Adepto da poesia, Tiago Tarelho apresenta livro em Viseu

Por Igor Lopes

Tiago Tarelho é autor do livro de poesias “Intro-Missão”, lançado no início deste mês, nas instalações do Solar do Vinho do Dão, na cidade de Viseu, sob o selo da Portugal Mag.

O evento, que contou com casa cheia, ficou marcado também pela presença de Maria Teresa Fonseca, coordenadora da Biblioteca Municipal de Viseu, de Frankelim Amaral, responsável pela Portugal Mag Editora, de Adélio Amaro, escritor, diretor executivo da revista Gazeta Lusófona e presidente da Associação Folclórica da Região de Leiria-Alta Extremadura e do músico Pedro Duvalle.

Durante entrevista, Tiago Tarelho contou porquê os poemas são hoje parte importante da sua vida e sublinhou ser fundamental viver um verdadeiro autodescobrimento.

O que pretende passar ao público com o título “Intro-Missão”?

No momento da minha apresentação foi assinalado várias vezes o termo “liberdade”. De facto, eu gosto de liberdade quando escrevo, porque os meus poemas refletem sentimentos ou pensamentos profundos, e não gosto de limitar sensações no papel. Elas têm de voar, soltar as amarras, tal como sugere a capa do livro. Portanto, o titulo “Intro-Missão” pretende transportar isso também para o leitor. Existem, para mim, três interpretações, e eu gosto que cada leitor tenha liberdade para o interpretar à sua maneira. Em primeiro lugar, este livro reflete o meu crescimento, não só enquanto poeta, mas também enquanto homem. E, dadas as vicissitudes e dificuldades que, através de problemas de família, enfrentei precocemente, jurei iniciar uma missão pessoal, cujo objetivo era tornar-me numa pessoa forte. E a poesia foi o “registo” desse caminho. Este livro é portanto uma missão interna de autoconstrução, daí o título “Intro-Missão”. Por outro lado, quando escrevo poemas, eles surgem-me de maneira espontânea, em momentos em que não estou à espera. Assim, eles “intrometem-se”. O terceiro sentido é uma mensagem ao leitor. Eu não escrevia poemas para o público, antes para mim mesmo, ou para pessoas intimamente ligadas a mim. Tomar a decisão de expor a minha obra foi muito difícil, e eu, nas decisões mais difíceis, gosto de aligeirar com uma pitada de humor, ironia ou sarcasmo. Daí “Intro-Missão”, porque estou a permitir ao leitor que se intrometa em coisas que me são muito pessoais.

Como surgiu a ideia do livro?

Na minha “missão” pessoal havia um plano que atravessava vários objetivos. Primeiro, viajar, viajar muito. Depois, nunca parar de estudar. Por fim, encontrar a mulher da minha vida, e as viagens também tinham esse intuito. Associado a este último sonho, havia o sonho de ter filhos, e passar-lhes valores, desde cedo, que eu demorei tanto a construir. Assim, e sendo a poesia algo pessoal, como referi antes, um dia o proprietário da editora Portugal Mag, que já era meu conhecido, leu um poema meu e disse que eu tinha bastante jeito. Aconselhou-me a lançar um livro, coisa que eu achei imediatamente sem sentido, confesso. No entanto, ele disse uma coisa que ficou a remoer em mim: um dia teria um livro da minha autoria para mostrar aos meus filhos. Confesso que foi esse argumento que me arrebatou. E, praticamente dois anos depois, procurei de novo essa pessoa, no caso o Franklim, e disse que tinha o desejo de avançar.

Por que apostar na poesia? Considera-se um poeta?

