Da Redação
Com Lusa
A diretora do Arquivo Histórico Ultramarino, Ana Canas, realçou que este é “um acervo comum a mais países” que Portugal, e defendeu a continuidade do “investimento na sua disponibilização” e numa “digitalização seletiva”.
O Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), instalado no Palácio da Ega, em Lisboa, tem à sua guarda documentação relativa a todos os territórios ultramarinos, que estiveram sob administração portuguesa, desde finais do século XVI até 1975.
A documentação, cerca de 17 quilômetros de prateleiras, “é esmagadoramente de organismos da administração colonial portuguesa, centrada em Lisboa”.
Em entrevista à agência Lusa, Ana Canas, à frente do AHU desde junho de 2005, afirmou que, “no fundamental, a documentação dos organismos sediados nas anteriores colônias ficou lá”, ”nos países que se tornaram independentes de Portugal”, após a revolução de abril de 1974.
A responsável disse haver “muitos contatos bilaterais” entre o AHU e as diferentes instituições congêneres dos Estados independentes, e até com as autoridades desses países, com um “interesse pragmático”, quer seja sobre obras públicas, quer sobre recursos naturais, nomeadamente mineiros.
Ana Canas citou alguns casos, entre os quais a consulta que foi feita sobre um determinado edifício público em Maputo, cujas fundações inspiravam preocupações às autoridades moçambicanas, e que foi necessário consultar a documentação existente, “o que aliás se passou também relativamente à renovação de um edifício em Bissau”.
“Há também quem consulte o AHU para efeitos da sua aposentadoria”, referiu.
Quanto ao AHU, Ana Canas afirmou: “Há uma preocupação que é, sendo este acervo comum a mais países que não o nosso, de um investimento ainda maior, na sua disponibilização, na criação de instrumentos melhores de pesquisa e, nalguns casos, de base para todo o acervo do arquivo, e na digitalização seletiva [da documentação]”.
A responsável realçou que, mesmo sendo documentação da administração portuguesa, “diz respeito àqueles países, e muitas vezes com as várias comunidades dentro desses países”. Neste sentido, argumentou que “tem de haver uma resposta a qualquer solicitação, ou necessidade, que possa surgir”, por parte do AHU.
Ana Canas afastou qualquer possibilidade de as autoridades dos diferentes países, em que houve um domínio administrativo português, virem a reclamar qualquer espólio documental, apostando até numa base de dados acessível a todos, e citou como “exemplar” o projeto “Barão do rio Branco”, de resgate de documentação histórica manuscrita referente ao Brasil, com cerca de 300 mil documentos, que foi criado em 1995 no âmbito da Comissão Bilateral Luso-Brasileira de Salvaguarda e Divulgação do Patrimônio Documental.
Cabo Verde é um dos países que tem estado a trilhar um caminho idêntico, na sequência de um outro projeto nesta área, “África Atlântica”, em que participou também o Brasil.
O AHU inaugura, na quinta-feira, a exposição “Colonizando África: Relatórios das Obras Públicas em Angola e Moçambique (1875-1975)”, coordenada pela arquiteta Ana Vaz Milheiro, cujo discurso expositivo tem por objetivo “dar a conhecer o tipo de informação que há no AHU, e aquilo a que é possível aceder da forma que se entender, sem um direcionamento específico”.
Na exposição, “procurou-se valorizar o trabalho [do AHU], com mão de obra, utilizando fotografias que não foram ‘encenadas’”, rematou.