Alterações climáticas podem levar 200 milhões de pessoas a deixarem suas casas nas próximas décadas

Foto Alexander Mueller

Da Redação com Lusa

As alterações climáticas podem levar mais de 200 milhões de pessoas a deixarem as suas casas nas próximas três décadas, criando focos de migração, a menos que sejam tomadas medidas urgentes, segundo um relatório do Banco Mundial.

As medidas, de acordo com a instituição, passam pela redução global das emissões poluentes e por colmatar as falhas no desenvolvimento.

Na segunda parte do relatório Groundswell, hoje divulgada, analisa-se como os impactos lentos das alterações climáticas, como a escassez de água, a redução da produtividade e o aumento do nível do mar, podem originar milhões de “migrantes climáticos” até 2050, em três cenários diferentes, consoante a ação climática e o desenvolvimento.

No cenário mais pessimista, com um elevado nível de emissões e um desenvolvimento desigual, os autores do trabalho preveem mais de 216 milhões de pessoas a deslocarem-se dos seus países em seis regiões analisadas.

Essas regiões são a América Latina, o Norte de África, a África subsaariana, a Europa Oriental e a Ásia Central, o sul da Ásia e o leste da Ásia e o Pacífico.

No cenário mais favorável, com um baixo nível de emissões e, inclusivamente, desenvolvimento sustentável, o número de migrantes pode ser 80% inferior, mas ainda assim causar a deslocação de 44 milhões de pessoas.

No relatório não são analisados os impactos das alterações climáticas a curto prazo, como os efeitos nos eventos meteorológicos extremos.

As conclusões “reafirmam o potencial de o clima induzir migrações nos países”, disse Viviane Wei Chen Clement, especialista sénior em alterações climáticas no Banco Mundial e uma das autoras do relatório.

No cenário mais grave, a África subsaariana – a região mais vulnerável devido à desertificação, linhas costeiras frágeis e população dependente da agricultura – veria o maior movimento, com mais de 86 milhões de migrantes climáticos.

O Norte de África, porém, poderá ter a maior proporção de migrantes climáticos, com 19 milhões de pessoas a deslocarem-se, o equivalente a 9% da população total, devido essencialmente ao aumento da escassez de água na costa nordeste da Tunísia, na costa noroeste da Argélia, oeste e sul de Marrocos e no sopé central do Atlas, de acordo com o relatório.

No sul da Ásia, o Bangladesh é particularmente afetado por inundações e destruição de colheitas, responsáveis por quase metade dos migrantes climáticos, com 19,9 milhões de pessoas, incluindo um aumento na percentagem de mulheres, a deslocarem-se até 2050, no cenário pessimista.

“Esta é a nossa realidade humanitária agora mesmo e estamos preocupados que vá ser ainda pior, onde a vulnerabilidade é mais aguda”, afirmou Maarten van Aalst, diretor do Centro Internacional do Clima da Cruz Vermelha, que esteve envolvido no relatório.

O relatório não incidiu nos migrantes climáticos nas fronteiras.

“Globalmente sabemos que três em cada quatro pessoas que se deslocam ficam nos países”, indicou Kanta Kumari Rigaud, um destacado especialista em ambiente no Banco Mundial e coautor do relatório.

No entanto, os padrões de migração das áreas rurais para as urbanas antecedem muitas vezes os movimentos para as fronteiras.

Apesar de a influência das alterações climáticas na migração não ser nova, é frequentemente parte de uma conjugação de fatores que empurram as pessoas a sair e atua como uma múltipla ameaça.

As pessoas afetadas por conflitos e desigualdade estão mais vulneráveis às alterações climáticas, porque têm meios limitados para se adaptarem.

Os autores do relatório também alertam que podem surgir pontos críticos de migração na próxima década e intensificarem-se até 2050.

É necessário planeamento em ambos os lados, nas áreas para onde as pessoas vão deslocar-se e nas que deixam, para ajudar os que ficam.

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