Na quinta feira, 11/07, mais um dia de manifestações aconteceu por todo o país. Desta feita, não foi marcado pelo MPL – Movimento Passe Livre, que há cerca de dois meses detonou uma onda de protestos, inicialmente motivado pela questão da mobilidade urbana, isto é, preço das tarifas de ônibus, trens, metrô e que acabou se ampliando para uma série de reivindicações generalizadas, indo desde a luta contra a corrupção até críticas pela chamada ‘cura gay’, invenção do pastor-deputado Feliciano (PSC-SP). Agora, as ruas do país foram tomadas por manifestantes orientados pelas Centrais Sindicais. Foi o chamado ‘Dia de Luta’. A decisão partiu de uma mesa composta pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB; da Central Única dos Trabalhadores – CUT; da Força Sindical; da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil – CGTB e da Central dos Sindicatos Brasileiros – CSB.
A pauta comum das entidades sindicais incluiu a rejeição do Projeto de Lei 4.330, de 2004, que amplia a terceirização de atividades, que precarizam as relações de trabalho; o fim do fator previdenciário, que prejudicaria a aposentadoria dos contribuintes; a destinação de 10% do PIB para educação e de 10% do Orçamento da União para a saúde. As reivindicações são também no sentido de garantir um transporte público de qualidade, de valorização das aposentadorias e de realização da reforma agrária, entre outras.
As centrais também destacaram a questão da imprensa no país. Propuseram um ato intitulado “Quem são os donos da mídia?”, visando alertar a sociedade para o quadro de ‘monopólio’ nas telecomunicações brasileiras e para a relação entre classe política e grandes empresários midiáticos. Com a ampla concentração nos meios da imprensa mais as relações entre corporações e jornalistas, como a informação chega até o público? Com um grau aceitável de isenção, pressuposto necessário para a democracia? É uma boa discussão e merece investigação apropriada. E os sindicalistas também alertaram que as manifestações não são um ‘Fora Dilma’, mas sim um ‘Acorda Dilma’, pedindo mais atenção da presidente para as demandas das camadas populares.
A situação de Dilma Rousseff, de fato, alterou-se bastante nos últimos 30 dias, como reflexo dos referidos protestos que acontecem no país. É verdade que ela buscou movimentar-se, chamou a atenção do gabinete e também dos parlamentares para acelerarem votações de interesse popular, porém, isto não a poupou. Sua popularidade que estava em alta despencou. Dos 65% de aprovação registrados em março, as pesquisas caíram atualmente para 30%. E já se comenta que o PT poderia voltar a utilizar a candidatura de Lula para se manter no poder. Novo levantamento na opinião pública mostra que ela ainda consegue se eleger em um 2º turno, porém, é um quadro que se deteriora perigosamente.
Comenta-se em Brasília que estão se tornando frequentes reclamações sobre suas atitudes, que vão da condução da economia à articulação política, passando pela maneira como Dilma trata ministros, assessores e aliados. Haveria questionamentos pela “falta de disposição” da presidente ao diálogo. Os líderes do governo no Congresso estariam sendo desautorizados constantemente, os ministros não teriam autonomia para dar entrevistas sobre os temas de suas áreas e as coordenadoras políticas não estariam funcionando a contento: as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). E, para completar, o cenário econômico não é mesmo dos melhores. Na semana passada o FMI reduziu a esperança do crescimento da economia brasileira tanto neste ano quanto em 2014. Internamente, as pesquisas também não são nada alvissareiras. Sem o bom desempenho da economia, os aspectos políticos do governo aparecem mais e somando-se os ruídos das ruas, mais uma base ‘gelatinosa’ de alianças, o quadro é duro.
Com o crescimento em baixa e sem perspectivas de melhora no ambiente internacional, com o risco da queda do nível do emprego, com a ampliação da captação de crédito para pagamento de dívidas e não para consumo e com a onda de manifestações que não dão tréguas, Dilma é, sem dúvida, uma das ou a maior das figuras atingidas por estes momentos que o país vive. Curiosamente, as discussões iniciadas sobre a tarifa de ônibus municipal criaram um estímulo que foi diretamente canalizado para seu colo, explodindo com força. Enquanto isto, a Assembleia Legislativa de São Paulo simplesmente ignorou os protestos. Para os deputados governistas do PSDB não há mais nada a ser feito, pois a motivação das manifestações, para os paulistas, foi o governo federal.
Dilma precisa safar-se da sinuca que foi envolvida. Buscar mais visibilidade para os aspectos positivos de seu governo e maior velocidade nas articulações para resolver arestas existentes. É, até aqui, o momento mais difícil dentro de seu mandato. São Paulo, 15 de julho de 2013
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.