Arte de crianças refugiadas em projeto de inclusão será exposta em Lisboa

Chegada de refugiados a Portugal. Foto Lusa
Arquivo: Chegada de refugiados a Portugal. Foto Lusa

Da Redação
Com Lusa

O trabalho desenvolvido com crianças refugiadas em Portugal, ao longo dos últimos três anos, no projeto “Refúgio e Arte”, estará em exposição, a partir de sábado, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, durante a mostra “Isto é PARTIS”.

Ao longo dos últimos três anos, cerca de 90 a 100 crianças refugiadas, que chegaram a Portugal sem família e residentes na casa de acolhimento do Conselho Português para os Refugiados (CPR), em Lisboa, passaram pelo projeto “Refúgio e Arte: dormem mil cores nos meus dedos”, apoiado pela Gulbenkian na segunda edição (2016-2018) da iniciativa Práticas para a Inclusão Social (PARTIS).

Fazer uma exposição com todos os trabalhos criados ao longo desse tempo “seria impossível”, segundo o diretor artístico do projeto, Sérgio Condeço, em declarações à Lusa.

Por isso, estará exposta na Gulbenkian “uma recolha” do trabalho feito entre 2016 e 2018, que incluiu cerca de 70 oficinas semanais, “onde os jovens exploravam diferentes técnicas artísticas (tinta acrílica, aguarelas, pastéis, fotografia, cerâmica, tingimento de tecidos, desenho)” e visitas a museus.

Em paralelo, as oficinas eram “também uma forma informal de os jovens aprenderem português”. “A maioria são da África Ocidental, alguns falam em crioulo, francês, e muitas vezes não há uma língua em comum, que faça ponte”, contou.

Embora tivessem aulas de português no CPR, as oficinas artísticas funcionavam como “um reforço e também uma oportunidade de aprenderem outras coisas, que às vezes nas aulas não se aprendem, todos juntos, partilhando, rindo e trabalhando”.

Embora este projeto não fosse de “terapia”, Sérgio Condeço notou que, “trabalhando com arte, eles sentiam-se mais tranquilos”.

“De alguma forma, muitas vezes este exercício de estarem com calma a desenhar, também promovia a autoestima”, afirmou, lembrando tratar-se de pequenos “que chegam muito fragilizados, depois estão meses sem contato com a família”.

“Estamos a falar às vezes de crianças com 10 anos, que chegam a Portugal [provenientes de países como o Congo, Etiópia, Mali ou Serra Leoa] sem um familiar”, disse.

O apoio da Fundação Gulbenkian, através do programa PARTIS, terminou em dezembro e o futuro do projeto é agora uma incógnita.

“O CPR não tem capacidade para continuar com o projeto e não podemos ter mais apoio do PARTIS, porque este já é o segundo projeto do CPR apoiado. Tivemos um de teatro e agora este de Artes Plásticas e as entidades não podem ter um terceiro projeto [apoiado pelo PARTIS]”, explicou.

Sérgio Condeço coloca a hipótese de “voluntariamente continuar a fazer, quando puder, oficinas, porque eles [as crianças e jovens] gostam”, mas “as visitas a museus não podem continuar”. “Isto tem algumas limitações”, referiu.

Ao longo dos anos, foram feitas “parcerias com as escolas” que as crianças e jovens frequentam, na área onde se situa a Casa de Acolhimento para Crianças Refugiadas.

“Há escolas que possivelmente vão colaborar conosco, há miúdos que perceberam que gostavam de continuar nesta área artística. Exatamente nos moldes que tínhamos as coisas não vão continuar”, afirmou.

A complementar a exposição “Refúgio e Arte: dormem mil cores nos meus dedos”, será apresentado “um catálogo que resume todo o trabalho feito – parcerias com as escolas, trabalho desenvolvido nas oficinas, visitas a museus”.

Na mostra “Isto é PARTIS”, com entrada gratuita, serão apresentados alguns dos 16 projetos de intervenção social pela arte, que foram apoiados pela Fundação na segunda edição (2016-2018) da iniciativa PARTIS – Práticas para a Inclusão Social.

Entre sexta-feira e domingo será mostrado “o resultado do trabalho desenvolvido junto de pessoas vulneráveis e em situações de exclusão”.

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