Apoio social nos destinos dos emigrantes portugueses está menos decisivo na integração

Da Redação com Lusa

A rede social nos países de destino dos emigrantes portugueses tem atualmente menos peso e influência na sua integração, em parte porque quem opta por trabalhar no estrangeiro procura emprego nos meios com maiores garantias.

A conclusão consta do estudo “Integração dos emigrantes portugueses no mercado de trabalho – Determinantes do processo a partir da análise ao Rendimento Médio Bruto (RMB)”, desenvolvido por Mariana Guerra, do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa, divulgado esta semana pelo Observatório da Emigração.

A investigação concluiu que o sexo, a idade, as redes sociais, o nível de escolaridade, o tempo de estadia no país de destino e a língua oficial do país de destino têm impacto na variação do RMB auferido pelos novos emigrantes portugueses.

Estes fatores são, por isso, capazes de influenciar o processo de integração dos emigrantes portugueses no mercado de trabalho estrangeiro, segundo o estudo.

Em declarações à agência Lusa, Mariana Guerra assumiu que um dos aspectos que mais a surpreendeu nesta investigação foi a influência das redes sociais dos emigrantes portugueses nos países de destino.

“O que a teoria nos transmite é que, se tudo correr bem, quem tenha uma base e rede social no país de destino, à partida terá um processo de integração mais harmonioso, porque já tem esse suporte”, disse.

“Afinal não é bem assim: há um grupo de pessoas que não tem o apoio destas redes sociais, que não partiu e arranjou emprego no país destino através de amigos mais próximos, distantes ou familiares. Significa que estas redes sociais em muito pouco influenciaram o seu processo de integração”, prosseguiu.

Para a autora, a explicação está na dinâmica dos próprios processos de candidatura aos postos de trabalho no estrangeiro que hoje em dia são “muito mais burocráticos”.

“As pessoas já não vão tanto pela palavra, mas pelas candidaturas online. Veem uma vaga no portal, candidatam-se e é assim que conseguem as oportunidades lá fora e isso foi uma das justificações que encontrei para este resultado”, adiantou.

Ainda sobre as redes sociais, a investigadora sublinha que estas “podem ser uma armadilha”.

“Estamos só a assumir que temos redes sociais que vão garantir um processo harmonioso e que as pessoas chegam ao país destino e que vão ter o emprego com todas as qualidades e regalias, mas também temos a armadilha, no sentido de termos emigrantes inseridos numa rede social que ela própria já não tem uma integração assim tão boa e assim tão harmoniosa. Eles próprios estão integrados num mercado de trabalho menos qualificado, com menos condições e regalias”, adiantou.

De acordo com a investigação, “um emigrante do sexo masculino, com ensino superior, a viver há mais anos no país de destino e a residir num país de língua oficial portuguesa terá maior capacidade de se integrar do que, comparativamente, uma mulher emigrante, sem ensino superior, a viver há menos anos no país de destino e a residir num país de língua oficial estrangeira”.

Da mesma forma, prossegue o documento, “à partida, emigrantes com idade mais avançada terão maior facilidade de integração e, assim, volta a ser importante referir a ligação da idade com o tempo de estadia e a obtenção, a longo prazo, dos ganhos de investimentos na formação que podem tendem a ser feitos em idades mais jovens”.

A autora aborda o impacto dos resultados a nível das políticas a adotar, apontando alguns caminhos a seguir pelos países receptores e pelos países de origem.

Para Mariana Guerra, “o trabalho de atenuação da desigualdade salarial entre gêneros deve ser um esforço conjunto, quer dos países de origem, quer dos países receptores”.

Em relação aos países de destino, refere a “necessidade” de estes oferecerem “ferramentas que facilitem o acesso a informação básica e essencial para emigrantes com pouco tempo de estadia e que acabam de entrar no mercado de trabalho estrangeiro”.

E também a necessidade de desenvolverem “programas de aprendizagem da língua oficial do país, adequados, quer ao nível de conhecimento dos migrantes, quer ao tipo de profissão que desempenham”.

A investigação preconiza “o desenvolvimento de ferramentas que permitam reconhecer, com maior facilidade, as qualificações dos migrantes”.

Focando-se nos países de origem, o estudo ressalva a necessidade de desenho e implementação de medidas que procurem promover e criar condições para a retenção dos indivíduos e para a atração dos que partiram no passado.

A este propósito, enumera o Programa Regressar, que pressupõe incentivos ao retorno dos emigrantes e lusodescendentes, através de medidas que passam, por exemplo, pela criação de benefícios fiscais para os emigrantes que regressem ao país de origem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *