Anda “monstro à solta” após ataques a imigrantes. Partidos condenam violência no Porto

Manifestação "Menos Imigração e Mais Habitação", organizada pelo grupo 1143 (extrema-direita), Porto, 6 de abril de 2024. FERNANDO VELUDO/LUSA

Mundo Lusíada com Lusa

Nesta segunda-feira, o secretário-geral do PCP advertiu que está “um monstro à solta”, reagindo ao que considerou terem sido “crimes de ódio” no Porto, e defendeu que é preciso responsabilizar quem o alimenta.

O líder comunista salientou que se tratam de “crimes de ódio”, que merecem a “condenação total” do PCP, e destacou a “atuação muito rápida das forças policiais”, assim como a “participação e resposta popular que foi dada contra esse crime de ódio”.

“Nós não podemos tornar habitual o monstro que anda à solta e cada um que assuma as responsabilidades da força que dá ao monstro”, destacou Paulo Raimundo.

Para o secretário-geral do PCP, “ninguém pode deixar de ser responsabilizado por estar a alimentar o monstro”, que depois “rebenta nas mãos, como rebentou”.

“Infelizmente, não é o único caso. Estamos a falar sobre crimes de ódio. (…) Que sejam julgadas rapidamente essas pessoas e, se for caso disso, condenados. Dificilmente não serão”, afirmou.

Nestas declarações aos jornalistas, o líder do PCP foi também interrogado sobre as declarações do autarca do Porto, Rui Moreira, que pediu que a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) seja extinta, por considerar que “continua morta perante o aparente descontrolo dos fluxos migratórios”.

Na resposta, Paulo Raimundo disse que o partido considerou que a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) foi “uma precipitação”, mas “o problema neste momento não está se o SEF foi mal extinto ou não, ou se a AIMA foi ou não bem constituída”.

“O problema são os mais de 400 mil processos que continuam a acumular-se com as vidas suspensas de muitas pessoas. Há pessoas que estão, neste momento, a caducar a sua autorização de residência”, salientou.

O secretário-geral comunista defendeu que, perante este cenário, a solução deve passar por tomar medidas excecionais, como propôs o PCP, que passem por reforçar os recursos humanos para que “resolvam de uma vez por todas os 400 mil processos”.

“Porque estamos a falar de 400 mil vidas penduradas. Alguns neste momento estão formalmente ilegais: há pessoas que estão hoje a confrontar-se com problemas na vida, no dia-a-dia, porque não conseguem fazer um seguro, um contrato de trabalho, porque estão numa situação de ilegalidade da qual não têm nenhuma responsabilidade”, afirmou.

 O PCP requereu ainda hoje a audição urgente da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, para obter esclarecimentos sobre as medidas que estão a ser tomadas para prevenir crimes de ódio, após as agressões a imigrantes no Porto.

extrema-direita

A coordenadora do BE condenou hoje as agressões a imigrantes, considerando que a legitimação do discurso racista com a eleição de deputados de extrema-direita favorece estes atos violentos, e defendeu que é importante combater o racismo.

“A legitimação que tem o discurso racista com a eleição de deputados de extrema-direita cria uma onda que é favorável a este tipo de atos violentos. E é por isso que é tão importante combater o racismo e combater o racismo significa não só condenar estes atos, não só puni-los de forma exemplar, mas admitir e enfrentar o problema”, afirmou Mariana Mortágua.

Falando aos jornalistas na Madeira, a coordenadora bloquista acrescentou que “há um problema de racismo em Portugal, há um passado colonial com o qual Portugal vai ter de lidar”.

“Falar sobre o racismo, assumir que ele existe, é a melhor forma de começarmos a combatê-lo e certamente teremos de ter sempre tolerância zero a este tipo de ataques violentos e criminosos que não podem ser permitidos no nosso país”, reforçou.

