar posse, Marcelo recebe no sábado, entre as 10:00 e as 17:30, os visitantes do Palácio de Belém, em Lisboa, “que terão oportunidade de conhecer o seu exterior e o interior, tendo acesso a áreas reservadas que normalmente estão vedadas, como o gabinete de trabalho do Presidente”, indica a nota.

Ao longo da tarde atuam as bandas da Armada, Exército e Força Aérea. Os interessados vão ainda poder assistir à cerimônia do Render Solene da Guarda, durante a manhã.

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