Da redação com Lusa
O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que o relatório sobre o clima hoje publicado pelos especialistas da ONU é um “alerta vermelho” que deve fazer soar os alarmes sobre as energias fósseis que “destroem o planeta”.
O relatório estabelece uma avaliação científica dos últimos sete anos e “deve significar o fim do uso do carvão e dos combustíveis fósseis, antes que destruam o planeta”, disse Guterres através de um comunicado.
O secretário-geral da ONU pede que nenhuma central de carvão seja construída depois 2021.
“Os países também devem acabar com novas explorações e produção de combustíveis fósseis, transferindo os recursos dos combustíveis (fósseis) para a energia renovável”, acrescentou o secretário-geral da ONU.
O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) estima que o limiar do aquecimento global (de + 1,5° centígrados) em comparação com o da era pré-industrial vai ser atingido em 2030, 10 anos antes do que tinha sido projetado anteriormente, “ameaçando a humanidade com novos desastres sem precedentes”.
“Trata-se de um alerta vermelho para a humanidade”, disse António Guterres.
“Os alarmes são ensurdecedores: as emissões de gases de efeito estufa provocadas por combustíveis fósseis e a desflorestação estão a sufocar o nosso planeta”, acrescentou o secretário-geral da ONU.
No mesmo documento, Guterres pede igualmente aos dirigentes mundiais que se vão reunir na conferência do clima (COP26) em Glasgow, Escócia, no próximo mês de novembro, para alcançarem “sucessos” na redução das emissões de gases de efeito de estufa.
“Se unirmos forças agora, podemos evitar a catástrofe climática. Mas, como o relatório de hoje indica claramente não há tempo e não há lugar para desculpas”, apelou ainda António Guterres.
Descarbonizar
O professor universitário Filipe Duarte Santos, especialista em ambiente, alertou hoje para a urgência de descarbonizar a economia mundial devido às alterações climáticas, que vão afetar especialmente a região onde se insere Portugal.
Pesquisador e especialista em ambiente e alterações climáticas, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Filipe Duarte Santos comentou em declarações à Lusa as conclusões do sexto relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado hoje.
No documento os cientistas alertam que a temperatura global subirá 2,7 graus Celsius (ºC) até 2100 se se mantiver o atual ritmo de emissões de gases com efeito de estufa, e dizem que o aumento das temperaturas será mais rápido do que o previsto no relatório de há rês anos, que os sorvedouros naturais de dióxido de carbono (CO2), como oceanos e florestas, estão a enfraquecer, e chamam ainda a atenção para o aumento do nível do mar e para os desastres climáticos que o aquecimento global está a provocar.
Filipe Duarte Santos salientou do documento, como principal preocupação, a constatação de que há uma aceleração do aquecimento global, que deve chegar aos 1,5ºC já em 2030.
Depois, disse, o relatório refere duas regiões como das que serão mais afetadas, uma o ártico, onde as temperaturas vão subir muito mais do que a média global, e a região do mediterrâneo, incluindo a Península Ibérica, onde a temperatura já aumentou 1,5ºC em relação à época pré-industrial.
“Na região mediterrânica a precipitação média anual tem diminuído e isso não são boas notícias, porque há impactos nos recursos hídricos e na agricultura, entre outros setores”, disse Filipe Duarte Santos à Lusa.
O investigador reconheceu que a Europa tem liderado o processo de descarbonização da economia mundial, mas lembrou que o problema do aquecimento é global e que por isso é preciso que todos os países contribuam.
E se os Estados Unidos ou a China estão a elaborar planos, economias como a Índia vão precisar de ajuda para enfrentar o aquecimento global, disse o professor. A próxima cimeira mundial do clima, em Glasgow, é importante porque é “mais uma oportunidade” para se tomarem decisões, adiantou.
Questionado pela Lusa sobre se a espécie humana enfrenta perigo de extinção devido às mudanças climáticas, Filipe Duarte Santos disse não acreditar que tal aconteça, porque o ser humano consegue adaptar-se.
“Mas se persistirmos neste caminho de uso de combustíveis fósseis e desflorestação vamos ter cada vez mais eventos extremos intensos e frequentes”, como ondas de calor, secas, inundações e enxurradas, avisou.
Ainda que, disse, não esteja em causa um problema de extinção, as alterações climáticas vão provocar cada vez mais refugiados climáticos, mais insegurança alimentar, e menos qualidade de vida, especialmente em países mais pobres.
E o mundo, afirmou, vai ser mais violento e hostil.