Um milhão e 500 mil pessoas no Parque Tejo para participar da vigília com o Papa

Peregrinos antes da vigília da juventude para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Parque Tejo em Lisboa, Portugal, 05 de agosto de 2023, um dos principais eventos da Igreja que reúne o Papa com jovens do mundo todo. MIGUEL A. LOPES/LUSA/POOL

Mundo Lusíada com Lusa

Cerca de um milhão e meio de pessoas estiveram neste sábado no Parque Tejo, em Lisboa, para a vigília com o Papa Francisco, que preside à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), anunciou a sala de imprensa da Santa Sé.

“As autoridades locais informaram que estão presentes no Parque Tejo cerca de um milhão e 500 mil pessoas para a vigília”, divulgou a Santa Sé. A JMJ, o maior evento da Igreja Católica, começou na terça-feira e termina no domingo. Pela primeira vez realiza-se na capital portuguesa.

O Papa Francisco chegou de papamóvel pouco antes 20:30 ao Parque Tejo, onde foi recebido com saudações e acenos pelos milhares de pessoas que o aguardavam no recinto há já várias horas.

O líder da Igreja Católica chegou ao recinto de 10 hectares, com o Tejo como pano de fundo, para a celebração da vigília, um dos momentos mais aguardados da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Francisco percorreu uma parte do recinto sempre a ser saudado pelos peregrinos tendo chegado ao altar-palco às 20:40 ao som do hino da jornada “Há pressa no ar”.

O hino foi cantado e tocado pelo coro e a orquestra da JMJ 2023, que tem 210 cantores e 100 músicos de todas as dioceses portuguesas e é dirigido pela maestrina Joana Carneiro.

Pouco depois de o Papa se sentar, dois caças da Força Aérea sobrevoaram o recinto. Além da multidão no recinto, havia também pessoas que se encontravam nas imediações nos topos de prédios.

Momentos antes da chegada do Papa, a organização pediu aos peregrinos, através dos microfones, para se colocarem nos seus setores para o receberem.

“Esta é a juventude do Papa” e “Papa Francisco” eram as frases mais ouvidas nos minutos que antecederam a chegada do líder da Igreja Católico ao Parque Tejo.

Levanta-te

Nesta noite, o Papa disse que a alegria é missionária, é para os outros, e que a única situação em que é lícito olhar de cima para baixo para uma pessoa é para a ajudar a levantar-se.

“A alegria é missionária. Não é só para mim, é para levar aos outros”, afirmou Francisco, na vigília, perante um milhão e meio de pessoas.

Na sua intervenção na vigília, em que voltou a improvisar e a falar em espanhol, o Papa alertou que “a única situação em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para ajudá-la a levantar-se”.

Num discurso em que interpelou várias vezes os jovens, arrancando-lhes respostas em uníssono, o Papa conseguiu mesmo, a seu pedido, uns minutos de silêncio.

Pedindo “um segundinho” de silêncio aos presentes para olharem para trás e verem o que já receberam, lembrou que houve pessoas que “foram um raio de luz”, dos pais aos avós, dos catequistas a religiosos, amigos a professores.

“Eles são as raízes da alegria”, apontou, destacando que essa alegria não é “do momento, passageira”, nem “está fechada na biblioteca, embora seja preciso estudar”.

Para o Papa, a alegria “não deve estar guardada à chave, tem de se procurar, de se descobrir”, de dar aos outros, instando os jovens a serem também eles, “para os outros, raízes de alegria”.

Questionando os peregrinos se já se cansaram alguma vez, Francisco reconheceu que quando tal sucede não há “vontade de fazer nada”. “Não temos vontade de continuar e abandonamo-nos, deixamos de caminhar e caímos”, continuou.

O líder da Igreja Católica perguntou depois aos presentes se, quando uma pessoa cai na vida ou tem um fracasso, isso significa que já deixou de existir, arrancando um forte “não!”.

Perguntando-lhes o que é preciso fazer, respondeu com eles: “Levantar-se”.

Depois citou os alpinos, segundo os quais o que importa não é evitar cair, mas sim não permanecer caído, frisando que quem permanece caído “reformou-se da vida, fechou a esperança e fica lá, caído no chão”.

Francisco questionou depois o que fazer quando se está perante um amigo caído, respondendo “levantá-lo”.

“Quando temos de levantar ou ajudar uma pessoa a levantar-se, olhamos de cima para baixo. O único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para ajudá-la a levantar-se”, destacou, criticando quem olha “por cima do ombro, de cima para baixo”.

