Da Redação com Lusa
Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro, António Costa, manifestou a sua solidariedade para com o Presidente português, no que considerou uma interpretação inaceitável das palavras de Marcelo Rebelo de Sousa sobre abusos sexuais na Igreja.
“Quero expressar a minha total solidariedade com o Presidente da República, mais concretamente, com o professor Marcelo Rebelo de Sousa, pela interpretação inaceitável que tem sido feita das suas palavras. Eu conheço-o, todos nós conhecemos bem o Presidente da República, portanto, todos sabemos que para uma pessoa como o professor Marcelo Rebelo de Sousa, um caso que fosse, só um caso de abuso sexual sobre crianças, seria absolutamente intolerável, como é para o conjunto da sociedade”, afirmou António Costa.
“É uma interpretação muito errada que tem estado a ser feita, acho que é inaceitável, e queria expressar publicamente a minha solidariedade com o Presidente da República perante esta interpretação que tem estado a ser feita das suas palavras”, reforçou.
António Costa lembrou que conhece o atual chefe de Estado desde os tempos da faculdade, assim como os cidadãos conhecem Marcelo Rebelo de Sousa desde os tempos de comentador na televisão para concluir que toda a gente sabe como ele pensa.
Para o primeiro-ministro, não há “a menor das dúvidas de que a interpretação que foi feita não corresponde”, como todos têm “a obrigação de saber, aquilo que é o sentir, à forma de ser do senhor Presidente da República”.
“Não tenho a menor das dúvidas, mesmo quando divergimos sobre muitos temas, sobre o que pensa, designadamente sobre uma matéria que é uma matéria que afeta gravemente a consciência social”, acentuou.
No seu entender, “um caso de violação dos direitos das crianças não tem a ver com quantidade”, já que, “pode ser um, podem ser 2.000, cada caso é um caso de uma gravidade imensa em si própria e, seguramente, o senhor Presidente da República não o quis desvalorizar.”
“Alias, já fez uma nota explicando que aquilo que disse foi a surpresa de não terem surgido mais casos revelados, não ter havido mais denúncias que, seguramente, ocorreram e que ainda não estão registadas”, acrescentou António Costa.
Questionado se Marcelo deve um pedido de desculpas pelas declarações feitas, o primeiro-ministro respondeu que “quem tem feito esta interpretação é que deve um pedido de desculpas ao Presidente”.
Costa lembrou depois que nem sempre as palavras do políticos são bem interpretadas: “Todos nós, na vida política, não utilizamos a melhor expressão, muitas vezes não nos interpretam da melhor forma e acho que num caso destes, de uma sensibilidade e de uma gravidade destas…”.
António Costa disse ainda que este caso “tem a ver com a consciência pessoal de cada um, com a formação moral de cada um e com a forma como cada um vê a vida em sociedade e como cada um sente aquilo que são os direitos superiores das crianças que têm de ser protegidas em qualquer circunstância”.
O caso
Na terça-feira, questionado sobre o balanço de 424 testemunhos de abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica em Portugal, o Presidente da República afirmou não estar surpreendido, lembrando que “não há limite de tempo para estas queixas” que têm estado a ser recolhidas, algumas relativas “há 60 ou há 70 ou há 80 anos”.
“Significa que estamos perante um universo de pessoas que se relacionou com a Igreja Católica de milhões ou muitas centenas de milhares”, prosseguiu Marcelo Rebelo de Sousa, concluindo: “Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado, porque noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos”.
Face às críticas de políticos portugueses que estas declarações suscitaram, o chefe de Estado divulgou uma nota na qual afirma que “este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo mundo”, admitindo que “terá havido também números muito superiores em Portugal”.
Depois, o Presidente da República falou para a RTP e para a SIC a reforçar a mesma mensagem, reiterando que 424 queixas lhe parece um número “curto”, declarando que aceita democraticamente as críticas que recebeu, mas não as compreende.