Mariana Mortágua referiu ainda que o passado “deixou marcas no presente e uma dessas marcas é o racismo, que durante muito tempo esteve ocultado”.

grupos antidemocráticos

O cabeça de lista da CDU ao Parlamento Europeu, João Oliveira, defendeu hoje que as agressões a imigrantes no Porto são “acontecimentos intoleráveis” que decorrem do ideário de forças políticas antidemocráticas.

Para Oliveira, os acontecimentos da madrugada de sexta-feira “não estão desligados do discurso de ódio, de racismo e de xenofobia que vai sendo propagandeado na sociedade portuguesa por forças políticas reacionárias e antidemocráticas”.

O cabeça de lista da CDU às eleições europeias de 09 de junho defendeu, em comunicado, que estas forças políticas reacionárias “aproveitam a circunstância em que os imigrantes são sujeitos à exploração e à desumanização, com a falta de resposta mais elementar na garantia dos seus direitos, seja no trabalho, seja na habitação, seja no acesso à saúde, para pressionar a degradação das condições de vida também dos portugueses”.

Também no dia 04, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, condenou veementemente as agressões e acusou a extrema-direita de incentivar o ódio, difundindo mentiras.

“Desde logo, condenar de forma veemente, sem hesitação, e apelar ao combate a todas as formas de violência. É de fato preocupante, é mesmo até assustador e não acontece só em Portugal”, afirmou, no concelho de Almada, distrito de Setúbal.

Pedro Nuno Santos considerou existir “um discurso e uma atmosfera que incita ao ódio, à divisão, ao ressentimento”, o que “torna o terreno fértil depois para a violência”, que tem de ser “combatida sem hesitação”.

“Portugal é um país que sempre respeitou o outro e nós temos de saber respeitar o outro. Portugal é um país de emigração e nós devemos tratar quem escolheu Portugal para viver e trabalhar como nós exigimos que os nossos portugueses sejam tratados lá fora”, defendeu.

Pedro Nuno Santos afirmou que há quem “se tenha de alguma maneira sentido à vontade para começar a expressar essa violência sobre os outros” e “há discursos que têm responsabilidade, há políticos que têm responsabilidades desde logo do ponto de vista discursivo”.

O secretário-geral do PS disse existir “um ambiente que tem sido fomentado pela extrema-direita, que promove, facilita, estimula e incentiva o ódio” e “o ódio vem normalmente acoplada à violência”.

Pedro Nuno Santos referiu também que a “extrema-direita mente no seu discurso” e destacou que “o contributo que os imigrantes e os trabalhos estrangeiros dão para a Segurança Social é um contributo profundamente positivo, são contribuintes líquidos para as pensões que os portugueses recebem”.

O socialista admitiu que a imigração “lança desafios ao país e aos portugueses”, mas destacou o contributo dos imigrantes também a nível econômico. “O país e a economia portuguesa precisam dos trabalhadores estrangeiros. Há setores que paravam no dia seguinte” sem eles, afirmou, defendendo que o seu contributo “deve ser respeitado, valorizado e referido”.

Presidência

No sábado, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, condenou os “ataques racistas” contra imigrantes que ocorreram no Porto, e salientou que a violência racial e a xenofobia não têm lugar na sociedade portuguesa.

“Ao tomar conhecimento dos ataques racistas perpetrados durante a última noite no Porto, o Presidente da República sublinha a veemente condenação da violência racial e da xenofobia, práticas sem lugar na sociedade portuguesa”, refere a nota.

O chefe de Estado exprimiu solidariedade às vítimas dos ataques e agradeceu “às forças de segurança a rápida intervenção”.

O Presidente da República transmitiu ainda um “voto de confiança na defesa do Estado de Direito e dos Direitos Humanos, certo que [as forças de segurança] se manterão atentas ao seu respeito”.

 Também a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, garantiu que “há uma tolerância zero ao racismo” e que o “infame ataque a imigrantes não é admissível e não representa o povo português”.

“Este infame ataque feito esta noite relativamente a cidadãos migrantes não é admissível, comportamentos destes não são admissíveis”, disse a governante, acrescentando que o ataque “não representa o povo português e os portugueses não apoiam este tipo de ataques”.

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