“É este o caminho. A constância de caminhar. E na vida, para alcançar as coisas, temos de treinar”, adiantou, admitindo que por vezes não há vontade de caminhar ou de fazer esforços.

Estabelecendo um paralelismo com o futebol, Francisco, que gosta da modalidade, notou que por detrás de um golo “há muito treino, por detrás do êxito há muito treino”.

“Na vida nem sempre podemos fazer aquilo que queremos”, disse, para salientar, de novo: “Mas se cairmos, levantamo-nos”.

E isto “aprende-se com os pais, os avós, os amigos, quando vamos de mãos dadas”, adiantou, acrescentando que “na vida nada é grátis, tudo tem de ser pago”.

“Só uma coisa é gratuita, o amor de Jesus”, salientou.

No final, o Papa retomou o tema da JMJ – “Maria levantou-se e partiu apressadamente”, inspirada no Evangelho de São Lucas, quando Maria soube que Isabel estava grávida e foi ajudar a sua prima, para dizer: “Com vontade de caminhar, caminhemos em esperança, olhemos para as nossas raízes e vamos para a frente. Sem medo. Não tenham medo”.

Moçambique

Os testemunhos de uma jovem moçambicana, vítima da guerra em Cabo Delgado, e de um padre português que descobriu a vocação após um acidente grave marcaram hoje a Vigília da JMJ.

Maria Luís, de 18 anos, contou como a sua vida e a da família se transformaram “com os ataques terroristas” em Cabo Delgado nos últimos dois anos.

“Em nenhum momento perdemos a nossa fé”, disse, depois de explicar que todos foram obrigados a “fugir para o mato”, a caminhar “sem saber o que fazer”, “sem comida nem água”.

Maria Luís testemunhou que ela e a família têm “sido acolhidos nas paróquias” onde foram morar, mas sentem muitas saudades da aldeia, dos “costumes, cantos e danças”.

“Mas no meio de todo o sofrimento nunca perdemos a fé a esperança de que um dia vamos reconstruir de novo a nossa vida”, afirmou, perante um milhão e meio de peregrinos espalhados pelo recinto.

O objetivo da Vigília, segundo a organização da JMJ, é aprofundar em cada um o desejo de continuar a louvar a Deus e a servir os outros, no regresso a casa, depois de uma semana de partilhas naquele que é considerado o maior evento da Igreja Católica.

O servir a Deus e aos outros foi o que o padre António Ribeiro de Matos, de 33 anos, percebeu ser a sua missão depois de um acidente de carro, em 2011, que o deixou gravemente ferido.

“Percebi que se a minha peregrinação na Terra tivesse terminado naquele momento, a minha vida não tinha valido a pena”, disse.

António Ribeiro de Matos afirmou que foi ordenado padre em 2021 “para procurar levar aos outros a alegria de encontrar Cristo, de ser encontrado por Ele”.

A sessão dividiu-se em duas partes: a primeira mais performativa e a segunda dedicada à adoração do Santíssimo. Jovens agradeceram a vida, a família e amigos, mas também pediram “pelos povos em guerra” e “por escolhas certas”.

Os abandonados, os que não encontram sentido para as suas vidas e pensam em suicídios, os refugiados, as prostitutas e os toxicodependentes foram referenciados.

Durante a Vigília, o coro Mãos que Cantam, composto por seis pessoas surdas dirigidas pelo maestro Sérgio Peixoto, interpretou coreograficamente as músicas em língua gestual portuguesa.

O elenco do Ensemble23, composto por 50 jovens de 50 nacionalidades, e o coro e a orquestra da JMJ 2023, com 210 cantores e 100 músicos das dioceses portuguesas, sob a batuta da maestrina Joana Carneiro, marcaram também esta sessão.

Entre as peças musicais da vigília ouviu-se “Et Misericórdia”, de Kim André Arnesen, “Ave verum”, de Eurico Carrapatoso, e “Estrela”, da fadista Carminho e interpretada pela própria.

Nos telões gigantes espalhados pelo recinto surgiu a frase “Estou a falar contigo”, em várias línguas, e no céu um conjunto de drones escreveu, também em várias línguas, expressões como “Levanta-te” e “Segue-me”.

Após terminar a Vigília, o Papa abandonou o recinto. Esta sessão antecedeu a missa final da JMJ, no domingo, às 09:00, após a qual Francisco anunciará a cidade que acolherá a próxima jornada.

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