FOLCLORE
Cultura Tradicional e Popular
“Digamos que a expressão da vivência das gentes de antigamente quando a sua maneira natural de ser e de estar não era ainda tão influenciada por valores estranhos ao meio”. Entretanto, considerado pela UNESCO como “cultura tradicional e popular” entenda-se como tradicional os comportamentos, os usos, as vivências, os valores que qualquer grupo social, relevante culturalmente, utilizou durante o tempo suficiente para impor a marca local, independentemente da sua origem e natureza. (Santarém 2002).
Creio que ninguém, com um mínimo de coerência vai contestar que cultura é precisamente “a maneira de ser e de estar das pessoas “,cultura que com o decorrer dos tempos e como é normal foi perdendo a pureza e a genuinidade, porque foi cada vez mais uma coisa híbrida. E é este cultura, aqui referenciada como folclore,que tem que ser um referencial no tempo e apenas isso .É evidente que se não houvesse uma evolução em continuidade não teríamos a solução para muitas doenças, certamente que não se pretendia continuar a viver à luz do petróleo e a andar de carroça, as mulheres não se emancipariam, o filho do sapateiro também seria sapateiro, já era mais difícil um filho de médico ser médico, porque o dinheiro ajuda muito mas não compra a inteligência, enfim não se poderia lutar para que as pessoas fossem conideradas à luz das suas capacidades ( o que de certo modo não deixou ainda de ser um sonho)
Ninguém com um mínimo de cultura desconhece que um povo sem memória não pode viver com o tal, (,como povo).E que se hoje não se conhecer o ontem, não é possível construir o amanhã de maneira harmoniosa.
De qualquer maneira se deixássemos esvair-se a memória dos tempos, não poderíamos aproveitar o que de bom também se perdeu ,expresso em saberes de ontem, que hoje poderão ser reaproveitados.
Pelo menos em meu entender, aliás como tudo o que seja uma referência no tempo, o “conceito de folclore” deve ser intocável, pois como diz o Professor Luís Mota Figueira ” o estudo do mesmo haverá de suscitar a criação der várias categorias de fenómenos que dele decorrem para serem estudados e, com isso, agregarem valor ao fenómeno FOLCLORE, que expressa parte da cultura popular(porque a cultura urbana também faz parte da cultura popular…). Mas que não se vão juntar ao que é folclore, mas ocupar um novo espaço.
Gosto muito de aprender, sei que não sou dono da verdade absoluta, mas quanto a este entendimento sou inflexível.
Quanto à razão de ser do evento, com base na actualidade, a< organização considera que a abordagem folclorista tem sido muitas vezes vista como estática e descontextualizada, e a noção de folclore carrega ainda conotações simplistas e contraditórias. Em Portugal, o conceito de folclore continua associado ao Estado Novo e à prefiguração ideológica e propagandística que o regime fez da cultura popular. Ora, não está em causa o conceito em si, mas a adulteração dos valores do mesmo. Sendo ainda que o conceito de folclore NÃO continua associado ao Estado Novo, pois se grupos haverá que continuam apresentando resquícios do mesmo, outros há que aí estão com toda a dignidade.
E dizem-nos ainda que considerando o precedente interesse público pelo “património” e, simultaneamente os avanços interdisciplinares no estudo dos usos da cultura e da memória, parece-nos crucial repensar o conceito de folclore, bem como a complexidade das suas manifestações e o seu impacto numa investigação cada vez mais interdisciplinar e socialmente participada”
E também aqui o conceito não é impeditivo que se trabalhe com todas estas armas. E se é certo que os grupos devem continuar a respeitar o modelo tradicional, lembramos que a criatividade e a inovação podem ser patentes “na apresentação “ de um festival sendo no entanto intocáveis nos seus conteúdos, quer no TRAJAR,omo no CANTAR e no BAILAR.E se não foi possível fugir do espectáculo, a “demonstração” deve ser o mais possível preservada.
Alguns terão presente o/s apelo/s de JORGE DIAS:
“Temos obrigação de salvar tudo aquilo que ainda é susceptível de ser salvo, para que os nossos netos, embora vivendo num Portugal diferente do nosso, se conservem tão Portugueses como nós e capazes de manter as suas raízes culturais mergulhadas na herança social que o passado nos legou.”
“(…) Nós, portugueses, estamos não nas vésperas, mas em plena fase de perdermos toda essa riqueza do passado. Se não corrermos rapidamente a salvar o que resta, seremos amargamente acusados pelos vindouros, pelo crime indesculpável de ter deixado perder o nosso património tradicional, dando mostras de absoluta incúria e ignorância. Se não o fizermos, daqui a duas gerações podemos ser um povo descaracterizado e profundamente pobre…”
Ora todos sabemos, que apenas com o seu modelo normal de actuação,os GRUPOS não podem corresponder ao solicitado,entrando então em acção o que eu chamo de “acção interpretativa” com a elaboração de “quadros tradicionais”, como a ceifa, a apanha da azeitona, a taberna e outras vivências, sem esquecer o seu quadro natural,: no chão e sem aparelhagem sonora.
Quero ainda dizer que, embora como complemento da actividade regular, e desde que respeitado os tais sectores—TRAJHAR/CANTAR/BAILAR—não me repugna actuar ao som de uma grande orquestra.
Uma referência final, esta quanto ao estudo do folclore ter que ser “multidisciplinar”. Já há muito que assim trabalho,rercorrendo em especial a sociologos e musicólogos.
Agora e quanto a este evento, como me será impossível lá estar,já dei a conhecer à organização—que aliás já me convidou a inscrever– o que penso nomeadamente no que respeita ao CONCEITO. No entanto ,mandar uma comunicação sem a poder defender pessoalmente,não me parece aconselhável ,dado que a participação deve ser maioritariamente académica e sem conhecimento do terreno.
Agradeço agora que me digam o que pensam do tema, mesmo as discordância que tenham, pois tudo será citado quando fizer a publicação/ou apresentação.
Por LINO MENDES
De Portugal