Eu sinto que foi a poesia que apostou em mim. Quando tinha 11 anos, e de forma lúdica, escrevi uma adaptação de um poema que li num jornal. Foi assim que nasceu o poema “A vida”, presente no livro. Este foi o meu primeiríssimo poema. Decidi pegar nesse poema e mostrá-lo na altura à minha professora de português. Ela adorou e, sem eu saber, fê-lo concorrer ao concurso de poesia do Colégio, que tinha mais de 600 alunos. A verdade é que ganhei esse concurso. E desde aí fiquei a pensar que talvez tivesse jeito. Então escrevi outro, e outro… Até que a poesia se “intrometeu” em mim de tal forma que hoje não consigo viver sem ela. Quanto à segunda pergunta: sim, considero-me um poeta. Na apresentação, a Doutora Maria Teresa Fonseca referiu que existem os poetas, e depois os trabalhadores de versos. A minha forma de criar consiste, como costumo dizer, numa fórmula. Requer a soma de três coisas: inspiração, um sentimento muito profundo, e “a força”, que é algo que não sei explicar. Eu posso ter inspiração e até um sentimento muito profundo, mas se não tiver essa “força”, não sai nada de jeito. Para mim, ser poeta é ter essa “força” de que falo mas que não sei definir.

No início do livro, agradece à Vida, que é, como disse, “tema de tantos poemas”. O que a vida lhe diz e o que consegue dizer sobre ela?

Para mim nada acontece por acaso. Não é por acaso que o primeiro poema que escrevi se chama “A Vida”. Não é por acaso que tantas vezes falo da “vida” quase como se fosse ela que nos definisse. Mas aprendi, na minha construção pessoal, que existe uma ambivalência. Se formos pessoas derrotadas e negativas, então a vida atropela-nos. Quando digo “a vida” refiro-me às pessoas, ao mundo, à sociedade, às coisas, a tudo o que rodeia cada um de nós. Mas nós somos a força motriz. Se formos positivos e não baixarmos os braços, então eu acredito que a vida se sujeita a nós e se encaminha para a “tal” felicidade de que tanto se fala. Na minha missão interna, existe um princípio fundador. Quando na minha vida algo me corre bem, eu sorrio e percebo que é só um instante. Quando algo me corre mal, eu sorrio e percebo que é só um instante… Tento fazer das coisas boas, vontades que me levem a multiplicá-las. E das coisas más, tanto reflexões quanto pretextos para que coisas melhores surjam. A minha vida é assim. Como me considero a força motriz, então assumo que as coisas más que me acontecem são da minha responsabilidade. Só existe algo que não consigo definir, que é a morte dos outros. Porque a minha não me afeta minimamente. A morte dos outros, essa, afeta-me, sobretudo quando se trata de pessoas de quem gosto. Mas aí tento perceber que essa é a lei da vida, o único momento em que ela nos vence. E eu, para ripostar, guardo as memórias boas dessas pessoas comigo, e muitas vezes escrevo um poema para imortalizar isso. Quanto à minha morte, sigo uma máxima de Epicuro, um filósofo que adoro: “Porque tendes medo da morte? Afinal, nunca a ireis cruzar. Enquanto estiverdes vivo ela não chegará, quando ela chegar já cá não estareis”.

Num dos poemas, você diz que precisa de afeto. O que é para você esse sentimento?

Felizmente encontrei esse afeto. Não é fácil de definir, mas, para mim, tem a ver com a minha busca pela felicidade. Eu acredito que a felicidade está dentro de nós, e as pessoas cometem o erro de a procurar em todo o lado e em todas as coisas. Não, a minha felicidade está dentro de mim. Talvez seja através dos outros que a encontrei. Portanto, talvez o afeto dos outros seja o elemento que desponta a descoberta da nossa felicidade interior.

Considera-se uma pessoa com “fome de viver”?

