Alunos lusófonos em Bragança queixam-se do valor da mensalidade e do preço das casas

Arquivo: Politécnico de Bragança

Da Redação com Lusa

Estudantes lusófonos do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) queixaram-se hoje do valor das mensalidades, que são quase o dobro das dos alunos nacionais, e dos preços do alojamento, que dizem contribuir para o abandono escolar.

Dos cerca de 10 mil alunos da instituição transmontana, perto de 3.600 são estrangeiros, oriundos de mais de 50 países, sendo os de língua portuguesa os de maior expressão.

À margem de uma visita da ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, ao IPB, onde se reuniu com representantes das associações estudantis, Gabriel Cangusso, da Associação dos Estudantes Brasileiros de Bragança, disse à Lusa que os seus compatriotas rondam já 30% do total dos alunos de fora.

“É uma comunidade considerável, que vê bastantes problemas”, começou por explicar.

Salientado que o “IPB é um dos melhores de Portugal”, apontou que um desses problemas é o fato de “as propinas dos estudantes internacionais serem o dobro das dos nacionais”.

“Muitos estudantes vêm até nós por causa do estatuto de igualdade de direitos, o que em muitos locais de Portugal ainda não é 100% agilizado”, afirmou Cangusso.

O vice-presidente da Associação dos Estudantes Africanos em Bragança, Belmiro Zaqueu, disse por seu lado que “alguns dos estudantes não têm conseguido aguentar” as despesas, em que se inclui a propina.

Esta situação contribui para “o abandono escolar, por causa das questões sociais que enfrentam muitos desses estudantes que vêm de países africanos”, que têm dificuldade em responder ao custo de vida em Portugal.

Por isso, e porque não têm acesso a bolsas de estudo, muitos alunos internacionais acabam por ter de procurar trabalho.

“As bolsas que existem são as de investigação, às quais todos podem concorrer. Mas não existem bolsas de subsistência, para mitigar as problemáticas que os portugueses sentem, porque também vivemos em território português, e sentimos isso também”, afirmou Belmiro Zaqueu.

O jovem estudante pede ajuda ao Governo, não só por causa das propinas e da falta de bolsas, mas também devido aos preços do alojamento, que disse ser inflacionado devido aos apoios concedidos aos estudantes portugueses: “Há um aumento, uma especulação do preço da renda”.

O presidente do IPB, Orlando Rodrigues, explicou à Lusa que, neste momento, a propina está fixada em cerca de 680 euros para os nacionais e ronda os 1.316 euros para os alunos internacionais.

“As propinas dos alunos nacionais foram limitadas no parlamento e foi proibido o aumento. Para os internacionais, não houve essa limitação”, explicou Orlando Rodrigues, que adiantou que as atualizações são feitas consoante o valor do Indexante dos apoios sociais (IAS).

“Fomos convidados para o anúncio de um programa de bolsas de Portugal. O nosso desejo é que esse programa seja expandido, que a cooperação portuguesa invista nas bolsas, em particular para os países PALOP. Entendemos que é uma missão de Portugal”.

O presidente do IPB frisou que estas seriam “um tipo de bolsas diferente, para cooperação”.

Sobre as queixas dos estudantes, a ministra Elvira Fortunato defendeu que “as próprias instituições e regiões têm um papel a fazer”.

“Penso que as próprias instituições terão capacidade de ajudar alunos internacionais que possam estar em dificuldade”, disse Elvira Fortunato aos jornalistas, vincando ainda que é o assunto também tem de ser olhado “dentro do Governo”.

“Acima de tudo, queremos captar mais alunos para o ensino superior, sejam alunos que vivam em Portugal ou que escolham vir estudar. Por isso, temos de garantir boas condições também para os alunos que vêm estudar para Portugal”, afirmou ainda aos jornalistas.

Elvira Fortunato revelou ainda que esta segunda-feira já foi pago o primeiro mês de bolsa a quase 20 mil alunos nacionais e que está a ser analisada a possibilidade de financiar alunos sem bolsa atribuída.

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