Da Redação
Com Lusa
Os 10 concelhos do distrito de Viana do Castelo perderam, entre 2015 e 2017, mais de 22,8 milhões de euros de “valor florestal” com a destruição de 2.614 hectares consumidos por fogos causados por queimadas para renovação de pastagens.
“É um número catastrófico do ponto de vista econômico e financeiro, para não falar do ponto de vista social e cultural”, disse o primeiro Comandante Operacional Distrital (CODIS) de Viana do Castelo, Marco Domingues.
Questionado pela Lusa, na sequência de uma conferência promovida pelo Comando Territorial da GNR de Viana do Castelo e intitulada “O uso do fogo na agricultura: Técnica ou Tradição”, onde apresentou aqueles dados, Marco Domingues explicou que o “prejuízo econômico” foi calculado “ao preço de tabela de 8.750 euros por hectare”.
“O que está em causa é o valor do que se perdeu nas florestas do Alto Minho com os incêndios florestais causados por queimadas (uso do fogo para renovação de pastagem)”, referiu.
Adiantou que os 2.614 hectares consumidos dizem apenas respeito a povoamentos florestais. No entanto, as 433 ocorrências registadas entre 2015 e 2017, com origem em queimadas, resultaram numa área ardida total de 11.081 hectares.
“Fala-se muito da área ardida, mas não se fala do impacto econômico e financeiro do uso recorrente do fogo”, reforçou.
Além do impacto econômico, o levantamento permitiu contabilizar as consequências financeiras do combate aos fogos causados por queimadas. Segundo Marco Domingues, os custos ultrapassaram os 1,2 milhões de euros.
“Foram empenhados 6.353 operacionais, 1.823 veículos e 108 meios aéreos. O custo associado a este combate foi superior a 1,2 milhões de euros”, ressalvou.
Marco Domingues sublinhou tratar-se de “um esforço muito exigente para a resposta disponível”.
No Alto Minho existem 12 corporações de bombeiros, sendo que Viana do Castelo é o único concelho a dispor de um corpo profissional na região.
Além da capital do Alto Minho, apenas Caminha possui duas corporações de bombeiros voluntários, uma situada na sede do concelho e a outra em Vila Praia de Âncora.
No total, o distrito de Viana do Castelo tem cerca de 700 bombeiros, “sendo que 90% são voluntários”.
Os dados, que constam de uma investigação do segundo CODIS de Viana do Castelo, Paulo Barreiro, no âmbito da sua tese de mestrado e já na posse da proteção civil nacional, indicam que, em 2017, mais de 50% da área ardida do distrito foi consumida por fogos originados por queimada”.
Para Marco Domingues, “no mundo rural, mais do que a causa, é importante perceber a motivação de quem procede às queimadas e agir sobre essa motivação”.
“No futuro não queremos voltar a viver a tragédia de 2017, em Monção. Pelo contrário, essa tragédia deve servir de exemplo porque o fogo consumiu 3.134 hectares e teve origem numa queimada para renovação de pastagens”, frisou.
O primeiro CODIS de Viana do Castelo destacou que o “maior prejuízo é a perda de vidas”, sendo que, em 2018, morreram três pessoas, uma no concelho de Viana do Castelo e duas em Arcos de Valdevez.
Segundo Marco Domingues, as mortes em Arcos de Valdevez de duas idosas ocorreram em menos de 24 horas, defendendo, para “o futuro, um maior acompanhamento desta atividade”.
“Em 800 anos de história debatemos e legislamos muito, mas ainda não conseguimos resolver o problema dos incêndios florestais, particularmente o uso do fogo em queimas – destruição de sobrantes agrícolas – e em queimadas”.
Os dados revelados à Lusa indicam que, no Alto Minho, “as queimas comunicadas voluntariamente pela população ao Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Viana do Castelo aumentaram, entre 2014 e 2018, de 7.079 para 11.798”.
No universo das 37.966 queimas comunicadas voluntariamente nesses cinco anos, “resultado da sensibilização feita pelos Gabinetes Técnicos Florestais (GTF) junto da população, resultaram em 14 ocorrências”.
“Não são dados significativos. Os incêndios que resultaram de queimas consumiram 1,83 hectares”, concluiu.