Sim, imensa. Admito que por vezes até seja cansativo. Para a minha esposa então, deve ser imenso! Nós costumamos dizer que estamos juntos há cinco anos, mas parece que nos conhecemos há 25, tal é a intensidade com que vivo. Eu não consigo estar dois dias sem fazer nada, sem criar, sem mudar algo na minha vida. Se não o fizer, fico doente. Penso que a fome de viver é isso, querer sempre descobrir coisas novas, experiências novas, pessoas novas. Penso que será sempre assim, no meu caso, uma vontade constante de aprender. Um exemplo muito grande disso é muito recente. Eu estava em França há quase dez anos. Tinha um emprego estável numa empresa gigante. Estava à beira de uma promoção de carreira, que poderia levar-me longe, profissionalmente. Mas eu pensei: “então e que felicidade quero eu, afinal?” E para mim o próximo passo disso era ter filhos, e sobretudo criá-los no meu País. Então, decidi preparar o meu regresso. Deixei toda a gente perplexa na minha empresa com a decisão que tomei. Inclusive a minha mulher no início estranhou, mas ela própria tinha muita vontade de regressar. E as nossas famílias então acharam muito surpreendente. Mas era o que queríamos. Para nós, a felicidade não é ganhar isto ou aquilo ao final do mês, é sim fazer o dia a dia valer a pena. De resto, somos pessoas de mangas arregaçadas e que procuram a sorte, não esperamos que ela caia do céu. A verdade é que regressamos há um ano, e estamos os dois a trabalhar. Mas, sobretudo, muito felizes, a cada dia, por vivermos no País onde nascemos. Isto para mim é vida. Que mais poderia ser?

Que momentos da sua vida podem ser revividos em poemas?

Absolutamente todos. Eu nunca datei os meus poemas. Eles nem sequer estão ordenados em cadernos nem nada que se pareça. Para mim, o tempo é relativo. Einstein definiu isso em teoria, mas eu acredito nessa teoria também de forma sentimental. E, ao olhar para um poema meu, sei exatamente o que estava a sentir naquele momento. Isso para mim é datá-lo, não no tempo, mas no sentimento. Portanto, a resposta é mesmo essa: todos os momentos da minha vida são revividos em poemas. E o livro é apenas um pequeno excerto da minha vida.

Que projetos tem em mente?

Eu não vou falar em detalhes, mas tenho também várias pessoas que afirmam que o meu talento não se resume à poesia. Assim, tenho duas ideias para narrativa, e também um livro de memórias, não minhas, mas uma coletânea de memórias. Tenho também o objetivo de escrever uma obra de poesia épica moderna. Para além disto, tenho já um convite para escrever músicas para um amigo meu, que é cantor, e tem um talento fenomenal. Também existe a ideia de criar um projeto comum, com recurso às tecnologias modernas, que reúna vários poetas, porque adoro a mistura de várias formas de expressão. E ainda tenho algumas ideias de livros que poderão surgir em coautoria. O mais incrível é que me estão sempre a fervilhar ideias novas. Tenha eu anos suficientes de vida para conseguir concretizar pelo menos uma boa parte delas.

Como se sentiu durante o lançamento do livro?

Eu no início estava ansioso. Nunca tinha feito algo assim. Mas a verdade é que foi magnífico. Senti-me muito orgulhoso, mas também ao ver o orgulho e a emoção, ao ver uma sala cheia numa tarde tão fria de Inverno, em que existiam dezenas de eventos a decorrer em Viseu, para mim senti também uma enorme humildade. Porque sou um sortudo, um privilegiado. E isso traz-me humildade, vontade de aprender cada vez mais e continuar a dar a estas pessoas emoções. Nesta apresentação, foi a primeira vez que vi pessoas verdadeiramente emocionadas com a minha poesia. Quero continuar assim, a despertar sentimentos, mas, sobretudo, formas de expressão, num País onde os sentimentos são muito profundos, mas também muito reprimidos.

Onde as pessoas podem comprar a obra?

Existem várias formas de o fazer. Podem seguir-me nas redes sociais, no Facebook em @tiagotarelho.writer. Ou no meu blogue, Intro-Missão. Se me contactarem por mensagem, posso solicitar à editora que envie o livro diretamente para qualquer parte do Mundo. Por outro lado, no próprio site da editora.

Vão haver também outras apresentações, sempre com entrada livre, onde é possível adquirir o livro dedicado e autografado.

Por fim, fale um pouco sobre o seu currículo.

