Da Redação com ONUNews
Junho em Lisboa é mês de festa: a tradição de celebrar os Santos Populares enche as ruas da capital portuguesa de cores e sabores. O auge das celebrações ocorre entre 10 de junho, Dia de Portugal, e 13 de junho, Dia de Santo Antônio, padroeiro da cidade.
Música, dança, brincadeiras e a estrela dos Santos Populares: as sardinhas assadas na grelha e servidas com pão. Um dos peixes mais tradicionais de Portugal e um dos mais consumidos no país nesta época do ano.
A pesca da sardinha em mares portugueses começa em maio e vai até setembro, atualmente controlada pelo Ministério da Agricultura. Um despacho publicado em abril define um limite de capturas para o ano de 2022: os pescadores portugueses podem retirar do mar 29,4 mil toneladas de sardinhas neste ano, sendo a pesca proibida durante o fim de semana.
A medida tem sido necessária uma vez que a sobrepesca do passado tem tido um impacto negativo no presente: menos sardinhas nos oceanos. Um levantamento feito pela National Geographic mostra que na década de 1990, Portugal capturava uma média de 80 mil toneladas de sardinhas por ano. Quem confirma é o oficial sênior de Pesca da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, Márcio Castro de Souza.
“A produção portuguesa de sardinhas vem caindo nos últimos anos. Portugal vem cada vez mais também importando sardinhas da Espanha principalmente e agregando valor no território português. O pico de produção de Portugal de sardinhas foi exatamente entre 1960 e 1970. É uma diferença enorme entre aquela época e agora.”
Susana Veloso administra a peixaria Veloso, em Lisboa, fundada por sua mãe há mais de 50 anos. Ela relembra a infância, época de fartura das sardinhas.
“Quando eu era miúda, a sardinha, meu Deus, chegavam os barcos e eram caixas, caixas e caixas, aquilo até quase que apanhávamos no chão. Aquilo era um exagero, havia mesmo muita quantidade e era baratíssimo. Toda a gente comprava sardinha e carapau. Hoje em dia o carapau também já é um luxo, chega a custar os 7 euros.”
As sardinhas já foram o principal estoque pesqueiro de Portugal, segundo o presidente da Fundação Oceano Azul. Tiago Pitta e Cunha explica que entre os motivos da queda, estão sobrepesca e mudança climática.
“O que é certo é que nos últimos 10 anos, a sardinha começou a cair a pica e nós percebemos que já não iríamos ter este estoque da mesma maneira que tínhamos. Bem sei que os cientistas encontram várias explicações, mas não há dúvida nenhuma de que a sobrepesca foi uma delas. A pesca excessiva sobre as sardinhas foi uma delas. O preço da sardinha tem vindo a subir nesses últimos anos, pois obviamente como se tornou um bem mais escasso, tornou-se um bem mais valioso. Sabemos também que uma parte está ligada às alterações climáticas e que, portanto, há uma parte das sardinhas que hoje aparentemente está a ser mais avistada nas costas da Irlanda, o que antigamente não acontecia.”
A sardinha está mesmo mais cara, custando cerca de 6 euros o quilo em Lisboa. A procura pelo peixe também diminuiu desde o surgimento da pandemia: Susana Veloso revela que a sua peixaria tem recebido centenas de quilos a menos de sardinhas por dia.
“Agora atualmente não está a haver assim tanta procura de sardinha. Estamos a receber 100, 200 quilos. Mas por exemplo, há três anos, vendemos 1,5 tonelada de sardinha só nos Santos Populares num dia. Foi uma loucura!”
Susana Veloso revela que no fim de semana dos Santos Populares, o preço da sardinha chega a duplicar. Segundo a comerciante, com o controle da pesca em mar português, as peixarias muitas vezes acabam por comprar sardinhas pescadas no Atlântico, porém, por embarcações espanholas.
O Ministério da Agricultura de Portugal informa que o plano de pesca de sardinhas foi criado em conjunto com a Espanha, definindo as regras de captura do peixe para os dois países.