Aristides de Sousa Mendes: O Cônsul que desafiou Hitler e Salazar

Por Eulália Moreno
Para Mundo Lusíada

O jornalista René Decol e o escritor Rui Afonso. Foto: Eulália Moreno

A Biblioteca da Casa de Portugal em São Paulo foi o local escolhido pelo escritor Rui Afonso para lançar, pela Casa da Palavra, a reedição atualizada do seu livro “Um Homem Bom” (1a. Edição, 1995, Caminho, Lisboa) obra que já inspirou um documentário para a televisão portuguesa.
Rui Afonso, natural do Funchal, Ilha da Madeira e radicado em Toronto, Canadá, desde os anos 80 se dedica à pesquisa da vida e obra do “Cônsul desobediente “, Aristides de Sousa Mendes, tendo sobre esse tema publicado um trabalho anterior, em 1990, “Injustiça”.
Nesta tarde, ao lado do jornalista René Decol que prepara uma biografia sobre a funcionária diplomática Aracy Guimarães Rosa, mulher do romanceiro, Rui Afonso emocionou-se  árias vezes ao relatar os seus encontros com familiares de Sousa Mendes, sobreviventes de Bordéus e seus familiares que narraram vários episódios demonstrativos da coragem moral que norteou a vida desse grande português.
A cidade de Bordéus depois da França invadida pelos nazistas, em 22 de Junho de 1940, era uma cidade caótica, onde prevalecia a lei do mais forte, onde várias situações extremas evidenciaram desde a bestialidade humana até a comportamentos magnânimos de amor ao próximo. O Cônsul vagava pelas noites de Bordéus procurando entre os milhares que dormiam nas suas ruas ou em carros abandonados, aqueles a quem ele podia ajudar, dentre eles dois atores que mais tarde fizeram sucesso no mítico “Casablanca” de Michael Curtiz: Marcelo Dalio (o croupiê) e Madeleine LeBeau (Yvonne, a namorada abandonada por Rick, Humphrey Bogart). Os registros oficiais pararam em 2500 vistos concedidos pois tudo chegou a uma situação tão crítica que perder tempo em efetuar registros atrasaria a concessão dos vistos já que a disponibilidade dos funcionários era pouca (alguns chegaram a trabalhar 20 horas seguidas). “Se multiplicarmos os 2500 concedidos a chefes de famílias com 6, 8 membros chegaríamos facilmente a 20 mil salvos por Aristides de Sousa Mendes. Mas quantidade não interessa: quando o Yad Vashem, autoridade estatal israelita para a recordação dos mártires e heróis do Holocausto, o homenageou com a sua mais alta distinção, a medalha outorgada trazia uma inscrição ‘Quem salva uma vida humana é como se salvasse um mundo inteiro’”, afirma o autor com a voz embargada.
Durante a tarde Rui Afonso esteve na Livraria da Vila e surpreendeu-se ao encontrar o seu livro à venda, colocado na vitrine ao lado de uma recém publicada biografia de Salazar. “Seria a última coisa que eu pensaria que pudesse acontecer: Sousa Mendes promovendo Salazar ou vice-versa”.
“O meu trabalho de trazer a vida de Aristides de Sousa Mendes para um conhecimento público mais amplo é no sentido de alertar as pessoas para que nunca seja permitido que lhes falseiam a verdade, que alterem as suas memórias. De Sousa Mendes chegaram até a dizer que vendia por jóias e dinheiro os vistos que significavam a diferença entre a vida e a morte. Isso é uma coisa absurda, inadmissível e contra isso, nestes tempos em que tantas vezes assistimos à violação dos Direitos Humanos, é que devemos lutar sem medo”.
Antonio de Almeida e Silva, presidente do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira de São Paulo, compareceu ao evento da Casa de Portugal para adquirir o seu livro e cumprimentar o autor. “Tenho na minha Biblioteca vários livros sobre Aristides de Sousa Mendes. Quando vou a Portugal procuro comprar tudo o que é publicado e só tenho a lamentar que ainda não seja tão conhecido no Brasil quanto merece. Em 2002 a Comunidade Portuguesa residente nesta cidade se uniu no propósito de oferecer a Hebraica, clube de grande tradição, uma estátua de Sousa Mendes elaborada pelo artista Santos Lopes. Nessa cerimônia esteve presente a presidente da Fundação Aristides Sousa Mendes, Maria de Jesus Barroso e  foi um momento de grande emoção”.
Também presentes, dentre outros, o deputado do PSD eleito pelo Círculo Fora da Europa, Carlos Páscoa, David da Fonte, Vitorino Fontinha, José Peralta e  Antonio Freixo que participaram do evento e no final confraternizaram com o público presente durante o coquetel oferecido pela Casa de Portugal que continua sempre a prestigiar, no seu belíssimo espaço, eventos culturais significativos.

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