Tenho 28 anos. Os meus pais tinham restaurante. E com mais ou menos 11 anos comecei a ajudá-los ao fim de semana e nas férias. Foi muito difícil para mim, porque era uma criança e queria ir brincar com os meus colegas. No entanto, como a minha filosofia de vida diz, foi difícil mas trouxe-me coisas muito boas. O sentido de responsabilidade, a proatividade, a ausência de medo de trabalhar… Entretanto, aos 18 anos, emigrei com os meus pais para França e quando lá cheguei não sabia uma palavra de francês. Trabalhei um mês numa empresa portuguesa de limpeza onde me tentaram explorar, e saí imediatamente. Depois fui para um hipermercado, e apesar de não falar francês, fiz um esforço muito grande por aprender e fui subindo alguns níveis. Até que um vendedor de uma grande empresa reparou na minha determinação e me convidou para ir a uma entrevista com o seu Diretor Nacional de Vendas. Entrei e comecei como assistente comercial, sendo que, quando saí, era Responsável de Setor. Estava à beira da promoção para Formador, e daí continuar um crescimento rápido de carreira. Mas foi nesse momento que decidi voltar, como já referi. Vim para um projeto de exportação para o mercado francês, mas apercebi-me rapidamente que em Portugal os patrões tentam constantemente contornar a lei, e houve situações com as quais não concordava, o que me fez sair ao fim de apenas três dias. Saí portanto de França com um emprego estável, para um projeto que analisei e me parecia sólido, para me encontrar sem emprego ao fim de três dias. Mas como acredito que nada na vida acontece por acaso, acreditei sempre que coisas melhores surgiriam. Então mandei centenas de currículos, bati a todas as portas e encontrei um emprego aqui em Viseu como vendedor de bebidas. Foi aí que entrei no mercado do vinho, aprendi imenso e acabei por me tornar um apreciador. Também foi muito importante para conhecer pessoas novas e, sobretudo, as estradas do distrito, já que eu não sou daqui. Mas, entretanto, com a personalidade forte que tenho, não me contentei. Apareceu uma oportunidade de entrar para a equipa de gestão de um restaurante numa cadeia que é a maior do mundo nessa área, e eu não hesitei. Concorri, passei por todos os crivos, e consegui entrar. Estou lá há três meses. A nível pessoal, a minha vida oscilou sempre, nunca tive um sítio fixo. Nasci em Febres, onde os meus pais tiveram casa. Depois fui para Corticeiro de Cima, onde eles abriram o primeiro restaurante. Depois para Vilamar e, de seguida, fixámo-nos em Vila Verde, num restaurante muito grande que os meus pais construíram de raiz. Tudo isto são terras muito próximas. Na fase em que eles estiveram em Corticeiro de Cima, uma das empregadas propôs que eu fosse ficando em casa dos pais dela, porque não havia tempo para me dar atenção. Era na aldeia vizinha, Corticeiro de Baixo. Comecei a ficar com eles com alguns meses de idade. E fui praticamente criado por duas famílias: eles, e os meus pais, quando estes podiam. Foi lá que me caiu o primeiro dente, que brinquei, que fiz os meus melhores amigos, que construí as minhas primeiras memórias. Não o faço por mal, até porque isso é algo que não posso controlar, mas a maioria das minha memórias de infância são de lá. Depois ainda estive dois anos em Marinha Grande, Leiria. Aos 18 anos já tinha portanto vivido em seis casas diferentes! Depois fui para França, e enquanto lá estive decidi viajar. Estive em 17 países e isso foi algo preponderante na minha “Intro-Missão”. Só isso daria para escrever um livro… Entretanto, e apesar de ter procurado no mundo todo, foi em Portugal que acabei por encontrar a mulher da minha vida, numas férias de Verão. Ela acabou por decidir largar tudo e ir ter comigo a França, quando não tinha lá ninguém a não ser eu. Foi a maior prova de amor de que alguma vez ouvi falar. E a verdade é que isso fez com que nos conhecêssemos muito bem numa fase precoce da relação, e as dificuldades uniram-nos. Hoje, tenho um casamento muito feliz, e acredito que a nossa história ainda agora começou.

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