Alguns brasileiros que estão no aeroporto de Lisboa têm voo marcado para dia 30

Mundo Lusíada

Alguns dos cerca de 30 brasileiros que permanecem à porta do aeroporto de Lisboa exigindo um lugar num avião para retorno ao Brasil já têm voo garantido para quinta-feira, disse à Lusa uma das imigrantes.

“Recebi agora mesmo um telefonema de uma senhora do consulado a dizer que já estamos garantidos para o voo desta quinta-feira”, disse Luana, com a filha de 3 anos ao colo, à Lusa. Luana, o marido e a filha viviam há ano e meio em Portugal.

“O meu marido era padeiro e eu trabalhava em pastelaria. Ele tinha contrato, eu não, mas ficamos sem nenhum apoio”, explicou quando tinha acabado de receber a notícia do consulado sobre o lugar assegurado no último dos seis voos fretados recentemente pelo Estado brasileiro para repatriar viajantes que ficaram retidos em Portugal por causa das consequências da pandemia.

“O voo é na quinta, dia 30, de nós três. Está confirmado”, reforçou.

A família chegou ao aeroporto no domingo de manhã, na esperança de conseguir entrar no voo de domingo para São Paulo, mas não conseguiu. Não passou a noite no aeroporto ali, por causa da filha, tendo regressado nesta terça-feira pela manhã.

Agora, apesar de já ter recebido a confirmação por ‘email’, tem de ficar ali até quinta-feira, como que lhe disse “a senhora do consulado”.

Mas isso não é um problema, “porque os senhores do aeroporto já disseram” à família que a deixa ficar no interior, “por causa do frio e da criança”, esclareceu.

A mesma sorte não teve Yane dos Santos, 53 anos, que ainda vai passar a noite sentado numa cadeira de rodas cedida pelo aeroporto.

Quando falou com a Lusa na segunda-feira a noite tinha no colo várias mantas, no corpo casaco sobre casaco e uma perna estendida sobre um carrinho. É diabético e foi operado recentemente no pé, depois de uma ferida complicada.

Trabalhava numa empresa de apoio domiciliário a idosos, com um contrato de prestação de serviços, quando chegou a pandemia da covid-19 a Portugal.

“De quarentena, sem trabalho, sem dinheiro para a renda, vou ficar na rua a fazer o quê?”, respondeu quando questionado por que quer regressar ao Brasil.

“Estava internado quando o consulado me mandou ‘email’ a perguntar se queria ir no voo de dia 18, que saiu do Porto”, declarou, referindo que queria ir, “mas estava hospitalizado”.

“Eles mandaram depois um ‘mail’ a dizer que o último voo era dia 26 e que se quisesse vir teria de trazer autorização médica para viajar”, explicou, referindo que informou da sua presença.

Porém, chegou ao aeroporto, mas o seu nome “não estava na lista”.

Yane sabe, porque as pessoas ali instaladas dizem, que há voo para São Paulo na quinta-feira e prometeu não arredar pé da porta do aeroporto enquanto não lhe arranjarem lugar no avião.

“O consulado ofereceu-me um abrigo por causa do meu pé, mas eu não quis”, afirmou, temendo que, ao sair dali, fosse esquecido.

“Nós estamos aqui para chamar a atenção”, disse Yane dos Santos

E tanto chamaram à atenção que ao longo do dia de hoje receberam doações de portugueses, brasileiros e até de italianos.

Ao final do dia continuavam a chegar carros a descarregar caixas de comida e agasalhos. Não só turistas, mas também residentes sem emprego e estudantes universitários acampam no local.

Consulado

O cônsul adjunto do Brasil em Lisboa já tinha garantido que o último dos seis voos fretados pelo Estado brasileiro para repatriamento de turistas se realizaria “em breve” e admitiu que poderia haver mais, não só para turistas, mas também para pessoas em situação de vulnerabilidade.

“Pode haver mais voos fretados para turistas e pessoas que residam em Portugal e estejam numa situação limite de vulnerabilidade”, afirmou à Lusa, por telefone, Eduardo Hosannah.

O cônsul adjunto acrescentou: “Se for necessário, pediremos autorização a Brasília para a realização de mais voos e ampliamos o contrato com a companhia aérea TAP”.

Quanto ao sexto e último dos voos para repatriamento de cerca de 1.600 viajantes do Brasil retidos em Portugal na sequência das medidas de restrição e cancelamento de voos resultantes da pandemia da covid-19, o diplomata garantiu que se realizaria “em breve”.

Nesta segunda-feira, uma entrevista da TVi mostrou a situação de brasileiros que resolveram esperar uma providência das autoridades na porta do aeroporto de Lisboa, já que foram impedidos de ficar dentro do espaço.

Apesar do cansaço e do frio, na entrevista o grupo prometeu manter-se à porta do aeroporto até que um responsável do consulado ou da embaixada do Brasil em Lisboa resolvesse a sua situação.

A Embaixada do Brasil em Lisboa também publicou uma nota após a reportagem da SIC no último dia 26, esclarecendo que o Consulado-Geral em Lisboa, em coordenação com a Embaixada do Brasil e com os Consulados no Porto e Faro, contratou já seis voos de repatriamento para brasileiros, cinco desses voos já chegaram e mais um programado. No total, já foram beneficiados com a medida 1.494 brasileiros, e há a perspectiva de que mais de 300 embarquem no próximo voo, todos os voos partiram lotados, segundo o órgão.

Primeiramente, os voos atendiam viajantes retidos no país devido ao cancelamento de voos comerciais, já para brasileiros que não tinham bilhetes de regresso foram atendidos “em atenção a circunstancias humanitárias excepcionais”.

Para brasileiros “que não se enquadrassem nos critérios de repatriamento, mas que ainda assim se viram em situação de dificuldades econômicas, o Consulado-Geral do Brasil em Lisboa providenciou, com verbas próprias ou mediante a cooperação de entidades beneficentes (notadamente igrejas próximas à comunidade), alojamento, alimentação e medicamentos para os casos mais urgentes. O Consulado agradece profundamente a cooperação que tem recebido dessas entidades”.

Ainda segundo o órgão, com apoio de uma dessas entidades beneficentes, o Consulado-Geral em Lisboa divulgou instalações adequadas para o alojamento dos brasileiros que se encontravam no aeroporto, mas parte substancial do grupo optou por não deixar o aeroporto, “com o argumento descabido de que a sua presença ‘pressionaria’ o Consulado-Geral a contratar voos adicionais para quem não seguiu as instruções prévia”.

E também destacou que nenhuma pessoa física ou jurídica está habilitada a levantar cadastros paralelos de possíveis beneficiários de voos de repatriamento, somente é válido os contatos e cadastros feitos diretamente com os consulados e embaixada no país.

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