Por Daniel Bastos
A dimensão e relevância da emigração no território nacional, uma constante estrutural da sociedade portuguesa, têm impelido a construção nos últimos anos, um pouco por todo o país, de vários monumentos ao emigrante, com o objetivo de reconhecer e homenagear o contributo que prestam ao desenvolvimento das suas terras de origem.
Como observam as sociólogas Alice Tomé e Teresa Carreira no artigo Emigração, Identidade, Educação: Mitos, Arte e símbolos Lusitanos, este fenómeno de construção de monumentos ao emigrante “marca na atualidade a paisagem portuguesa”, sendo em grande medida o reflexo da “alma de um povo lutador, trabalhador, fazedor de mitos que, pelas mais variadas razões, não hesita em dobrar fronteiras”.
São muitos e variados os exemplos de monumentos aos emigrantes que povoam a paisagem portuguesa, como facilmente se comprova através de uma simples pesquisa na Internet. No Minho, por exemplo, alfobre tradicional da emigração portuguesa, há dois anos foi inaugurada na freguesia de Belinho, concelho de Esposende, uma estátua que celebra os emigrantes da povoação, e cuja simbologia alarga-se ao município numa homenagem a todos aqueles que “deram novos mundos ao mundo”.
No concelho de Ourém, um município localizado na região do Centro que se construiu com a emigração, ergueu-se em 2011, na freguesia de Espite, num território que é conhecido como o “berço” dos franceses, um monumento ao emigrante. No Funchal, capital do arquipélago da Madeira, região indelevelmente marcada pelo fenómeno da emigração, desde a década de 1980 que subsiste um monumento ao emigrante madeirense, e que homenageia os emigrantes naturais da “Pérola do Atlântico” instalados por todo o mundo. Na mesma esteira, em Ponta Delgada, no Arquipélago dos Açores, existe desde o fim do séc. XX, um monumento aos emigrantes e que laureia o povo açoriano disperso pelo mundo.
Nesta última região autónoma, foi inaugurado no mês passado na Ribeira Grande, também na ilha de S. Miguel, a Praça do Emigrante, um espaço público urbano que homenageia os emigrantes açorianos que partiram em busca de melhores condições de vida, e cuja animação cultural passa a estar a cargo da AEA – Associação dos Emigrantes Açorianos, um organismo independente, com sede nas instalações do Museu da Emigração Açoriana.
Uma praça, cujo centro é ocupado por um imponente globo revestido a pedra de calçada portuguesa, com quatro metros de diâmetro, concebido por Luís Silva, e intitulado “Saudades da Terra”, expressão que Gaspar Frutuoso, personagem insigne do passado micaelense, utilizou no século XVI para resumir um sentimento maior, comum não só aos emigrantes açorianos, mas a todos os emigrantes portugueses.
Além do globo, a Praça do Emigrante é engrandecida por um desenho na calçada em redor, denominado “Shore To Shore”, da autoria do escultor canadiano Luke Marston, trineto do picoense Joe Silvey, um pioneiro da sociedade multicultural no Canadá. Assim como por uma “Calçada dos Mundos”, concebida por Liliana Lopes, e dois murais, um deles com bandeiras dos principais destinos da emigração açoriana (Bermudas, Brasil, Canadá, Estados Unidos da América, Havai e Uruguai).
Por Daniel Bastos
Escritor português