Alunos brasileiros em Coimbra são de uma classe “cada vez mais alta” – associação

Estudantes da Universidade de Coimbra dentro da icônica biblioteca Joanina. Foto: Emanuele Siracusa

Da Redação com Lusa

O presidente da Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros em Coimbra (APEB) declarou que os alunos do Brasil na Universidade de Coimbra são de uma classe social “cada vez mais alta”, pelos custos cambiais e pela mensalidade internacional.

“É claro que o público brasileiro que consegue vir estudar na Universidade de Coimbra é um público de classe média alta e cada vez mais alta com o passar do tempo, por conta diferença do câmbio e tudo o mais. Então o povo que sofreu com o colonialismo [no Brasil] não tem acesso a essa instituição aqui”, afirmou Felippe Vaz, numa entrevista à Lusa, a propósito dos 200 anos da independência do Brasil e da ligação da instituição de ensino superior português à efeméride.

Por isso, “o número de estudantes negros em Coimbra é mínimo”, apontou. “Então, existe ainda um caminho a ser trabalhado”, referiu aquele responsável.

Mas, “não é só aqui. Também no Brasil. Se você pega a foto dos formandos de um curso de medicina, por exemplo, vê que maioritariamente são brancos”, reforçou.

Em Coimbra, acresce aos custos cambiais o da propina internacional, a “principal reclamação” dos estudantes brasileiros, e, por consequência da associação.

Segundo Fellippe Vaz, aquela propina, que custa 7.000 euros, tem um valor muito elevado, pelo que é um problema que a associação tem vindo a discutir com a universidade, mas que ainda não está resolvido.

Segundo o presidente da APEB, a universidade tem manifestado abertura para o diálogo sobre este assunto, mas até que este se resolva, a propina “deixa o estudo cada vez mais elitista, levando um público que vem para cá não só pela sua capacidade acadêmica, mas pelo poder financeiro”, defendeu.

Apesar disto, considerou que na maioria dos casos as coisas correm bem com os estudantes brasileiros, embora sempre “com uma grande diferença entre o sonho e a realidade”. Uma realidade universitária que esperavam de maior proximidade com os professores, porque, no Brasil “estão habituados a ter um contacto mais próximo com o professor”.

Quanto à relação Portugal-Brasil, Felippe Vaz considerou que “é muito positiva, muito pacífica e de cooperação”.

“O acordo e cooperação de estudo entre o Brasil e Portugal é um grande exemplo disso, dessa interculturalidade entre os estudantes. E isso é muito positivo”, afirmou.

Mas num olhar sobre a história, considerou que nas relações entre os dois países é preciso analisar “situações problemáticas do passado em relação ao colonialismo ou à exploração”, defendendo que é preciso “caminhar para a frente vendo como se pode melhorar a perspetiva daqueles que passaram por isso”.

“Eu acho que isso tem acontecido em passos pequenos, mas tem acontecido, e a aproximação entre o Brasil e Portugal, nos últimos anos, tem sido um grande exemplo disso”.

“A gente vê que há essa vontade de trabalhar em conjunto, porque no fundo somos nações muito unidas historicamente. Então a gente espera que isso se promova por muitos anos para a frente”, acrescentou, referindo que as comemorações do bicentenário podem “reaproximar ainda mais” os dois países.

2.500 estudantes em 2021

O presidente da APEB disse que o nome, fama e história da Universidade de Coimbra no Brasil já atraiu 2.500 estudantes brasileiros em 2021, sendo a universidade estrangeira com maior número.

“A Universidade de Coimbra tem um grande nome e uma grande fama no Brasil, que leva não só os estudantes que tiveram familiares a estudar em Coimbra a vir procurá-la”, afirmou Felippe Vaz. Ele próprio confessou que veio “pelo nome, fama e história” da universidade, que a “torna muito grande”.

Para o presidente da APEB, quando se fala da história da universidade é “não só da ligação histórica (…) ao Brasil”, mas também “da sua longevidade”.

Segundo Felippe Vaz, os alunos brasileiros vêm pela “grandeza da instituição”, mas também pela sua qualidade acadêmica, pelas oportunidades, tanto de trabalho, como de estágio, e pela importância do seu nome no currículo. Sobretudo este último constitui “um dos grandes fatores de motivação”.

Mas também “não é raro o caso de estudantes brasileiros que vieram para cá, ou porque os pais ou avós fizeram (…) toda a licenciatura, ou mesmo (…) programas de mobilidade” na universidade, como Erasmus, ou mestrados e conheceram a sua história, manifestando o desejo que os filhos estudassem ali, referiu o presidente da APEB.

O responsável referiu que a maioria vai estudar para Portugal, como para outro país da Europa, pela questão da segurança e da situação política e econômica no Brasil.

Felipe Vaz acrescentou que a historicamente, a Universidade de Coimbra teve “um grande papel” na independência do Brasil, referindo que “há grandes nomes que estudaram em Coimbra que tiveram um papel importante na história do Brasil, num contexto geral. Isso cria um legado para o futuro”.

Face a este legado, a própria associação envolveu-se nas comemorações do bicentenário da independência do Brasil – com a realização de debates e semana cultural, numa perspectiva histórica e indígena – em novembro.

E, antes que terminem as comemorações dos 200 anos da independência do Brasil, a APEB quer realizar um evento de maior escala cuja organização ainda está numa fase embrionária, admitiu o presidente, justificando que a associação depende também de financiamento do Governo federal do Brasil.

“Queremos trazer grandes nomes para cá, grandes empresários, políticos também, para se fazer um debate histórico, mas também político e econômico”, adiantou ele em Coimbra.

Segundo, Filippe Vaz, isto é importante para a tomada de decisão dos alunos de ficarem ou partirem, após os estudos.

Porque muitos ainda sentem falta do estilo de vida, da família, e têm vontade de voltar para o seu país, “até mesmo para ter a oportunidade de levar para o Brasil o que aprenderam aqui”, referiu. Enquanto outros “já estão aqui a achar trabalho, muito felizes e não estão a pensar em voltar”, realçou Felippe Vaz.

Ele próprio desde 2017 a estudar em Portugal – licenciou-se em psicologia na universidade de Coimbra e vai começar agora um mestrado – confessou que ainda balança entre a vontade de voltar ou ficar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *