Alguns dados sobre as condições socioeconômicas relativos a América Latina foram lançados esta semana pela ONU. Nesses estudos, podemos verificar que apesar de avanços apresentados no combate às desigualdades sociais, mais de um quarto da população pobre da região vive no Brasil.
Segundo o relatório produzido pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), há 124 milhões de pessoas vivendo na linha da pobreza na área latino-americana, sendo que 37 milhões delas estão dentro do território brasileiro. A segunda maior parcela está no México, que tem 25 milhões de habitantes na faixa da pobreza.
O continente, com 588,6 milhões de habitantes, é considerado desde os anos 1970 como a mais desigual região do mundo onde 20% da população mais rica têm em média uma renda per capita quase 20 vezes superior à renda dos 20% mais pobres. Sobre o fato, diz o relatório da ONU que “a desigualdade de renda é extremamente elevada. Há um déficit considerável de emprego e uma abundante informalidade, que se concentra nos jovens e nas mulheres”. Mais de um quarto da população urbana, ou seja, 111 milhões de pessoas vivem em favelas, o que significa um número maior do que há 20 anos.
A quantidade de cidades na região aumentou seis vezes em 50 anos. A metade da população urbana, 222 milhões de pessoas, mora em localidades com menos de 500.000 habitantes e 14% (65 milhões de pessoas) vivem em mega cidades, caso de São Paulo eCidade do México.
De acordo com o levantamento intitulado “Estado dasCidades da América Latina e do Caribe -2012”o Brasil ainda é o quarto país mais desigual da América Latina, atrás apenas de Guatemala, Honduras e Colômbia. Aliás, mais de 40% dos milionários da AL vivem no Brasil, segundo a empresa britânica Standard Chartered. É bom lembrar que o país registrou sim avanço considerável em relação a 1990, quando era o campeão no ranking de desigualdade. Foi uma queda consistente na desigualdade nos últimos12 anos. Todavia, isto ainda é uma situação absolutamente desconfortável.
Um dos elementos derivados do problema da disparidade de renda entre as pessoas destaca-se a questão da violência. Com os estudos, verifica-se que a violência na América Latina e Caribe é a principal preocupação de seus cidadãos. E das 16 mil municipalidades pesquisadas, ela se encontra entre as três principais inquietações dos governos locais.
Para se ter uma idéia e tomando como base apenas o ano de 2008, morreram mais de 130 mil pessoas vítimas de arma de fogo na região. Não por coincidência, América Latina e Caribe têm as taxas de homicídios mais elevadas do mundo (mais de 20 para cada 100 mil habitantes), bem acima da média global (sete para cada 100 mil habitantes).
De acordo com técnicos da ONU, o padrão da violência varia muito nos países da América Latina e Caribe. As principais causas estão relacionadas ao crime organizado e à violência doméstica contra mulheres. Inclusive, a falta de segurança nos espaços públicos faz com que as mulheres evitem utilizá-los, enfraquecendo o tecido social e impondo a reclusão feminina nos espaços privados. As mulheres são, assim, constrangidas em sua liberdade de circulação. Manifesto machismo dominante. E uma revelação assustadora: tomando como parâmetros os anos entre 2004 e 2009, dos 25 países com as maiores taxas de feminicídio no mundo, 13 estavam na região, sendo El Salvador o primeiro do ranking. O Brasil se encontrava então em 11º lugar.
A história da América Latina escancara a explicação para estes brutos fatos do cotidiano que persistem. Um continente submerso na exploração colonial pelas potências durante séculos e, pós independências, pelo domínio de grupos pouco democráticos, muitas vezes manipulados pelos interesses internacionais na extração das riquezas naturais e uso de mão de obra barata.
O fortalecimento das mobilizações populares na busca por justiça social e ampliação de seus direitos é uma necessidade evidente. Estão, na região, entre os países menos desiguais Venezuela, Uruguai e Peru. Mas, sem duvida alguma, no geral, há muito a ser reformulado. É um continente que precisa buscar o seu equilíbrio, seja do ponto de vista da distribuição de renda, seja do ponto de vista das expansões das suas cidades. Tudo envolto em uma grande situação nada sustentável.
São Paulo, 23 de Agosto de 2012
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.